No centro de Rio Branco, capital do Acre, sangra no Rio Acre, por um canal feito pelo governo na década de 80, um líquido escuro, fétido – uma mistura fezes, urina, e água de drenagem. Tudo isso encontra com canoas ancoradas num porto improvisado na região dos mercados municipais Elias Mansour e Aziz Abucater, ponto de desembarque e embarque de mercadoria e gente. É quase um tutorial de como destruir um rio, de onde depende o abastecimento de toda cidade.
O que sai ali vem de perto e de longe: o líquido pútrido vem de regiões altas e baixas ao longo do entorno dos 400 mil metros quadrados do Parque da Maternidade. Um projeto que já foi lindo, inteligente, e sobretudo mais utilizado, mas que segundo o jornalista e engenheiro civil Roberto Feres, em artigo publicado na A Gazeta, “custou escândalos nacionais, CPIs e a vida do governador Edmundo Pinto”.
O Serviço de Água e Esgoto de Rio Branco (SAERB) reconhece o problema e não sabe em quantos outros pontos da cidade o derramamento se repete. Antônio Eduardo é coordenação das equipes de serviços manutenção corretiva da malha viária da rede coletora de esgoto do SAERB, e explicou que as mudanças de gestão atrapalham o mapeamento da origem dos vazamentos.
“O sistema passou um pouco mais de dez anos com o estado, então é preciso um levantamento mais detalhado para precisar essa situação, até porque em dez anos muita coisa mudou na cidade”, disse ele.
De acordo com Eduardo, em decorrência da cobertura de atendimento do esgotamento sanitário da capital ainda não atingir 100% da demanda de coletas residenciais do perímetro urbano da cidade, um conjunto de fatores faz com que com que esgoto acabe sendo misturado com a rede de drenagem, que passa pelo Parque.
São alguns dos fatores:
1. Ausência da coleta;
Ligações clandestinas;
A não conclusão de obras do extinto “programa ruas do povo”, que contemplaria uma boa parcela da referida bacia hidrográfica, sendo este fator o mais importante.
O coordenador explicou ao ac24horas que nos últimos dias, membros do SAERB, Secretaria de Estado de Obras Públicas – SEOP e Serviço de Água e Esgoto do Estado do Acre – SANEACRE se reuniram com o objetivo de dar continuidade nessas obras como forma de melhorar a situação atual.
“Temos que entender que a parte central é contemplada com o sistema de coleta e tratamento de esgoto, porém alguns bairros afastados da área central, mas acima do leito desse curso de água ainda não e esse talvez seja o maior motivo para que ocorra essa situação de mistura de esgoto com água que corre no Parque da Maternidade, desaguando no leito do Rio Acre”, concluiu Eduardo.
O Rio Acre, que recebe essa e outras fontes de poluição, é o mesmo que tem sua água captada pelo SAERB para o abastecimento de toda a capital – embora essa captação ocorra mais acima.
A reportagem procurou a Secretaria de Meio Ambiente do Acre para falar sobre a questão da poluição contínua de esgoto que deságua no Rio Acre e quais as providências que estão sendo tomadas para que isso cesse, mas por meio de assessoria, o órgão informou que as demandas são de responsabilidade do SAERB.