Uma reunião ocorrida no gabinete do então ministro da Justiça, Anderson Torres, na noite do dia 19 de outubro, está sendo tratada pela Polícia Federal como o evento que prova que a “Operação Eleições 2022” foi uma decisão do governo de Jair Bolsonaro e não uma iniciativa isolada do diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal, Silvinei Vasques.
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Para os investigadores que trabalharam na operação da PF desencadeada hoje, destrinchar o que aconteceu nessa reunião é a próxima prioridade para envolver não só o ex-ministro da Justiça Anderson Torres como também o ex-presidente da República na coordenação e no planejamento dos bloqueios nas estradas que visavam atrapalhar a livre circulação de eleitores de Luiz Inácio Lula da Silva na região Nordeste, no dia do segundo turno.
Estiveram no encontro no Ministério da Justiça, além de Vasques e de seu diretor de inteligência, Luis Carlos Reischak, a diretora de inteligência do Ministério da Justiça, Marília Alencar, e integrantes da cúpula da própria Polícia Federal à época.
O objetivo do ministro era fazer com que todos os órgãos subordinados ao ministério, especialmente a PF, participassem dos bloqueios. Na época, ele justificava as operações dizendo que era necessário combater a compra de votos no segundo turno.
Para embasar a “Operação Eleições 2022”, Torres encomendou a Marilia um boletim de inteligência sobre os locais onde então adversário de Bolsonaro, Luiz Inácio Lula da Silva, tinha conseguido mais de 75% dos votos. Esse Boletim de Inteligência (BI) foi apresentado nessa reunião do Ministério da Justiça no dia 19.
As apreensões já realizadas em operações anteriores a respeito dos bloqueios nas estradas no dia das eleições trouxeram mensagens obtidas no celular de Marília e no do diretor de inteligência da PRF com relatos sobre a convocação de Torres e o horário da reunião.
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A equipe da coluna apurou ainda que a PF possui mais dados e até imagens que mostram quem estava na reunião com Torres e o que foi discutido.
Além do próprio Vasques, que já prestou depoimento sobre o caso no passado e vai depor à PF nesta quinta-feira, Marília Alencar também será ouvida na sexta para descrever a reunião.
Policiais Federais que estiveram no Ministério da Justiça naquele dia também serão convocados. Em seu primeiro depoimento, Vasques fez questão de dizer várias vezes que a operação nas estradas no dia do segundo turno era do Ministério da Justiça e não da PRF.
Outra evidência que está sendo considerada pela PF para envolver Torres e Bolsonaro no planejamento dos bloqueios nas estradas é uma viagem do ministro da Justiça à Bahia no dia 26 de outubro, detalhada pelo blog em abril passado.
O ministro viajou com o diretor-geral da PF, Márcio Nunes, e seu secretário-executivo, o brigadeiro Antonio Lorenzo. Na Bahia, ele se reuniu com o então superintendente local da PF, Leandro Almada, e seus dois assessores diretos, os delegados Flávio Marcio Albergaria Silva e Marcelo Werner Derschum Filho.
O objetivo era passar pessoalmente a ordem para que a Polícia Federal se engajasse na operação com equipes e trabalho de inteligência.
“A função de vocês aqui é tão estratégica que se eu pudesse trocaria de lugar com vocês”, disse ele ao grupo, segundo os relatos feitos pelos participantes da reunião à PF e ao Ministério da Justiça.
Ele afirmou que o ministério estava recebendo muitas denúncias de compras de voto por petistas no Nordeste.
Disse ainda que só isso explicava a grande diferença entre a votação de Lula e a de Bolsonaro no primeiro turno. Na Bahia, Lula tinha tido 5,8 milhões de votos (69,73%), contra 2 milhões (24,31%) do então presidente.
Segundo ele, as informações do setor de inteligência indicavam que os petistas pretendiam causar confusão no dia do segundo turno, e que por isso era preciso engajamento na operação para vistoriar todo mundo.