A família do paranaense Antônio Hashitani, que morreu bombardeado na Ucrânia na guerra contra a Rússia, acredita que o corpo dele ainda está no local do combate. Ele lutava no país desde abril deste ano.
A irmã de Antônio, Francielle Hashitani, contou que a família recebeu a informação sobre a posição do corpo por soldados brasileiros que também estão na região.
A última missão do jovem foi quarta-feira (2), perto da cidade de Bakhmut, a aproximadamente 600 quilômetros da capital Kiev. A região está sendo intensamente bombardeada pelas forças invasoras da Rússia.
Segundo Francielle, os soldados disseram que uma missão de resgate do corpo não foi autorizada por conta do risco no local.
A irmã também afirmou que, depois de receber a notícia de morte na segunda-feira (7) pela Embaixada, não foi mais procurada, nem tem informações precisas sobre um possível translado do corpo do jovem ao Brasil.
“Soldados me falaram que tinham voluntários para fazer esse resgate, mas isso tá bem confuso. Porque já é tudo muito difícil, agora a gente não sabe nem como que vai ser… O corpo eu já sei que é difícil demais de receber, mas tinham falado que seria possível cremarem e remeterem as cinzas pra família. É muito doloroso.”
Em nota, o Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty) afirmou que presta auxílio à família, e que não pode prestar informações sobre eventual translado do corpo por conta do direito à privacidade previsto na Lei de Acesso à Informação.
Como o jovem foi para a guerra
Antônio tinha 25 anos e era estudante de medicina. Ele trancou a matrícula no terceiro ano de faculdade.
Francielle lembrou que, após o início da guerra, o irmão demonstrou interesse no assunto, mas nunca deixou claro que gostaria de participar do combate.
Ela contou, também, que antes de ir para à Ucrânia, ele passou uma temporada, a partir de dezembro de 2022, na Tanzânia, onde fazia missão humanitária para ajudar crianças carentes. Um dos objetivos dele, conforme amigos, era construir uma escola na comunidade local.
“Ele simplesmente foi. Foi pra África e depois ele foi pra Ucrânia. Já comunicou quando estava lá e quando estava alistado no Exército.”
Antônio fazia parte da Legião Internacional, grupo de voluntários estrangeiros que o governo da Ucrânia criou para defender o território do país.
Nas redes sociais, amigos manifestaram dor, tristeza e admiração pelo jovem. Para a irmã, a lembrança que fica dele é a gentileza e a determinação.
“Ele era um menino de conversa fácil. Não tinha uma pessoa que eu conheço que não gostasse dele.”
Notícia da morte
A notícia da morte chegou por meio de um telefonema do Itamaraty, segundo Francielle. A família acredita, conforme relatos, que o jovem pode ter morrido entre 2 ou 3 de agosto.
O advogado Matheus David, natural de Araucária, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), atua como voluntário na Ucrânia.
Ele relatou que estava no mesmo batalhão de Antônio durante o ataque que tirou a vida do jovem.
“Três do grupo do Antônio decidiram que não iriam avançar, porque não tinham condições de avançar, estavam sendo constantemente bombardeados pela Rússia. E o Antônio se uniu a um outro grupo e eles foram até uma outra posição e ali eles foram bombardeados”, disse.
Brasileiros na guerra entre Ucrânia e Rússia
Bakhmut é palco de uma das frentes mais sangrenta do conflito. Diversos brasileiros se voluntariaram para lutar na guerra, em apoio à Ucrânia.
Adilson de Andrade é um deles. Ele afirmou que ficou sabendo da morte de Antônio Hashitani por um grupo do WhatsApp formado por soldados brasileiros.
“Infelizmente é uma má notícia. Já é o quarto brasileiro que é morto em combate. Todos os brasileiros aqui estão chocados. Todo mundo triste…Realmente, aqui, é muito perigoso. Todo dia tem mortes aqui de soldados ucranianos, voluntários e inimigos também”.
“As cidades estão destruídas. Por onde a gente passa, está tudo destruído. Com o pessoal do campo, a gente está na área rural, tudo destruído. As máquinas agrícolas destruídas, galpões destruídos, animais mortos”.