Matheus Jeferson Fonte de Souza, de 26 anos, contou à mãe que ao perceber que a aeronave em que viajava com a esposa iria cair, abriu a porta do veículo e pulou. Ele é um dos sobreviventes da queda de um avião em Manoel Urbano, no interior do Acre, no dia 18 de março, e está internado no Centro de Tratamento de Queimados (CTQ), em Manaus desde o último dia 25.
Em entrevista ao g1, Francisca Raimunda de Fonte, mãe do jovem, contou sobre a conversa que teve com o filho. “Ele é acostumado a fazer academia, era soldado do quartel, tem boa estrutura. Quando ele viu que o avião ia caindo, quando ele viu que ia cair mesmo, ele disse que estava bem pertinho da porta, aí ele abriu a porta e aí ele pulou. Ele luxou a clavícula nesse momento”, diz.
👉 Contexto: Sete pessoas estavam a bordo da aeronave que caiu após decolar, incluindo o piloto, sendo quatro homens e três mulheres, que estavam seguindo para a cidade de Santa Rosa do Purus, distante 150 km do município de onde decolaram. Sidney Estuardo Hoyle Vega, comerciante peruano, morreu no acidente. Nove dias depois, Suanne Camelo morreu em Manaus (AM).
A mãe de Matheus narra que na conversa o filho, ele disse que o avião incendiou assim que atingiu o solo. “Aí ele já viu o fogo e ele pulou dentro do fogo para tirar a mulher dele, por isso que ele se queimou, porque ele entrou pra pegar a mulher”, fala.
No primeiro momento, o jovem não tinha percebido a gravidade dos ferimentos da esposa, com quem ainda teria conseguido conversar. “Ela agradeceu muito ele. Na hora que ele tirou [Suanne do avião] viu que ela estava queimada, mas não percebeu que era muito, que fosse levar à morte dela”, conta Francisca.
Matheus contou ainda que ele e o outro sobrevivente, Bruno, que também conseguiu retirar a esposa, a biomédica Amélia Marques, teriam retornado à aeronave para retirar outros sobreviventes. “Aí ele disse que ainda tirou outra pessoa e ainda tentou tirar outro, que era o piloto do avião”, diz a mãe de Matheus.
Matheus disse para a mãe que ao perceber que o fogo estava queimando suas roupas, se jogou dentro de uma poça de lama para tentar apagar. De acordo com Francisca, o filho teve queimaduras em uma perna inteira, em um braço, na axila, rosto, barriga e costas.
Tratamento em Manaus
Matheus foi transferido no último dia 25 de março para o (CTQ), em Manaus, para receber assistência no tratamento das queimaduras sofridas no acidente. A família dele divulgou uma ação solidária para custear despesas dele e da mãe que o acompanha desde que ele foi transferido para o CTQ do Hospital e Pronto-Socorro 28 de Agosto em Manaus.
No CTQ, a cada três dias é feita a limpeza dos ferimentos de Matheus e colocadas novas bandagens para proteger as queimaduras.
Morte da esposa
A esposa de Matheus, Suanne Camelo, de 30 anos, que também estava no voo, morreu na noite de quarta (27) . Ela é a segunda vítima fatal da queda do avião. A jovem também havia sido transferida para o CTQ de Manaus no último sábado (23). Desde a queda, ela estava em unidades de terapia intensiva (UTI).
Sobre a morte da esposa, Francisca foi a encarregada de contar a notícia para Matheus. “Ele já sabe da morte dela, contei ontem [quarta-feira, 27]. Ele passou o dia chorando ontem e hoje pelo acontecido”, diz.
Os dois viviam em Santa Rosa do Purus e estavam voltando para casa quando sofreram o acidente.
Piora no quadro
Anteriormente, ao g1, a mãe de Mateus havia dito que o filho, que inicialmente teve o estado de saúde divulgado como estável, teve uma piora no quadro após realizar um procedimento de limpeza dos ferimentos e foi encaminhado à UTI.
“Eu achei que depois que fizeram aquela limpeza nele, eu achei que ele teve uma ‘piorazinha’, porque ele subiu pra UTI. A médica falou pra mim que ele veio pra UTI por causa dos ferimentos, pra não ficar em leito, ficar entrando muita gente. O tratamento dele é delicado, ela disse. Aí quando foi no outro dia, já me ligaram pra vir aqui pegar documentação para o TFD [Transferência para Fora de Domicílio]”, explica.
O g1 questionou o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) se as causas do acidente serão investigadas. Em nota, o órgão disse que os investigadores do Sétimo Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Seripa VII), órgão regional do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), foram acionados para realizar a ‘Ação Inicial da ocorrência’ envolvendo a aeronave.
“Na Ação Inicial são utilizadas técnicas específicas, conduzidas por pessoal qualificado e credenciado que realiza a coleta e a confirmação de dados, a preservação dos elementos da investigação, a verificação inicial de danos causados à aeronave, ou pela aeronave, e o levantamento de outras informações necessárias à investigação. A conclusão da investigação terá o menor prazo possível, dependendo sempre da complexidade da ocorrência e, ainda, da necessidade de descobrir os possíveis fatores contribuintes”, complementa a nota.
Qual era a situação do avião?
O avião Cessna Skylane 182 que caiu após decolar de Manoel Urbano, tinha capacidade para transportar no máximo quatro pessoas. Entretanto, seis passageiros e o piloto estavam dentro da aeronave no momento da queda. Além disso, o veículo, que seguia rumo a Santa Rosa do Purus, não tinha autorização para atuar como táxi aéreo.
O Registro Aeronáutico Brasileiro (RAB) da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) aponta que o avião registrado com o prefixo ‘PT-JUN’ tinha registro para serviço aéreo privado, mas não poderia ser utilizado como táxi aéreo já que estava com o Certificado de Verificação de Aeronavegabilidade (CVA) vencido desde o dia 1º de junho de 2019.
O serviço de táxi aéreo consiste em transportar passageiros a curta distância, como é o caso destas viagens intermunicipais. Desse modo, cada passageiro paga uma quantia pela passagem e, quando alcançar a quantidade máxima de pessoas na lotação, o voo sai rumo ao destino final. Como Santa Rosa do Purus é um dos municípios isolados do estado, os meios de acesso são apenas por barco ou avião.
Por G1 Acre