Passava apenas um pouco das 22h de quarta-feira (15) quando Esciene Coelho da Silva, de 43 anos, catadora de lixo e moradora do bairro Floresta, em Rio Branco, se colocava em perigo para passar a noite numa rede em frente à USF (Unidade de Saúde da Família) Gentil Perdomo da Rocha, bairro Esperança, na tentativa de garantir uma vaga para atendimento médico na quinta-feira (16).
A mulher, que busca a renovação de uma receita para medicamento ansiolítico e antidepressivo, disse ter dificuldade para conseguir atendimento nas unidades básicas da região.
“Vou passar a noite aqui porque quando dá de manhã, não consigo, aí vim para cá e espero ser atendida. O outro posto alagou, depois ficou em reforma, então venho para cá, mas aqui atende primeiro só as prioridades, então chegando na madrugada eu espero ser a primeira das chamadas comuns a ser atendida”, disse ela.
A fala de Escilene é corroborada pela quantidade de informações da direção dispostas no portão da unidade. Em um papel, por exemplo, é avisado que do dia 13 a 24 de janeiro a unidade só atenderá 16 pacientes por dia, com uma observação: “segunda, quarta e sexta não temos médico no período da tarde”. Em outro aviso, a direção informa que a sala de curativos só funciona pela manhã, enquanto a sala de medicação só funciona à tarde.
Outro papel informa que não é permitido aos pacientes marcar dois atendimentos ao mesmo tempo, ou seja, ou uma pessoa marca atendimento com dentista ou com um médico. Na prática, este último aviso não faz sentido, já que a menos de um metro dele um outro papel avisa que a unidade está sem atendimento odontológico.
“Eu tenho muito medo, eu fico orando bastante para poder vencer a noite, mas a necessidade faz com que eu venha”, lamenta Escilene.
A Unidade de Saúde da Família Gentil Perdomo da Rocha foi reinaugurada no dia 18 de outubro de 2022 após investimentos da prefeitura de Rio Branco na ordem de R$ 180 mil reais. Na época, à imprensa, o prefeito Tião Bocalom – que foi reeleito em 2024 – disse que a reforma era sinal de que a gestão provia a melhoria das condições de trabalho dos funcionários da saúde, e prometeu a intensificação do trabalho na criação de um ambiente saudável.
Também no evento de reabertura da unidade, a então secretária de saúde do município, Sheila Andrade, afirmou que por causa do reajuste do PCCR (Plano de Cargos Carreiras e Remuneração) não é mais aceitável que as unidades façam atendimento limitado por ficha, pedindo, inclusive, para que vereadores e a comunidade fizessem denúncias caso isso ocorresse. “Esse atendimento por fichas não é mais para estar acontecendo. Nós, servidores dos municípios, precisamos cumprir carga horária e não número de fichas. A gente pede para que a população denuncie, os vereadores denunciem, mas pedimos que a denúncia seja completa, nos trazendo qual a unidade para tomarmos providências”, explicou Sheila.