Uma negociação criminosa, envolvendo um suposto pagamento de R$ 3 milhões para o assassinato de um empresário, foi registrada em áudio pela própria vítima, Vinícius Lopes Gritzbach, sem o conhecimento dos envolvidos na conversa. A reportagem do UOL revelou detalhes do caso, que aponta a participação de um policial e de integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC) no plano contra a vida de Vinícius.
O áudio, que serve como prova em uma investigação policial, foi gravado por Vinícius enquanto o policial mantinha a conversa no viva-voz. Na gravação, que capta diálogos e expressões em tom de ameaça, a negociação gira em torno do valor oferecido pelo assassinato do delator. Durante o telefonema, o suposto criminoso pergunta ao policial se “três está bom”, referindo-se ao montante que seria pago pelo assassinato. “O número se referia ao pagamento de R$ 3 milhões pela morte dele”, afirmaram pessoas próximas ao empresário, destacando o entendimento de Vinícius sobre o contexto do diálogo.
O teor das mensagens é explícito e ameaçador. Ainda no viva-voz, o criminoso indaga o policial sobre as facilidades de concretizar o plano, perguntando se o empresário “está fácil de resolver ou se está complicado” e se o “passarinho” (Vinícius) “estava voando” (saindo de casa). O policial responde afirmativamente, indicando que Vinícius se deslocava com seguranças. Pouco depois, a conversa é encerrada.
No final da ligação, o policial diz a Vinícius, “você escutou, você é meu irmão”, deixando claro o tom de preocupação e alertando o empresário sobre os riscos iminentes. “Por que esse cara está fazendo isso aí?”, questiona o policial, acrescentando em tom de ameaça: “Nós vamos pegar esse cara e dar umas pauladas nele.” Ele orienta ainda que o empresário “faça a linha de defesa dele de maneira certa”, referindo-se à sua estratégia em um processo judicial que enfrenta.
Vinícius é réu em um caso de duplo homicídio que remonta ao final de 2021. Ele responde na Justiça pela morte de Anselmo Becheli Santa Fausta, conhecido como “Cara Preta”, e de Antônio Corona Neto, apelidado de “Sem Sangue”, ambos integrantes do crime organizado. As vítimas foram executadas a tiros no bairro do Tatuapé, na zona leste de São Paulo, em 27 de dezembro de 2021. A brutalidade do episódio se intensificou com o assassinato de Noé Alves Schaum, o homem acusado de ser o executor do crime, que, semanas depois, em 16 de janeiro de 2022, foi decapitado na mesma região.
A gravação feita pelo empresário agora compõe o acervo de evidências na investigação, expondo um suposto esquema de chantagem e vingança que envolve o PCC e evidencia a complexidade da trama.