A mãe da adolescente, de 12 anos, xingada de “macaca”, “cabelo de bombril” e “capacete de astronauta” disse à reportagem que as agressões ocorrem há dois anos na escola municipal onde ela estuda, localizada em Novo Horizonte, interior de São Paulo.
No dia 11 de março, um boletim de ocorrência foi registrado por preconceito de raça ou cor. A reportagem conversou com a mãe, que não vai ser identificada para preservar a segurança da garota.
Ao g1, a mulher disse que começou a perceber uma mudança de comportamento da filha, que possui a pele negra e os cabelos trançados, desde que ela começou a estudar na escola municipal, onde teria sido ofendida pelos alunos.
“Eu converso bastante com ela, explico que ela não é inferior a ninguém, que ela é linda, mas, infelizmente, é algo que está trazendo consequências para a vida dela. Eu fazia trança no cabelo dela, eles falavam que aquilo era cocô”, lamenta a mãe.
A mãe também disse que, em ocasiões anteriores, foi até a unidade de ensino para protocolar as reclamações, bem como na Secretaria Municipal de Educação. Contudo, conforme ela, não foram tomadas as medidas cabíveis que visam coibir o comportamento racista.
“Pedi socorro na escola, pedi reunião com os pais dos outros alunos, protocolei na Secretaria de Educação. Mas eles são omissos ao racismo que está acontecendo. Me sinto arrasada, impotente”, afirmou a mãe.
Dos cinco alunos envolvidos no caso, quatro que são da mesma sala que a menina trocaram de sala após a determinação de manterem afastamento de 100 metros da vítima por meio de medida protetiva concedida pela Justiça (entenda abaixo).
Em nota, a escola Hebe de Almeida Leite Cardoso negou que se trate de um caso de racismo e disse que está apurando, com documentos e testemunhas, o ocorrido.
Na delegacia, a menina prestou depoimento e confirmou que não é a primeira vez que é agredida verbalmente pelos alunos devido à cor da pele. A Polícia Civil da cidade também investiga o caso.
Terra no uniforme
Além das ofensas, a mãe da vítima disse à reportagem que cinco estudantes, sendo quatro da mesma sala que a filha, empurraram, pisotearam e jogaram terra com fezes de gato e água no uniforme da menina. A escola, por sua vez, afirmou que se tratava de uma brincadeira de crianças.
À TV TEM, a mãe de uma das estudantes suspeitas da agressão disse que a filha jogou terra e água no uniforme com a autorização da garota, para comemorar o aniversário dela, celebrado no dia 11 de fevereiro.
“Minha filha falou para mim que foi uma brincadeira de criança, que, inclusive, no dia 7 de março, fizeram a mesma coisa com ela. Não teve racismo. Inclusive, ela falou para mim: ‘como eu posso ser racista, se eu sou mais negra que ela?'”, comentou a mãe.
Duas mães de alunos que participaram da suposta agressão registraram boletins de ocorrência contra a mãe da vítima por calúnia e difamação.
Medida protetiva
Segundo a advogada da família, Kelly Ranolfi, apesar de a menina continuar frequentando a escola, os cinco estudantes estão proibidos de se aproximar e devem ficar a 100 metros de distância dela.
“Esses 100 metros, dentro da escola, às vezes não é possível cumprir por eles estarem no mesmo ambiente. Mas precisa da supervisão da unidade para que não aconteça de novo. Agora, fora da escola, caso eles descumpram, os agressores são enviados para a Fundação Casa”, explicou a advogada.
Kelly afirmou que, em casos parecidos, em que a vítima está sendo ameaçada tanto fisicamente, psicologicamente ou verbalmente, cabe pedir a medida protetiva no momento do registro do boletim de ocorrência.
“Não tem como ela estar em um lugar onde os agressores poderiam chegar perto e ela sofrer novamente. É um perigo eminente e há o risco de eles a agredirem de novo”, afirmou a advogada.