As inundações que mataram mais de 150 pessoas na Espanha foram causadas por um sistema climático destrutivo conhecido localmente DANA, uma sigla em espanhol para Depressão Isolada de Alta Altitude.
Com este fenômeno, o ar frio e quente se encontram e produzem poderosas nuvens de chuva, um padrão que cientistas acreditam estar se tornando mais frequente devido às mudanças climáticas.
Ao contrário de tempestades ou rajadas comuns, o DANA pode se formar independentemente de correntes polares ou subtropicais.
Quando o ar frio se estende sobre as águas quentes do Mediterrâneo, ele faz com que o ar mais quente suba rapidamente e forme nuvens densas e carregadas de água, que podem permanecer sobre a mesma área por muitas horas, aumentando seu potencial destrutivo.
O evento às vezes provoca grandes tempestades de granizo e tornados, como foi registrado nesta semana, dizem os meteorologistas.
O leste e o sul da Espanha são particularmente suscetíveis ao fenômeno devido à sua posição entre o Oceano Atlântico e o Mar Mediterrâneo. Massas de ar quente e úmido e frentes frias se encontram em uma região onde as montanhas favorecem a formação de nuvens de tempestade e chuvas.
“Gota fria” x DANA
Antes do termo DANA ser cunhado, no início dos anos 2000, qualquer chuva forte no outono, uma característica do clima mediterrâneo, costumava ser conhecida pelo nome popular de “gota fria” na Espanha e em partes da França. O termo ainda é amplamente usado coloquialmente.
Sua origem remonta a 1886, quando cientistas alemães introduziram a ideia de “kaltlufttropfen”, ou gota de ar frio, para descrever perturbações em grandes altitudes, mas sem reflexão aparente na superfície.
A agência meteorológica nacional da Espanha, Aemet, diz que o conceito de gota fria está desatualizado e define DANA como uma depressão fechada de alta altitude que se tornou isolada e separada de uma corrente de jato associada.
O órgão destaca que, às vezes, os DANAs ficam parados ou até mesmo se movem para trás, de leste para oeste.
Uma das maiores tempestades no século
A DANA que aconteceu nesta semana foi uma das três tempestades mais intensas do último século na região de Valência, afirmou Ruben del Campo, porta-voz da Aemet.
“As previsões estavam de acordo com o que aconteceu. Mas, em uma área entre Utiel e Chiva, na província de Valência, a precipitação excedeu 300 litros por metro quadrado”, destacou.
“Naquela área, os sistemas de tempestade se formaram e se regeneraram continuamente”, adicionou.
Influência das mudanças climáticas
Embora os especialistas digam que levará tempo para analisar todos os dados para determinar se a ocorrência do DANA foi causada pelas mudanças climáticas, a maioria concorda que o aumento na temperatura do Mediterrâneo e condições atmosféricas mais quentes e úmidas contribuem para produzir episódios extremos mais frequentes.
“Veremos mais dessas enchentes repentinas no futuro. Isso tem as impressões digitais das mudanças climáticas, essas chuvas terrivelmente pesadas e essas enchentes devastadoras”, pontuou Hannah Cloke, professora de hidrologia na Universidade de Reading.
Ela afirmou que mesmo alertas precoces de chuvas fortes com base em previsões confiáveis não foram suficientes para evitar as fatalidades e que as pessoas precisavam entender o perigo real das tempestades.
“Só dizer às pessoas que vai chover bastante não é bom o suficiente… pudemos ver que as pessoas estavam se colocando em risco dirigindo em águas de enchentes, e havia tanta água que inundou esses lugares”, comentou.