Vereador cita cura “na chibata” para autistas; comissão da OAB repudia declaração

Durante discurso feito na terça-feira (19) no plenário da Câmara Municipal de Jucás, no interior do Ceará, o vereador Eude Lucas (PDT), presidente da casa, declarou que na época de seus pais o tratamento para o autismo era à chibatada. O comentário repercutiu negativamente em pronunciamento postado em suas redes sociais.


Na fala, ele menciona dois instrumentos usados tradicionalmente em animais: a peia, uma corda que prende os pés dos animais; e a chibata, uma tira de couro comprida usada para golpear animais e que também foi usada como instrumento de tortura durante a escravidão.


“Eu assisti o Fantástico domingo, aí quando eu fui dormir pensando: ‘rapaz, eu acho que eu sou autista também’, pela declaração que os artistas, os autores estavam dando. Eu disse, acho que sou autista, mas meu pai tirava autismo na peia, no meu tempo tirava autismo na chibata, eu era um menino meio traquina”, afirmou Eude no plenário. Veja o vídeo abaixo:



O vereador afirmou, em suas redes sociais, que a fala foi tirada de contexto durante a sessão — que debateu um projeto de lei, de sua autoria, cujo objetivo é a criação da “carteira municipal de identificação do autista”. O político também declarou que a intenção do corte é de “denegrir” sua imagem e causar um alvoroço.


De acordo com Eude, a fala se referia ao tratamento dado a pessoas do espectro autista na época de seus pais e que hoje essa conduta não é mais normalizada, e terminou seu pronunciamento pedindo perdão a todos que se sentiram ofendidos pela sua fala.


Em resposta, o Presidente da Comissão Especial de Defesa dos Direitos da Pessoa com Autismo da OAB Nacional, Emerson Damasceno declarou que “o ordenamento jurídico brasileiro não comporta mais a discriminação de pessoas em função da sua deficiência, seja sob que subterfúgio for, mesmo tentando maquiar de alguma forma isso através da liberdade de expressão ou do ‘humor’”.


Em nota, divulgada nas redes sociais a Comissão de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência, da OAB-Subseção Iguatu, repudiou a ação do vereador e declarou que “não se pode aceitar que tenhamos de ouvir de um membro do Poder Legislativo, representante do povo de sua cidade, tamanho despautério, tratando a síndrome do espectro autismo como algo a ser resolvido com uma ‘chibata’”.


A Polícia Civil do Estado do Ceará (PC-CE) instaurou um inquérito policial para investigar a ocorrência de discriminação, por meio da Delegacia Municipal de Jucás.


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