Daqui a três meses, o tenente-coronel Mauro César Barbosa Cid teria tudo para ser alçado ao posto de coronel. Tinha um bom currículo, experiência e comportamento exemplar, segundo os registros do Exército.
No entanto, prestes a completar 30 anos de caserna, incluindo o tempo de Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL) tem colecionado reveses que podem torná-lo um “morto ficto”, quando o militar deixa de existir para a corporação, como forma de punição, e os vencimentos são transferidos para a esposa.
VÍDEO – PF quer que Mauro Cid detalhe atuação do “gabinete do ódio”
Tudo isso tem motivo. Profissional sempre considerado “número 1 de turma” dos colégios militares que estudou até os cursos de formação a que passou dentro das Forças Armadas, Cid tinha todas as credenciais não apenas para chegar a coronel, como também de galgar postos de indicação política, como o de general. Pelo currículo, sempre foi dada como certa essa possibilidade.
Doutor em Ciências Militares pelo Instituto Meira Mattos, Mauro Cid também é especialista e mestre na área. Acumula experiências no exterior e possui cursos da elite militar, como o de Comandos e de Forças Especiais.
Não é à toa, que, no fim do ano passado, havia sido designado para comandar o 1° Batalhão de Operações Especiais, em Goiânia — a tropa mais bem preparada do país em defesa química, bacteriológica e nuclear, além de reunir paraquedistas e militares das chamadas operações psicológicas.
Tudo começou a dar errado assim que Bolsonaro deixou o poder e começaram a brotar as primeiras denúncias que atingiram diretamente o ex-ajudante de ordens. O que foi se agravando a cada dia.
- • Primeiro com o episódio da falsificação de cartões de vacina, que levou Mauro Cid à prisão no começo de maio.
- • Em seguida, a investigação sobre a entrada irregular no Brasil de joias recebidas pelo governo da Arábia Saudita. O material seria presidente para a primeira-dama Michelle Bolsonaro.
- • Logo depois, Cid se viu envolvido em um esquema golpista que visava atacar sistemas da Justiça e questionar a lisura do processo eleitoral. Denúncias feitas pelo Hacker Walter Delgatti Netto, que afirmou: Cid sabia dos planos e participou de reuniões sobre o tema no Palácio da Alvorada.
- • E, mais recente, outra situação envolvendo joias. A Polícia Federal descobriu que Cid tentou vender relógios e outros presentes recebidos por Bolsonaro. A ação contou com a participação de outros agentes, como o pai do militar, o general Mauro Lourena Cid, que também passou a ser investigados.
Na próxima semana, deve prestar um novo depoimento à Polícia Federal em decorrência de uma das investigações das quais é alvo.
No meio de tudo isso, ainda estão em andamento inquéritos que apuram suposta lavagem de dinheiro, movimentação de capitais no exterior e compra de imóveis. O fato é que a tão planejada carreira militar não deve seguir adiante.
Livre da prisão desde o último dia 10, aos 44 anos de idade, Mauro Cid foi afastado das funções no Exército, apesar de manter o salário se R$ 27 mil. Em casa, no Setor Militar Urbano (SMU), precisa cumprir restrições: apenas o pai, esposa e filhas podem estar com ele.
Até então, ele não foi visto no local. As filhas obtiveram, no Colégio Militar de Brasília (CMB), autorização para concluírem o semestre de casa.
Fora essa rotina, Cid precisou comparecer à Secretaria de Justiça e Cidadania para instalação de tornozeleira eletrônica, foi ao Instituto de Medicina Legal (IML) para exames e se apresentou à juíza da Vara de Execuções Penais.
Ponto de mudança em estratégia
Por outro lado, o pai de Mauro Cid, até então considerada a peça forte da família, tem buscado em colegas de turma a força seguir em frente. Pessoas próximas ouvidas pela CNN afirmaram que foi dele a estratégia de mudança de advogado, hoje Cezar Bitencourt, e a ideia de colaborar com as investigações.
De perfil sério, culto e com muita influência na Alto Comando do Exército, general Cid já não estaria suportando o nome da família e da instituição que serviu por mais de 40 anos seguindo para a vala.
Nesse contexto, todos devem tentar se preservar alegando que apenas cumpriram ordens. E vão justificar também a falta de conhecimento sobre os atos praticados.