A estudante de enfermagem Palu Vitória Maia, de 21 anos, denunciou à polícia o ex-marido, Luis Américo, por agredi-la com socos, chutes e coronhada. A briga ocorreu no último dia 2 em um condomínio de Rio Branco e acabou envolvendo o delegado da Polícia Federal, Fares Feghali.
O delegado é vizinho do ex-casal e teria tentado ajudar a estudante. Já Luis Américo alega que o Feghali sacou a arma para ele e acusa a ex-mulher de ter um caso com o delegado. Veja detalhes abaixo.
Segundo a vítima, as agressões iniciaram quando ela tentou retirar os pertences de dentro do apartamento e pediu auxílio ao delegado. Ela fez exame de corpo de delito e pediu medida protetiva contra o ex-companheiro. Os dois estavam juntos há quatro anos e, conforme Palu, o relacionamento era conturbado e ela descobriu várias traições de Luís enquanto os dois estavam juntos.
O delegado Fares Feghali negou qualquer envolvimento amoroso com a estudante. Em um comunicado enviado ao g1, ele argumenta que teve um revólver calibre 38 apontado em sua direção, conseguiu desarmar Luís Américo e os dois brigaram. (leia a íntegra no final do texto)
“Reafirmo que agi em perfeita obediência na lei e na tentativa de proteger uma vítima que poderia neste momento estar morta, que o material coletado e a medida protetiva em favor de Palu demonstram que o agressor poderia ter, efetivamente, assassinado sua ex-esposa, caso não tivesse sido contido por mim”, pontuou.
Estudante diz que descobriu traição no dia da briga
Ao g1, a estudante contou que descobriu mais uma traição de Luis Américo no dia 2 de abril e foi até a casa de uma tia pedir conselhos. Palu é natural de Brasiléia e veio para a capital após casar com Luis. Ela explicou que depende financeiramente do marido e que a tia é a única familiar em Rio Branco.
“Não tenho ninguém aqui, não tenho pra onde ir, sou totalmente dependente do Luis porque ele não queria que eu trabalhasse, só que eu ficasse em casa. Minha tia me aconselhou a ir em casa pegar uma roupa e voltar para a casa dela. Isso foi entre 20h30 e 21h e quando cheguei o Luis estava deitado, fui tomar banho e ele perguntou pra onde eu iria. Falei que ia pra minha tia e ele não acreditou e não queria que eu saísse”, relembrou.
Palu disse que contou para o ex-marido que tinha descoberto mais uma traição e ele negou novamente. Após uma discussão, a jovem disse que pegou apenas a bolsa e saiu chorando do apartamento para esperar a tia na portaria.
Na área externa do condomínio, a estudante conta que encontrou por acaso o delegado Fares Feghali e ele perguntou o que tinha acontecido. A jovem afirma que conhecia o delegado apenas da vizinhança e nega qualquer envolvimento amoroso com ele. “Relatei que tinha tentado sair de casa, mas meu marido não deixou e ele se ofereceu a ir em casa comigo pra eu tentar tirar pelo menos uma muda de roupa”, recordou.
Imagens do circuito interno do condomínio mostram o momento em que a jovem e o delegado se encontram na área externa, por volta das 21h40. Ela conta que estava nervosa e foi acalmada pelo delegado. Já por volta das 23h24, as imagens mostram Palu caminhando e o delegado logo atrás.
“Ficamos em torno de uma hora conversando, tentando que eu me acalmasse pois estava extremamente nervosa”, acrescentou.
Um vídeo encaminhado por Palu mostra que, enquanto ela estava com o delegado, por volta das 22h23, Luís foi até uma caminhonete estacionada, pegou algo e colocou dentro da bermuda. O vídeo não mostra exatamente o que é, mas segundo Palu, o ex-marido foi até o carro pegar um revólver, que foi usado para ameaçar ela e o delegado.
Agressões e arma apontada para delegado
Mais tranquila, ela conta que voltou em casa para tentar buscar algumas roupas. Foi nesse momento que houve a confusão entre o ex-marido e o delegado.
“Entrei no meu apartamento, pedi para que o Fares me esperasse na porta. Quando entrei, só escutei a confusão lá fora. Saí e o Luís estava apontando a arma para o Fares e o ameaçando. Me meti no meio dos dois e o Luís começou a me chamar de vagabunda, de dizer que eu estava traindo ele, que eu era uma puta e começou a me agredir”, afirmou.
A jovem explica que permitiu que o delegado a acompanhasse até em casa na esperança de que o ex-marido não fizesse nada com ela. “Ele já havia me ameaçado de morte por excesso de ciúmes. É extremamente ciumento. A arma que eu vi o Luís apontando para o delegado é dele. Não tem porte e nem posse. Luís colocou a arma na minha barriga e o Fares apontou a arma para ele, pediu pra me soltar. Luís disse que ia me matar e o Fares foi pra cima dele”, pontou.
Ainda segundo a estudante, o ex-marido a agrediu com uma coronhada na testa e com chutes e socos. “Estou toda roxa. Quando tudo terminou, o Luís saiu e foi diretamente para a casa da mãe dele, que mora no mesmo condomínio, o padrasto dele é advogado e foram direto pra Defla”, disse.
Palu Vitória também foi para Delegacia de Flagrantes e denunciou o ex com auxílio da tia. Ela alega que só conseguiu buscar os pertences com ajuda da polícia e no dia seguinte. “A família dele tomou posse do apartamento, pegaram a chave, me bloquearam no condomínio. A polícia que foi lá e retirou minhas coisas do apartamento”, lamentou.
Ex-marido alega traição
Luís Américo registrou um boletim de ocorrência contra o delegado Fares Feghali por ameaça e vias de fato. Ele alega que estava desconfiando que a ex-mulher o estava traindo e resolveu esperar ela voltar pra casa na escada do andar debaixo do apartamento do ex-casal.
Ainda segundo o relato, quando chegou no apartamento, Luís afirma que encontrou Fares na porta aguardando Palu e quando o viu o golpeou com uma coronhada na cabeça. Os dois entraram em luta corporal e, segundo o homem, o delegado foi desarmado. Luís diz que entregou a arma para o delegado, mas retirou a munição.
Ainda na versão de Luís, o delegado levou o telefone dele para sua casa após descobrir que a briga tinha sido filmada. O advogado dele, Cleiber Mendes, disse ao g1 que há imagens do circuito do condomínio que confirmam o envolvimento amoroso de Palu e o delegado a Polícia Federal. O vídeo citado pelo advogado mostra o instante em que Palu encontra com o delegado e o cumprimenta, porém não é possível ver a imagem completa.
Segundo Mendes, a jovem encontrou o delegado por volta das 21h40 e o cumprimentou com um beijo. Logo em seguida saiu para outra área acompanhada de Fares.
Outro vídeo enviado pela defesa mostra Luís se dirigindo a outro bloco do condomínio e logo depois aparecem Palu, com uma bolsa preta, e o delegado a acompanhando. É possível ver que o delegado tenta correr atrás de Luís, mas é impedido pela jovem. Para a defesa, o delegado tentou sacar a arma e atirar em Luís, que estava de costas.
Sobre o suposto revólver que Luís teria usado, o advogado afirma que o cliente não tem arma. E os machucados apresentados pela jovem seriam consequências dela tentar separar o ex-marido e o delegado na briga.
“Nunca agrediu a Palu e nem qualquer outra pessoa que manteve relacionamentos. E isso é provado no decorrer do processo. Quanto as lesões sofridas por ela, foram derivadas da tentativa de separar a briga entre o Luís e o delegado, destaca o advogado.
Veja a íntegra do comunicado do delegado
Sobre o caso ocorrido envolvendo as vítimas (Sra. Palu e este policial), em razão do caso estar sobre sigilo, não é possível a explicação pormenorizada do evento ocorrido na data dos fatos.
Inobstante isso, afirmo que toda a situação se iniciou na tentativa de auxiliar a Srta. Palu em um momento em que a mesma estava somente com a roupa do corpo e se sentindo ameaçada pelas constantes ligações da pessoa que, segundo ela, era seu ex-marido e apresentava um comportamento agressivo. Apesar disso, a vítima (Palu) se propunha a buscar as vestimentas sozinha, o que representava um risco à incolumidade dela.
Desta forma, chegando no apartamento de Palu e em respeito à propriedade em que haviam residido Palu e o agressor, decidi aguardar do lado de fora do apartamento em que se buscava as roupas, pensando também em não chatear o morador (ex-marido de Palu) a ponto de gerar desentendimento, estando atento, todavia, para eventuais brigas e/ou agressões que pudessem ocorrer e que necessitassem do pedido de ajuda de Palu.
Após a entrada de Palu no imóvel , percebi um vulto descendo a escada e, no momento em que me virei na direção da sombra, me deparei com um sujeito que me apontava no rosto um revolver calibre 38.
Por treinamento em artes marciais, consegui tirar a arma de meu rosto, impedindo-lhe de atirar, em uma situação trágica que desembocou numa violenta luta de nós dois, até que, após a caída da minha arma e do agressor no chão, por receio de que mais pessoas viessem auxiliar o agressor e que a filha deste ou Palu fossem atingidas em uma possível troca de tiros, decidi que a retirada do local era questão de vida ou morte.
Assim, orientei Palu a se retirar, enquanto vigiava o agressor para que o mesmo não tentasse qualquer reação perigosa, inclusive procurar a arma que lhe pertencia e que havia se perdido quando da queda durante a briga, sendo importante frisar que se tratava de ambiente de baixa luminosidade e que haviam civis (Palu e a filha do agressor), numa situação que poderia ser trágicas para as pessoas inocentes.
É preciso ressaltar que a saída emergencial do local dos fatos se deu, dentre outros motivos, por não se encontrar a arma do sujeito, o que aumentava os riscos das vítimas, caso o armamento fosse encontrado pelo agressor ou por outra pessoa que lhe prestasse apoio.
Ao chegar em meu apartamento e, tendo salvo Palu da situação, esta afirmou que a arma do agressor era ilegal, momento em que solicitei apoio policial para contenção em flagrante do agressor por tentativa de homicídio e porte ilegal de armas, tendo lhe encaminhado para a instituição policial competente.
No mais, reafirmo que agi em perfeita obediência da lei e na tentativa de proteger uma vítima que poderia neste momento estar morta, que o material coletado e a medida protetiva em favor de Palu demonstram que o agressor poderia ter, efetivamente, assassinado sua ex-esposa, caso não tivesse sido contido por mim.
No que se refere à repercussão do caso ante o mentiroso depoimento do agressor, todo o material comprobatório de minha versão e de Palu, material esse que inclusive já circula nas redes sociais (imagens, áudios, conversas de WhatsApp e laudos periciais que demonstram que o agressor estava armado, que agrediu Palu com a coronha da arma e ameaçou minha vida com ela) demonstram que talvez o covarde e sorrateiro agressor tivesse cerceado a vida de sua ex-esposa, não fosse a minha presença na ocasião.
Fonte: G1 Acre