Neto Brito é acusado de dar calote em funcionários e usar familiares como “laranjas”

Ex-funcionários do empresário Neto Brito, ex-proprietário da casa noturna Tardezinha – que fechou as portas em março de 2024, o denunciam por falta de pagamento de salários e de direitos trabalhistas, além de, supostamente, utilizar nomes de familiares para tentar escapar de acordos e cobranças judiciais já determinadas pelo Ministério Público do Trabalho. Os entrevistados pela reportagem trabalharam para Neto nas empresas Tardezinha, Salu, Quintal dos Brothers e Paradiso Golden, que apesar de estarem em nome de terceiros, pertenceria ao empresário.


Luiz Felipe de Almeida, ex-funcionário do grupo Tardezinha desde 2018, diz que prestou serviço sem carteira assinada até 2022 e após a contratação na CLT trabalhou até agosto de 2023, mas saiu pela falta de pagamento de salários e de direitos trabalhistas. “Eu resolvi sair por conta de vários meses de salário atrasado, não tinha sido depositado FGTS e nem recolhido INSS. Entrei com ação de rescisão indireta, onde tivemos audiência e acabei entrando em acordo para recebimento de imediato, foi onde aumentou o problema”, conta.


Documentos mostrados por Luiz Felipe dão conta de que o valor da causa na justiça foi fixada em R$ 249.081,30, mas na ânsia de ser reparado, um acordo foi feito estabelecendo pouco mais de R$ 20 mil para a quitação da questão em 6 parcelas de R$ 3.333,34. Apenas duas parcelas foram pagas, mesmo assim, com atraso. “O processo já vai fazer dois anos que tramita. O Neto vendeu o Tardezinha, que estava com nome de Paradiso, onde foi retirado o nome dele de sócio e colocado a sua atual esposa, Larissa. Eles agora venderam a empresa e os utensílios. Assim, Neto Brito fraudou a venda de sua empresa usando de laranjas como sua esposa e filho para assumirem os nomes como responsáveis”, afirmou.


Edryelle Silva, também ex-funcionária do Tardezinha, disse que passou 3 anos e 8 meses na empresa. Contratada como recreadora, ela disse ter ficado na função por 1 ano, passando depois por outros papéis que variavam entre serviço de buffet até a limpeza. “Me demitiram por mensagem de WhatsApp, perguntando se eu poderia fazer meu exame demissional. Fiz o exame e simplesmente ficaram me enrolando para pagar a rescisão, cobrei por mensagem ou indo lá sem ser atendida. Quando ameacei colocar o caso na justiça me pagaram R$ 4 mil parcelados em 4 vezes, mas quando a Caixa liberou para sacar meu FGTS tinha R$ 216 reais. Acionei a justiça, negociei pra encerrar o caso, mas na data de receber não me pagaram e até agora não tive nenhuma resposta”, disse.


Outra ex-funcionária do Tardezinha, Joelma Leite, conta que trabalhou 5 anos como garçonete e acumulou duas férias. Demitida informalmente, ela está sem poder ter a carteira assinada em outro local porque o antigo empregador sequer deu baixa em sua Carteira de Trabalho. “Entrei com advogado pedindo a rescisão indireta. Ganhei a causa em R$ 237 mil, porém não tem nada no nome dele, agora meu advogado entrou com o pedido para dar entrada no seguro desemprego”, disse.


Jonas Queiroz, também ex-funcionário de Neto Brito, diz que para os funcionários a sensação é de que o empresário tenha arquitetado o não pagamento dos valores devidos, e inclusive, a ação de parcelar os acordos, numa tentativa de dar mais morosidade aos processos. “Não era surpresa porque ele já vinha se arrumando para deixar o Acre e hoje nos vem à tona que ele foi embora deixando dívidas tanto trabalhistas como em lojas distribuidoras e até em cantores da cidade”, denuncia.


“Entrava 9 horas da manhã e uma hora da manhã ainda estava lá para ajudar a limpar, para a pessoa fazer isso, ir embora do estado sem dar nenhuma satisfação nem para funcionário, nem para justiça. Ele preferiu pegar tudo que tinha na casa dele, tudo que tinha no Quintal dos Brothers, botar em dois caminhões baú grande e ir embora para um outro estado, começar uma nova vida, começar tudo novo, porque o dinheiro no bolso ele está tendo, ele só não está tendo para pagar os funcionários. Ele poderia ter pelo menos tido a noção e a decência de fazer esses pagamentos”, desabafou Jonas.


A advogada de alguns dos ex-funcionários de Neto Brito, Luana Pessôa, afirmou categoricamente que o descumprimento em série de decisões judiciais, inclusive anteriores a estes casos, demonstra um modus operandi de desrespeito à justiça e a quem Brito empregava, e alegou ainda que o empresário utilizou de membros da família como laranja para tentar ocultar-se de responsabilidades.


“O Neto tem o hábito de não cumprir com as leis trabalhistas. Ele coloca todos os empreendimentos dele em nome de terceiros, de laranjas, como era a Larissa, o Marcelo dos Santos Barros (amigo) e o filho de Brito, Pedro Vinícius, que tem em seu nome o Quintal dos Brothers. Por essa razão a gente vem lutando nesse processo ainda para executar e receber estes valores pendentes. Fizemos um pedido de bloqueio dos valores que seriam pagos para o Neto [através de Larissa, pela venda do Paradiso Golden a um terceiro], mas descobrimos que o contrato foi feito em nome da Larissa. Os empreendimentos estavam em nome dela e a gente vem buscando que ela seja também inserida, porque ela é laranja e agora é casada com ele”, disparou.


O termo “laranja” é usado para designar uma pessoa que empresta o seu nome, documentos ou conta bancária para realizar transações financeiras fraudulentas.


Ainda segundo a advogada, Neto Brito tem a seu favor a morosidade da Justiça do Trabalho. “É muito difícil mesmo trabalhar numa ação contra um empresário que faz de tudo para burlar a norma e principalmente os direitos dos empregados. São vários funcionários que ele tinha que nem vão atrás porque sabem que é ‘perda de tempo’. É processo de 2023 que normalmente na justiça do trabalho a gente consegue resolver em seis meses, no máximo um ano, mas que se arrasta para ser resolvido porque ele tem dificultado”, concluiu a advogada.


O ac24horas teve acesso ao contrato de compra e venda dos utensílios de bar, nome fantasia e uso da marca Paradiso Golden. Nele figura como vendedora Larissa das Chagas Rodrigues (esposa de Neto Brito). O valor do contrato é de R$ 1.100.000,00 (um milhão e cem mil reais) a serem pagos com veículos e cheques. O comprador é o empresário Adriano Freitas, que segundo os entrevistados não dá indícios de estar envolvido em qualquer ilegalidade e provavelmente sequer tinha ciência dos débitos da empresa.


Para a reportagem, Adriano Freitas confirmou que fez a negociação do Paradiso Golden com Neto Brito e acertou com ele todos os aspectos do contrato. “Eu aluguei o prédio, comprei os equipamentos [que estão no contrato], mas não temos mais nada [nenhuma relação], está tudo quitado. Ouvi esse negócio de que ele devia, mas da minha parte não tenho envolvimento. Eu comprei do Neto, a Larissa é esposa dele, mas como o negócio era sobre equipamentos nem quis questionar. No fim não vamos usar nada porque a identidade visual não é a que queremos”, explicou, dizendo ainda que sequer tem o contato de telefone de Larissa, porque toda negociação foi feita com o seu marido.


A reportagem tentou contato com Neto Brito por telefone e por rede social, mas ele não retornou o contato. O ac24horas ainda tentou comunicação com Larissa das Chagas Rodrigues por meio de rede social, mas ela também não retornou. Após algumas horas da abordagem, os perfis do casal foram excluídos das redes.


A reportagem também tentou contato com a advogada Ariadna Melo, representante legal de Neto em processos ao qual o ac24horas teve acesso, mas ela não atendeu o telefone nem respondeu às mensagens. Não foi possível localizar Marcelo dos Santos Barros e Pedro Vinícius. O espaço permanece aberto a todos os envolvidos.


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