A Polícia Civil do Rio de Janeiro prendeu, na noite dessa quinta-feira (11/4), dois suspeitos de negociar as 21 armas furtadas do Arsenal de Guerra de São Paulo, em Barueri, na região metropolitana, em setembro do ano passado.
Jesser Marques Fidelix, conhecido como Jessé, de 31 anos, e Márcio André Geber Boaventura Júnior, de 24, foram presos em um condomínio de luxo em Santana de Parnaíba, na Grande São Paulo, durante o cumprimento de nove mandados de busca e apreensão em endereços no Rio de Janeiro e em São Paulo.
De acordo com investigações da polícia do Rio, Jessé é fornecedor de armas e drogas de organizações criminosas fluminenses. Natural do Espírito Santo, ele tem imóveis no Rio e em São Paulo, além de uma distribuidora de bebidas na capital fluminense.
Segundo o delegado Pedro Cassundé, as investigações sobre os presos começaram a partir de um vídeo que circulou na internet. “Identificou-se, através das declarações de um colaborador, que esses dois indivíduos estariam negociando para empregar essas armas de fogo na guerra na zona oeste [do Rio], entre o Comando Vermelho e a milícia, na região da Gardênia Azul e Cidade de Deus, afirmou o delegado à TV Globo.
De acordo com a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP), as informações sobre o caso serão passadas exclusivamente pela Polícia Civil do Rio de Janeiro — que não retornou ao contato do Metrópoles.
Negociador de armas
Jessé é apontado pelas investigações como o usuário do carro em que foram encontradas duas metralhadoras .50 do Exército. O veículo com as armas, incluindo um fuzil 7.62 cuja origem ainda é desconhecida, estava estacionado, aparentemente abandonado, na Avenida Lúcio Costa, na Praia da Reserva, zona oeste do Rio. Os investigadores dizem ter chegado até o carro após monitorar e seguir os passos do condutor.
Segundo a Polícia Civil do Rio de Janeiro, Jessé seria fornecedor de armas e drogas de organizações criminosas fluminenses. O criminoso teria endereços em São Paulo e no Rio, além de uma distribuidora de bebidas na capital fluminense.
Também conhecido como Capixaba, ele seria o responsável, de acordo com as investigações, por levar o armamento de guerra do Exército de São Paulo para o Rio. O comércio de bebidas de sua propriedade, assim como outros negócios atribuídos a ele, seria usado para a lavagem de dinheiro de transações criminosas.
As investigações apontam que Jesser e um comparsa, morto em uma suposta execução praticada por traficantes, estiveram em várias comunidades do Rio tentando vender o armamento.
A morte do homem ligado a Jesser teria acontecido entre os dias 10 — quando o extravio foi notado pelas Forças Armadas — e 19 de outubro — data em que a Polícia Civil do Rio encontrou as primeiras oito metralhadoras do Exército em um carro na entrada da Gardênia Azul, comunidade recentemente tirada das mãos da milícia pelo Comando Vermelho (CV).
Réus e outras prisões
Em fevereiro, a Justiça Militar tornou réus oito pessoas por envolvimento no furto de 21 metralhadoras do Arsenal de Guerra de São Paulo — entre elas, o ex-diretor da unidade, tenente-coronel Rivelino Barata de Sousa Batista. Foram aceitas denúncias contra quatro militares e quatro civis.
As denúncias separam os réus que tiveram participação direta daqueles com atuação indireta no crime. Entre os diretamente envolvidos estão os cabos Vagner da Silva Tandu, de 23 anos, e Felipe Ferreira Barbosa, que são amigos. Os dois tiveram a prisão decretada e estão presos em um batalhão do Exército em Osasco.
A Justiça considerou que o tenente-coronel Batista e um primeiro-tenente tiveram participação indireta, por inobservância de lei, regulamento ou instrução. Quatro civis foram denunciados por receptação — pelo menos um deles é ligado ao Comando Vermelho (CV) e atuou no sentido de oferecer o armamento à facção criminosa.
De acordo com as investigações, o desvio do armamento de guerra ocorreu entre os dias 5 e 8 de setembro, mas só foi percebido mais de um mês depois, no dia 10 de outubro, durante uma inspeção no quartel.
A partir daí, o inquérito policial militar foi aberto. Três dias depois, o caso veio a público em reportagem do Metrópoles e ganhou repercussão nacional. Até hoje, duas metralhadoras antiaéreas ainda não foram recuperadas.
Militares envolvidos
Desde o início das investigações, o Exército admitiu a possibilidade de envolvimento de militares no caso. Eles teriam atuado no sentido de facilitar a retirada das armas do quartel. Foram 13 metralhadoras calibre .50, que podem derrubar aeronaves, e oito calibre 7.62, que perfuram veículos blindados.
O inquérito apontou que Vagner Tandu, que era motorista do coronel Batista, então comandante do Arsenal, tirou o armamento do quartel na caminhonete do oficial. Ele teve a ajuda do cabo Felipe Barbosa, que teria apoiado a desligar as câmeras, desativar alarmes e romper o lacre do depósito em que estava o armamento.
Depois que as armas foram retiradas, Felipe Costa teria restabelecido o sistema de segurança e colocado um novo lacre na porta do depósito.
As armas, então, teriam sido negociadas com o CV por meio dos quatro civis denunciados. A facção criminosa, no entanto, não se interessou pelas metralhadoras.
Duas armas desaparecidas
Até o momento, 19 metralhadoras foram recuperadas – dez no Rio (em ocorrências diferentes na comunidade Gardênia Azul e na Praia da Reserva, ambas na zona oeste da cidade) e nove em São Roque, no interior paulista. As duas armas que ainda não encontradas são as de calibre .50.
O escândalo provocou a troca no comando do Arsenal. O tenente-coronel Batista, agora denunciado, foi exonerado em novembro do cargo de diretor e passou a cumprir funções burocráticas na 2ª Região Militar, na sede do Comando Militar do Sudeste, em São Paulo.