A Rússia agirá para conter a planejada implantação dos EUA de mísseis de longo alcance na Alemanha, disse o Kremlin nesta quinta-feira (11), ao considerar as ações da aliança militar da Otan como uma séria ameaça à segurança nacional da Rússia.
Os Estados Unidos e a Alemanha anunciaram durante a cúpula da Otan em Washington, na quarta-feira (10), que iriam começar a implantar capacidades de fogo de longo alcance na Alemanha em 2026 para demonstrar o seu compromisso com a Otan e a defesa europeia, numa altura em que a Rússia está em guerra na Ucrânia.
Eles disseram que os “envios episódicos” estavam em preparação para um estacionamento de longo prazo que incluiria SM-6, mísseis de cruzeiro Tomahawk e armas hipersônicas com um alcance maior do que as capacidades atuais na Europa.
A Otan também disse na quarta-feira que uma nova base de defesa aérea dos EUA no norte da Polônia, projetada para detectar e interceptar ataques de mísseis balísticos como parte de um escudo antimísseis mais amplo da Otan, estava pronta para a missão.
Questionado num briefing com agências de notícias russas sobre o resultado da cúpula da Otan, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse: “A aliança do Atlântico Norte confirmou mais uma vez muito claramente a sua essência. É uma aliança criada numa era de confronto com o objetivo de manter o confronto”.
“As tensões no continente europeu estão subindo” como resultado, acrescentou, dizendo que o Kremlin estava observando a aproximação da infraestrutura militar da Otan.
“Vemos as decisões tomadas na Otan para criar centros logísticos separados nas cidades do Mar Negro, a abertura de instalações adicionais na Europa, e vemos que, de fato, a infraestrutura militar da Otan está se movendo constante e gradualmente em direção às nossas fronteiras”, disse Peskov.
“Isto nos obriga a analisar muito profundamente as decisões tomadas nessa discussão. Esta é uma ameaça muito grave à segurança nacional do nosso país. Tudo isto exigirá que tomemos respostas ponderadas, coordenadas e eficazes para dissuadir a Otan, para neutralizar a Otan”.
Desde que o presidente Vladimir Putin enviou dezenas de milhares de soldados para a Ucrânia em fevereiro de 2022, Peskov descreveu o que Moscou chama de “operação militar especial” no país como um movimento que visa garantir a própria segurança da Rússia contra o Ocidente, classificando a política ucraniana como hostil e pró-Ocidente.
Kiev e o Ocidente rejeitam a caracterização do conflito feita pela Rússia, dizendo que Moscou está trava uma agressiva guerra de conquista de estilo colonial na Ucrânia, que se tornou independente quando a União Soviética dominada pela Rússia se desfez em 1991.
Rússia planeja resposta militar
O vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Ryabkov, disse que Moscou antecipou o movimento dos mísseis EUA-Alemanha, que ele retratou como sendo projetado para intimidar a Rússia e que desestabilizou ainda mais a segurança regional e as relações estratégicas.
“O trabalho necessário na preparação de contramedidas de equilíbrio pelas agências estatais russas relevantes foi iniciado com bastante antecedência e está sendo realizado de forma sistemática”, disse Ryabkov em comunicado no site de seu ministério.
“Sem nervosismo, sem emoções, desenvolveremos uma resposta militar, antes de tudo, a este novo jogo”, disse ele, segundo a agência de notícias Interfax.
No mês passado, Putin disse que a Rússia deveria retomar a produção de mísseis com capacidade nuclear intermediária e de curto alcance e depois considerar onde implantá-los, depois que os EUA trouxeram mísseis semelhantes para a Europa e à Ásia.
Ele já havia falado em concordar em não implantar tais mísseis no enclave russo de Kaliningrado, no Báltico, mas disse que os EUA retomaram sua produção, os trouxeram para a Dinamarca para exercícios e também os levaram para as Filipinas.
Mísseis terrestres com alcance superior a 500 km foram proibidos até 2019 sob o Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário (INF) assinado em 1987 por Mikhail Gorbachev da União Soviética e pelo então presidente dos EUA. Presidente Ronald Reagan.
Mas os Estados Unidos retiraram-se do Tratado INF em 2019, alegando que Moscou estava violando o acordo, algo que o Kremlin negou.