Missão de pouso na Lua dos Estados Unidos é interrompida após perda de combustível

A Astrobotic Technology, empresa que desenvolveu o primeiro módulo lunar a ser lançado pelos Estados Unidos em cinco décadas, anunciou que está abandonando a tentativa de pousar sua espaçonave Peregrine na lua menos de 24 horas após o lançamento da nave. A partida do veículo aconteceu na madrugada da segunda-feira (8).


De acordo com a empresa, a espaçonave sofreu uma “perda crítica” de propelente devido a um vazamento de combustível.


Horas após o lançamento da Flórida em direção à lua na madrugada de segunda-feira, a Astrobotic anunciou que a missão estava em perigo. O módulo lunar, chamado Peregrine, não conseguiu se posicionar de frente para o sol, provavelmente devido a um problema de propulsão, o que impediu a recarga das baterias da espaçonave.


O problema da bateria foi posteriormente resolvido, mas a Astrobotic não conseguiu corrigir o aparente problema no sistema de propulsão do módulo Peregrine.


Em um comunicado na noite de segunda-feira, a empresa afirmou que um vazamento de combustível está causando problemas nos propulsores do sistema de controle de atitude do módulo Peregrine, que são projetados para alinhar precisamente o módulo espacial em forma de caixa de 1,8 metros enquanto está no espaço. Esses propulsores tiveram que “operar bem além de seus ciclos de vida esperados para evitar que o módulo entre em uma rotação incontrolável”.


A Astrobotic acrescentou que os propulsores provavelmente só poderiam operar por mais 40 horas no máximo.


“Neste momento, o objetivo é aproximar o Peregrine o máximo possível da distância lunar antes de perder a capacidade de manter sua posição de apontamento para o sol e, consequentemente, perder energia”, afirmou a empresa.


Isso significa que um possível pouso na lua, que estava previsto para 23 de fevereiro, está fora de cogitação.


A Astrobotic já havia alertado pouco depois das 15h (horário horário de Brasília) que uma “falha no sistema de propulsão” estava esgotando o combustível da espaçonave. No entanto, a empresa trabalhou por horas na segunda-feira (8) para tentar estabilizar o problema e avaliar as opções.


Em um momento da tarde de segunda-feira, a Astrobotic também compartilhou a primeira imagem do módulo Peregrine no espaço. A fotografia mostrou que as camadas externas de isolamento do veículo estavam amassadas.


O material distorcido foi “a primeira pista visual que se alinha com nossos dados de telemetria apontando para uma anomalia no sistema de propulsão”, disse a empresa em uma postagem na plataforma de mídia social X às 18h12 (horário de Brasília) de segunda-feira.


Desde o lançamento até a trajetória lunar, o módulo lunar, chamado Peregrine em homenagem à ave mais rápida do mundo, parecia ter uma primeira etapa totalmente bem-sucedida de sua viagem depois de decolar às 4h18 (horário de Brasília) no topo de um foguete Vulcan Centaur desenvolvido pela joint venture Lockheed Martin e Boeing chamada United Launch Alliance.


Foi o primeiro voo do foguete Vulcan Centaur, um novo veículo da ULA projetado para substituir sua antiga linha de foguetes.


A empresa confirmou pouco depois das 5h (horário de Brasília) que o Vulcan Centaur se comportou conforme o esperado, entregando o módulo lunar Peregrine em uma órbita de injeção translunar, de acordo com a ULA. Isso envolve uma queima de motor precisamente cronometrada que impulsionou o módulo Peregrine para uma órbita da Terra que deveria permitir que ele se sincronizasse com a lua a cerca de 384.400 quilômetros de distância.


O módulo Peregrine deveria então acionar seus próprios propulsores a bordo, usando até três manobras para determinar sua trajetória.


Em um comunicado, a Astrobotic afirmou que o Peregrine começou a se comunicar com sucesso com a Rede de Espaço Profundo da Nasa, ativou seus sistemas aviônicos e “os controladores térmicos, de propulsão e de energia, todos ligaram e funcionaram como esperado”.


“Após a ativação bem-sucedida dos sistemas de propulsão, o Peregrine entrou em um estado operacional seguro”, disse a empresa.


No entanto, foi após isso que o módulo Peregrine experimentou a “anomalia” que deixou a espaçonave apontada para longe do sol e incapaz de carregar sua bateria.


Os controladores de missão então “desenvolveram e executaram uma manobra improvisada para reposicionar os painéis solares em direção ao sol”, de acordo com a Astrobotic.


Eles alcançaram esse objetivo.


“A manobra improvisada da equipe foi bem-sucedida em reposicionar a matriz solar do Peregrine em direção ao sol. Agora estamos carregando a bateria”, disse a empresa em uma atualização postada às 14h34 (horário de Brasília).


No entanto, a Astrobotic afirmou que precisa corrigir o problema subjacente de propulsão. A espaçonave precisaria usar seus propulsores a bordo e ter combustível suficiente restante para realizar um pouso suave na lua.


Missão Peregrine

A Astrobotic Technology, sediada em Pittsburgh, desenvolveu o Peregrine sob um contrato de US$ 108 milhões (mais de R$ 520 milhões) com a Nasa. O veículo foi projetado desde o início para ser relativamente barato, visando atender à visão da Nasa de reduzir o custo de colocar um módulo lunar robótico na lua, convidando o setor privado a competir por tais contratos.


John Thornton, CEO da Astrobotic, disse à CNN em 2 de janeiro que via este primeiro lançamento como uma missão de teste.


“Isso é realmente como uma abordagem de 50-50, onde é mais sobre o sucesso da indústria, não sobre uma missão específica”, disse Thornton.


Joel Kearns, o vice-administrador associado de exploração na Diretoria de Missões Científicas da Nasa, emitiu um comunicado na segunda-feira, dizendo: “Cada sucesso e contratempo são oportunidades para aprender e crescer. Usaremos essa lição para impulsionar nossos esforços para avançar na ciência, exploração e desenvolvimento comercial da Lua.”


Thornton, que anteriormente disse que esta missão Peregrine custou à Astrobotic mais dinheiro do que ganhou, também comentou à CNN o que significaria para a empresa se esta missão falhasse.


“Certamente terá algum impacto em nossos relacionamentos e em nossa capacidade de garantir missões adicionais no futuro”, disse Thornton. “Certamente não seria o fim dos negócios, mas certamente seria desafiador.”


Abandonar a tentativa de pouso lunar marca uma grande perda não apenas para a Astrobotic, mas também para a Nasa e outros países e instituições com cargas a bordo do módulo Peregrine.


A empresa não será capaz de testar uma manobra de pouso, que – em tentativas de pouso lunar anteriores feitas por vários países e empresas – tem se mostrado uma etapa extremamente difícil na jornada.


A bordo do veículo Peregrine estão cinco instrumentos científicos da Nasa e 15 outras cargas úteis de várias organizações e países. As cargas úteis comerciais no módulo incluem lembranças e até restos mortais humanos que os clientes pagaram para enviar para a superfície lunar.


Compartilhar

Facebook
Twitter
WhatsApp
LinkedIn

Últimas Notícias