A Rússia pode ser forçada a usar armas nucleares se a contraofensiva da Ucrânia for bem-sucedida, disse o alto funcionário russo Dmitry Medvedev no domingo (31) – a mais recente de uma série de ameaças nucleares feitas pelo principal aliado do presidente Vladimir Putin em relação à guerra.
“Imaginem que a ofensiva… em conjunto com a Otan [Organização do Tratado do Atlântico Norte], deu certo e acabou com a retirada de parte do nosso território. Então teríamos que usar armas nucleares em virtude das estipulações do Decreto Presidencial Russo”, disse Medvedev, vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia, em uma postagem no Telegram.
“Simplesmente não haveria outra solução”, acrescentou o ex-presidente russo. “Nossos inimigos devem rezar a nossos combatentes para que não permitam que o mundo seja destruído por chamas nucleares.”
Medvedev, que foi presidente da Rússia de 2008 a 2012, adotou um tom belicoso durante a invasão de Moscou à Ucrânia, repetidamente levantando o espectro de um conflito nuclear.
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Em abril passado, ele alertou sobre a expansão nuclear russa caso a Suécia e a Finlândia se juntassem à Otan. A capital finlandesa Helsinque ingressou na aliança de defesa no final daquele mês, enquanto o caminho de Estocolmo para a adesão à Otan foi aberto no início deste mês, depois que a Turquia retirou suas objeções.
Em setembro, Medvedev disse que armas nucleares estratégicas poderiam ser usadas para defender territórios incorporados à Rússia da Ucrânia.
E em janeiro, enquanto os Estados membros da Otan debatiam novos envios de armas para a Ucrânia, Medvedev disse que a derrota da Rússia na guerra poderia levar a um conflito nuclear.
“A perda de uma potência nuclear em uma guerra convencional pode provocar a eclosão de uma guerra nuclear”, escreveu Medvedev no Telegram em janeiro. “As potências nucleares não perdem grandes conflitos dos quais depende seu destino.”
“Isso deveria ser óbvio para qualquer um. Mesmo para um político ocidental que reteve pelo menos algum traço de inteligência.”
Os comentários de Medvedev no domingo novamente levantam a possibilidade de que a Rússia poderia potencialmente perder a guerra após quase 18 meses de desgaste – uma admissão rara de um alto funcionário russo.
Eles também vieram poucas horas depois que o Ministério da Defesa da Rússia acusou Kiev de atacar Moscou com drones. Três drones foram interceptados no domingo, mas um empreendimento comercial no oeste da capital russa foi atingido, disse o ministério.
Retórica nuclear
Os Estados Unidos já alertaram a Rússia contra o uso de armas nucleares na Ucrânia, tanto por meio de comunicações diretas privadas quanto por canais públicos, inclusive na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) do ano passado.
No mês passado, Putin disse que a Rússia havia transferido um primeiro lote de armas nucleares táticas para Belarus, alegando que elas foram colocadas lá para “dissuasão”.
Falando no Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo, Putin disse que o restante das armas nucleares táticas que a Rússia pretende transferir para Belarus serão transferidas “até o final do verão ou até o final do ano”.
A Agência de Inteligência de Defesa dos Estados Unidos (DIA) disse que “não há razão para duvidar” da afirmação de Putin de que havia armas nucleares em Belarus.
Mas o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Matthew Miller, disse na época que os EUA “não viram nenhuma razão para ajustar sua própria postura nuclear, nem qualquer indicação de que a Rússia está se preparando para usar uma arma nuclear”.
O presidente belarusso, Alexander Lukashenko, disse no mês passado que, diante de uma agressão, ele não hesitaria em usar as armas nucleares táticas russas estacionadas em seu país.
Mas os altos funcionários do DIA disseram que não acreditam que Lukashenko tenha qualquer controle sobre o arsenal. Provavelmente seria totalmente controlado pela Rússia, disseram as autoridades.
A Rússia tem cerca de 4.477 ogivas nucleares implantadas e de reserva, incluindo cerca de 1.900 armas nucleares táticas, de acordo com a Federação de Cientistas Americanos.