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‘Paciência está se esgotando’: EUA voltam a cobrar Venezuela por boletins de urna

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Protestos após reeleição de Maduro ser proclamada na Venezuela — Foto: Reuters/Samir Aponte

O governo dos Estados Unidos criticou novamente a falta de transparência no processo eleitoral da Venezuela nesta quarta-feira (31), além de cobrar a divulgação dos boletins de urna do Conselho Nacional Eleitoral que declarou a vitória do presidente Nicolás Maduro.


“A nossa paciência e a da comunidade internacional estão se esgotando enquanto aguardamos que as autoridades eleitorais venezuelanas se esclareçam e divulguem os dados detalhados sobre esta eleição”, disse o porta-voz do governo dos EUA para assuntos de segurança, John Kirby.


Kirby reforçou que o Centro Carter e observadores independentes divulgaram um relatório afirmando que “a eleição presidencial de 2024 na Venezuela não atendeu aos padrões internacionais de integridade eleitoral e não pode ser considerada democrática”.


O porta-voz dos EUA ainda declarou que tem “sérias preocupações sobre os relatos de vítimas, violência e prisões, incluindo os mandados de prisão que Nicolás Maduro e seus representantes emitiram hoje para líderes da oposição”. Ele também condenou a violência política e a repressão.


O Centro Carter e observadores independentes acompanharam a eleição de domingo (29), na qual o Conselho Nacional Eleitoral proclamou Maduro reeleito para um terceiro mandato.


“O Centro Carter não pode verificar ou corroborar os resultados da eleição declarados pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), e a falha da autoridade eleitoral em anunciar resultados desagregados por seção eleitoral constitui uma grave violação dos princípios eleitorais”, disse o centro, em comunicado, no final da noite de terça-feira (30).


 


Segundo o órgão, a Venezuela “violou inúmeras disposições de suas próprias leis nacionais”:


“A eleição ocorreu em um ambiente de liberdades restritas para atores políticos, organizações da sociedade civil e a mídia. Ao longo do processo eleitoral, o CNE demonstrou um claro viés em favor do titular”.


 


Ao todo, 17 observadores do Centro Carter acompanharam as eleições venezuelanas. O órgão já acompanhou 124 eleições em 43 países.


O Centro Carter também listou os seguintes problemas:


  • • registro de eleitores prejudicados por prazos curtos;
  • • requisitos excessivos, e alguns arbitrários, para cidadãos no exterior votarem, o que resultou em um número baixo de votantes fora da Venezuela;
  • • condições desiguais de competição entre Maduro e Edmundo González, da oposição;
  • • tentativas de restrição da campanha da oposição durante a corrida eleitoral;
  • • e falta de transparência do CNE no anúncio dos resultados

 


OEA também não reconheceu

 


Em relatório elaborado por observadores que acompanharam o pleito, realizado no domingo (28), a OEA diz haver indícios de que o governo Maduro distorceu o resultado.


Um dos principais indícios, segundo o documento, foi a demora na divulgação dos resultados, apesar de o país ter urnas eletrônicas. O texto afirma também ter havido relatos de “ilegalidades, vícios e más práticas”.


O relatório concluiu que o Centro Nacional Eleitoral (CNE), a principal autoridade eleitoral da Venezuela, comandada por um aliado do governo venezuelano, proclamou Maduro vencedor sem apresentar os dados para comprovar o resultado e afirmou que os únicos números divulgados em canais oficiais revelam “erros aritméticos”.


“Mais de seis horas após o encerramento da votação, o CNE fez um anúncio […] declarando vencedor o candidato oficial, sem fornecer detalhes das tabelas processadas, sem publicar a ata e fornecendo apenas as porcentagens agregadas de votos que as principais forças políticas teriam recebido”, diz o texto.


 


O relatório da OEA também afirmou que o regime venezuelano aplicou “seu esquema repressivo” para “distorcer completamente o resultado eleitoral”.


“Ao longo de todo este processo eleitoral assistimos à aplicação por parte do regime venezuelano do seu esquema repressivo complementado por ações destinadas a distorcer completamente o resultado eleitoral, colocando esse resultado à disposição das mais aberrantes manipulações”.


Divulgação incompleta de resultado

 


A Venezuela foi às urnas no domingo, e, na madrugada de segunda-feira, o CNE declarou Nicolás Maduro vencedor com 51,2% dos votos. O principal candidato da oposição, Edmundo González, ficou com 44% dos votos, ainda de acordo com a Justiça eleitoral do país.


No entanto, o resultado foi anunciado com 80% dos votos apurados, e as atas de votação – documentos que registram o número de votos e o resultado em cada local de votação – não foram divulgadas pelo CNE.


A oposição venezuelana contestou o resultado e acusou o CNE de fraude. Na noite de segunda, a oposicionista María Corina Machado afirmou ter tido acesso a 73% das atas, que, segundo ela, dão vitória a Edmundo González.


O grupo oposicionista abriu um site com as atas às que a oposição teve acesso para provar sua versão.


Uma contagem rápida independente à qual o Blog da Sandra Cohen teve acesso nesta terça-feira aponta vitória de González sobre Maduro por 66.2% a 31.2%.


Na segunda-feira (29), nove países da América Latina pediram uma reunião de emergência da OEA para discutir o resultado divulgado pelo CNE. O pedido foi feito por Argentina, Costa Rica, Equador, Guatemala, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana e Uruguai.


Em uma carta conjunta, os países “manifestam profunda preocupação com o desenvolvimento das eleições presidenciais” na Venezuela e exigem uma “revisão completa dos resultados com presença de observadores eleitorais independentes que assegurem o respeito à vontade do povo venezuelano que participou de forma massiva e pacífica”.


Nesta terça, Brasil, México e Colômbia devem divulgar uma declaração conjunta cobrando pela divulgação das atas eleitorais por parte do governo.


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