A equipe do Profissão Repórter foi até a cidade de Corumbá (MS) para entender os desafios do poder público em combater casos de violência contra a mulher no estado com a maior taxa de feminicídio do país, com 3,5 casos a cada 100 mil, conforme o Monitor da Violência.
A cidade é tão grande em território, que ultrapassa o estado do Espírito Santo. Cerca de 75% da cidade fica na zona rural, longe de delegacias e de postos de Saúde.
Na comunidade ribeirinha de Porto Esperança, a pescadora Elisa da Silva relembra os 11 anos de violência doméstica sofridos dentro de casa. “Apanhava no mínimo três vezes por semana”, ela conta. “Até hoje, não consigo explicar porque eu me submetia a tanto”, completa.
“Às vezes ele começava a me espancar às 20h e ia até 3h. Isso quando não pegava aquele molho de anzol, jogava na minha perna e puxava. Eu me escondia debaixo dos barcos, com medo dele me achar e me matar”, relembra.
Sem delegacia por perto, muitas vezes Elisa pediu ajuda para a vizinha, Odila, que abrigava a amiga para fugir das agressões.
Histórico de violência
Elisa não é a primeira da família a sofrer violência doméstica, já que cresceu vendo a mãe apanhar do marido dentro de casa. Ainda criança, sofreu abuso sexual dos tios.
“Aos 12 anos me casei para fugir da violência e continuei apanhando. Cresci uma mulher sem experiência, ao léu, tendo um filho atrás do outro”, relata.
Mãe de nove filhos, Elisa afirma que, através de seu relato, espera que outras não passem pelo que ela passou.
“Usei minha experiência para ensinar minhas meninas a nunca aceitar qualquer tipo de agressão.”
Nova vida
Depois que se tratou de um câncer, há cinco anos, Elisa tem levado uma vida tranquila e mantém boa relação com o homem que lhe agredia no passado.
“Ele nunca mais vai encostar a mão em mim. Eu vou me defender da maneira que eu posso”, ressalta.