A dura declaração do ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, contra o governo de Israel foi calculada com o Palácio do Planalto. O discurso é uma reação às críticas que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem sofrido por comparar a ofensiva israelense na Faixa de Gaza com o holocausto.
O Planalto entendeu que era preciso endurecer a reação ao governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. Nesta terça-feira (20), Israel voltou a cobrar que Lula se desculpasse.
A estratégia, ao acusar Israel de divulgar fake news, tem dois objetivos. O primeiro é buscar uma blindagem internacional. O outro é criar um escudo para evitar desgaste interno diante da artilharia da oposição.
Inicialmente, a orientação era seguir o tratamento diplomático até a crise arrefecer nos próximos dias, mas as publicações israelenses ao longo do dia motivaram a mudança da estratégia brasileira.
Em tom de provocação, o ministro de Relações Exteriores israelense, Israel Katz, no X (antigo Twitter), escreveu em português a Lula às 11h12 (horário do Brasil): “Milhões de judeus em todo o mundo estão à espera do seu pedido de desculpas. Como ousa comparar Israel a Hitler? É necessário lembrar ao senhor o que Hitler fez?”, questionou.
Às 13h27, o canal oficial da chancelaria de Israel compartilhou uma bandeira do Brasil com a pergunta: “o que vem à sua cabeça quando pensa no Brasil?”. E acrescentou o seguinte comentário: “antes ou depois de Lula negar o Holocausto?”
A postagem foi a gota d’água. Em reunião no Palácio do Planalto, o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação (Secom) e o assessor internacional Celso Amorim decidiram reagir acusando o governo de Netanyahu de divulgar notícias falsas e de usar a questão com o Brasil para buscar apoio doméstico. O chanceler Mauro Vieira, que está no Rio de Janeiro para as reuniões do G-20, acompanhou o entendimento.
Coube ao ministro-chefe da Secom fazer a primeira reação em uma rede social, às 16h25. Pimenta escreveu que o chanceler israelense divulga “conteúdo falso” e disse que Netanyahu está “isolado”.
“O governo de Israel adota prática da extrema-direita e aposta em Fake News para tentar se reafirmar interna e internacionalmente”, complementou.
Já o posicionamento de Mauro Vieira foi feito em uma declaração a jornalistas após deixar a reunião do G-20 no Rio de Janeiro. O chanceler seguiu o ministro-chefe da Secom e disse que manifestações do governo de Israel sobre Lula são “inaceitáveis na forma” e “mentirosas no conteúdo”.
O ministro das Relações Exteriores disse ainda que o ataque do chanceler israelense a Lula “é uma vergonhosa página da história da diplomacia de Israel, com recurso a linguagem chula e irresponsável”.
“O povo israelense não merece essa desonestidade, que não está à altura da história de luta e de coragem do povo judeu. Em mais de 50 anos de carreira, nunca vi algo assim”, citou.
Diante da escalada da crise, integrantes do governo não veem, a um curto prazo, um fim para o imbróglio diplomático. É cada vez mais distante a possibilidade Lula admitir que fez uma comparação indevida entre a invasão de Gaza por Israel para revidar o ataque do Hamas ao genocídio dos judeus por Adolf Hitler.