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Brasil, EUA e Argentina divulgam inflação de 2023 nesta quinta (11); veja o que esperar

A segunda semana do ano foi movimentada na economia, com investidores e especialistas aguardando o fechamento da inflação de 2023 em diversos países.


Nesta quinta-feira (11), Brasil, Estados Unidos e Argentina divulgam seus índices de preços ao consumidor referentes ao mês de dezembro.


“A inflação de dezembro deve vir no máximo em torno de 0,5%. Não deve ser acima disso, garantindo que a gente tenha essa inflação entre 4,4% e 4,5% no acumulado em 12 meses, portanto dentro do intervalo de tolerância da meta”, afirma o economista André Braz, coordenador de índices de preços da Fundação Getúlio Vargas (FGV).


Portugal e China – que enfrenta uma deflação prejudicial para o movimento de sua economia – também estão na lista de países que divulgam dados de inflação nesta quinta-feira.


Confira a seguir a expectativa para os principais índices de inflação em 2023.


IPCA

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) deve fechar o ano dentro da meta de inflação do governo. O alvo é de 3,25%, com variação de 1,5 ponto porcentual, tendo piso de 1,75% e teto de 4,75%.


Tido como a prévia da inflação, o IPCA-15 subiu 0,4% em dezembro, fechando o ano em alta de 4,72%


Se atender as expectativas e fechar dentro da meta, essa vai ser a primeira vez desde 2020 que o índice fechou no limite de tolerância.


Para economistas consultados pela Reuters, o IPCA deve ter subido 0,48% em dezembro, em comparação com aumento de 0,28% em novembro. Ainda assim, a inflação em 12 meses é estimada em 4,54%, abaixo dos 4,68% de novembro.


Já o mercado tem uma perspectiva um pouco mais otimista. Após começar 2023 vendo a alta dos preços em 5,28% no ano, a projeção passou para alta de 4,47%, de acordo com o boletim Focus desta segunda-feira (8), o último antes dos dados de inflação.


“Tudo vai depender da alimentação, que vai ser o fiel da balança de novo”, afirma André Braz.


Na avaliação do economista, a inflação ficou “bem comportada” em 2023 graças ao grupo Alimentação e bebidas. Apesar de ter puxado a alta de novembro, o grupo acumula uma queda de 0,08% nos 12 meses até a última divulgação.


Para Braz, o forte desempenho do agronegócio no ano justifica a queda dos preços.


“O clima teve uma participação importante nisso porque no ano passado houve uma supersafra, [que] não só melhorou os números do PIB como também diminuiu os números da inflação”, diz o economista.


“Se não fosse por isso, com certeza a gente teria uma inflação mais perto do limite de tolerância da meta ou até acima desse patamar”, conclui.


Entre os itens que ficaram mais baratos até o momento, o especialista destaca as carnes bovina e de aves.


Por outro lado, chama atenção do especialista a alta de preços da gasolina, transporte e saúde.


O impacto nos valores da energia veio principalmente da reoneração após isenções feitas pelo governo Bolsonaro ao longo da corrida eleitoral de 2022.


Em dezembro, após a divulgação do IPCA-15, o que preocupou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, foram os preços das passagens aéreas.


Apesar disso, as perspectivas ainda se mantêm boas. Além de Haddad, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, vê bons resultados ao longo do ano e acredita em uma “possibilidade grande” de a inflação fechar tanto 2023 como 2024 dentro da meta.


Perspectiva para 2024

O governo vê a inflação do país em alta de 3% este ano, com margem de 1,5 p.p.


André Braz também observa a inflação abaixo do teto da meta em 2024, com os preços subindo 4,2%. Além de altas em energia, saúde e educação, o especialista destaca que um dos principais “inimigos” da inflação deste ano pode vir de uma reviravolta, com o encarecimento dos alimentos.


“A grande ameaça agora para a inflação [de 2024] é o El Niño. O fenômeno já começou a manifestar os seus efeitos em 2023, mas afetou pouco a agricultura ano passado. A expectativa é que ele comprometa a safra de 2024, aí tudo aquilo que a gente viu de bom na parte de agricultura ano passado, a gente já não vai ver da mesma forma em 2024”, explica Braz.


Além de riscos externos para a economia brasileira, como as guerras na Ucrânia e em Israel, Braz reforça que ainda existem dificuldades em 2024.


“O cenário de 2024 é complexo porque começa com o risco do El Niño e o fiscal, porque o governo tem uma meta bem ambiciosa para cumprir (déficit zero). Se não cumprir, isso pode afetar a taxa de câmbio desvalorizando o real e [assim impactando] a inflação.”


Estados Unidos

Desde março de 2022, o Federal Reserve (Fed) aumentou as taxas de juros nos EUA 11 vezes, mantendo elas no patamar mais elevado em 22 anos desde julho de 2023, de 5,25% a 5,5%.


A estratégia faz parte de uma campanha do banco central norte-americano para controlar os níveis de inflação do país, que subiram na abertura pós-pandemia.


Após a inflação nos EUA começar a mostrar sinais de esfriamento em meados de 2023, o mercado vem alimentando apostas de cortes.


Segundo dados do Fed do estado de Cleveland, o Índice de Preços ao Consumidor dos EUA (CPI, na sigla em inglês) deve subir 0,3% em dezembro, que apesar de ser um patamar mais elevado que os vistos em outubro e novembro, deve consolidar o controle da inflação.


“Os Estados Unidos andam com uma inflação bem controlada. O Fed ainda mantém os juros mais elevados porque o mercado de trabalho americano está muito aquecido, [de modo que] a demanda está forte e não podendo haver uma negligência sobre a inflação”, avalia André Braz.


“Ele (o Fed) tem que consolidar essa desaceleração, acreditar que ela é um processo em construção e que ainda precisa de um juro um pouco mais alto para poder ser efetiva”, conclui.


Economistas ouvidos pela Reuters projetam a inflação anual nos EUA em 3,2% em dezembro, contra 3,1% no mês anterior; mas acham que o núcleo do CPI cairá a 3,8%, mínima desde meados de 2021.


“Enquanto a inflação brasileira dá sinais de que foi controlada, a inflação americana deve fechar o ano acima do teto definido pelo Fed, mas com uma clara trajetória de queda e controle”, avalia Felipe Vasconcellos, sócio da gestora Equus Capital.


Argentina

Do outro lado da fronteira, o risco de hiperinflação é alarmante.


Dois dias após a posse de Javier Milei, ministro da Economia da Argentina, Luis Caputo, anunciou uma desvalorização da moeda argentina que elevou a cotação do dólar de 1 para cerca de 366 pesos (R$ 4,96) a 1 para 800 pesos (cerca de R$ 10,80).


Desde então, os preços têm subido fortemente na Argentina.


Com isso, a inflação do país deve chegar a 28% em dezembro, encerrando o ano em 200%, de acordo com 20 analistas locais e estrangeiros ouvidos pela Reuters. Caso a previsão se concretize, a alta mensal seria a maior desde 1990.


Já o governo argentino vê a alta dos preços em 30% no mês. Para Milei, mesmo que essa realidade mais pessimista se concretize, isso seria uma “conquista fenomenal”.


“Se você observar como vinham os números da primeira e da segunda semanas de dezembro, que posicionavam a dinâmica inflacionária em 45% mensais, 30% [de inflação] significa que estamos fazendo um trabalho enorme”, disse em entrevista no domingo (7) à Rádio Mitre.


Para os especialistas consultados pela CNN, o cenário não deveria ser celebrado pelo governo.


“A inflação argentina segue desenfreada e será o grande desafio do novo governo em 2024”, avalia Vasconcellos.


André Braz reforça que a estratégia do governo argentino é ultrapassada e pode pesar para a população.


“Apostar que a Argentina vai ter um nível de inflação diferente é realmente muito pouco provável, eu acho que a Argentina vai ter sua crise agravada, e quem vai pagar a conta toda é a população, com desemprego alto, fome e baixa distribuição de renda.”


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