Após uma reunião com o presidente da Bolívia, Luis Arce, nesta terça-feira (9), em Santa Cruz de la Sierra, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) comparou a situação política dos dois países e afirmou que, assim como ocorreu no Brasil, as instituições bolivianas tiveram de enfrentar uma tentativa de golpe e garantir a preservação da democracia.
Lula citou a frustrada tentativa de golpe militar na Bolívia, em 26 de junho, quando setores das Forças Armadas bolivianas cercaram o palácio presidencial e tentaram depor o presidente Luis Arce.
O brasileiro comparou o episódio aos ataques violentos ao Palácio do Planalto, ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao Congresso Nacional, em Brasília (DF), no dia 8 de janeiro de 2023 – apenas uma semana depois da posse de Lula para seu terceiro mandato.
“As instituições bolivianas mostraram o seu valor frente uma grave ameaça. Minha vinda simboliza mais que a retomada de uma relação de amizade. Ela representa também a comunhão dos dois países, cuja trajetória tem importantes paralelos. Assim como no Brasil, a democracia boliviana prevaleceu”, disse Lula.
O presidente brasileiro afirmou, ainda, que ambos os países foram “tomados por uma onda de extremismo” que, no caso do Brasil, “desembocou no 8 de janeiro, na tentativa de golpe”.
“A Bolívia não pode voltar a cair nessa armadilha. Não podemos tolerar devaneios autoritários e golpismo. Em todo o mundo, a desunião das forças democráticas só tem servido à extrema-direita”, prosseguiu Lula.
Integração latino-americana
Em discurso, ao lado do presidente da Bolívia, Lula voltou a defender a integração dos países da América do Sul e da América Latina.
“Nós estamos convencidos de que a integração não é discurso em época eleitoral. É uma necessidade de sobrevivência dos países da América do Sul, do Brasil e da Bolívia. O que nós fizemos aqui tem como perspectiva melhorar a qualidade de vida do povo da Bolívia e do povo do Brasil”, afirmou.
“É preciso dar uma chance, no século XXI, para que o Brasil, a Bolívia e outros países da América do Sul deixem de ser tratados como países em vias de desenvolvimento ou como países de Terceiro Mundo”, continuou Lula. “Nós queremos abrir o nosso continente para o mundo e queremos participar do desenvolvimento.”
De acordo com o presidente da República, “não existe saída individual para nenhum país da América do Sul”.
“Ou nós nos juntamos, formamos um bloco, tomamos decisões conjuntas e as executamos, ou vamos continuar mais um século como países em desenvolvimento”, concluiu Lula.
Venezuela
Em seu pronunciamento, Lula defendeu o retorno da Venezuela ao Mercosul – bloco no qual a Bolívia acaba de ingressar – e disse que as eleições no país vizinho, marcadas para o fim de julho, precisam ocorrer de forma pacífica e democrática.
“A normalização da vida política venezuelana significa estabilidade para toda a América do Sul. Fazemos votos de que as eleições transcorram de maneira tranquila e que os resultados sejam aceitos por todos”, finalizou Lula, que historicamente é um aliado do ditador venezuelano, Nicolás Maduro.
Brasil-Bolívia
Durante a reunião entre Lula e Arce, foram assinados acordos para a promoção do comércio e investimentos, da integração física e energética e do combate ao narcotráfico e ao crime organizado.
De acordo com o Palácio do Planalto, também foram discutidos temas como saúde, migração e cooperação fronteiriça, além de questões da agenda regional e multilateral, com destaque para a entrada da Bolívia no Mercosul.
Estimativas indicam que cerca de 300 mil bolivianos vivam no Brasil atualmente, a maioria em São Paulo (SP). Por outro lado, há 60 mil brasileiros morando na Bolívia, principalmente estudantes universitários.
No ano passado, o comércio entre os dois países somou US$ 3,3 bilhões. As exportações brasileiras para a Bolívia totalizaram US$ 1,8 bilhão, sobretudo em produtos manufaturados, enquanto as importações foram de US$ 1,5 bilhão (86% correspondentes a gás natural, o principal item da pauta importadora).