Aliados de Jair Bolsonaro se valeram de um retrato do ex-presidente para manifestar apoio a ele após o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) torná-lo inelegível até 2030, na última sexta-feira. A foto mostra Bolsonaro sentado, sem camisa, exibindo a cicatriz deixada pela facada que levou no abdômen durante a campanha eleitoral de 2018 em Juiz de Fora (MG). O autor da fotografia, João Menna, de 30 anos, conta que o retrato estava pronto desde abril, mas que aguardava o momento certo para publicá-lo.
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Em entrevista ao GLOBO, Menna diz que chegou ao ex-presidente a partir do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Quem o contatou primeiro foi Heloisa Bolsonaro, mulher do parlamentar, ainda no ano passado, após conhecer seu trabalho pelas redes sociais. Eduardo pediu para fazer um reposicionamento de imagem, mas se disse incapaz de pagar o valor cheio cobrado pelo serviço. João Menna oferece consultorias a partir de R$ 135 mil, segundo ele para um seleto grupo que inclui médicos, advogados e arquitetos. “Todos top 1 de suas áreas”, conforme o fotógrafo.
— Eu disse que toparia fazer uma parceria com o Eduardo desde que ele conseguisse fazer com que eu retratasse o Jair Bolsonaro. Eu tinha a ideia dessa foto desde 2019. Queria colocar aquela imagem na história, fazer um retrato à sua altura. Contei ao Eduardo minha ideia, mas ele respondeu que não ia acontecer. O Bolsonaro é muito reservado, não é fácil ter esse tipo de acesso — relembra.
Menna diz que se encontrou com o ex-presidente em abril, em sua casa em Brasília. É lá onde Menna montou seu equipamento e produziu o retrato. No primeiro encontro, apenas conversaram:
— Ele foi muito tranquilo e simpático. Quando falei minha ideia, ele levantou a camisa para mostrar a cicatriz e ficou emocionado, lembrando-se da filha. Ele topou naquele momento, mas era uma terça-feira e a foto seria feita na sexta. Fiquei com a apreensão de que algo pudesse dar errado, mas foi tranquilo. Fiz aquela foto em três minutos. O ensaio completo levou 15 minutos.
Menna diz ter mais fotografias que pretende publicar do ex-presidente — para estas, Bolsonaro vestiu dois modelos diferentes de terno. Também o fotografou ao lado da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e fez registros dela sozinha. Com a inelegibilidade do marido, Michelle é tida como um dos possíveis nomes para ocupar a lacuna bolsonarista na próxima eleição presidencial, em 2026.
Futuro alvo: Trump
Gaúcho, Menna diz que começou a carreira no interior da Bahia, para onde se mudou aos 18 anos em um momento em que sua família enfrentava dificuldades financeiras. Fotografou casamentos, formaturas e festas de 15 anos até passar a mirar um público mais elitizado justamente ao ter contato com os pais dos participantes desses eventos.
Suas afinidades políticas começaram a aproximá-lo de expoentes da direita brasileira. Além dos Bolsonaros, Menna já fotografou o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), e uma série de comunicadores que dialogam com esse espectro político, como os jornalistas Augusto Nunes (da revista Oeste) e Paulo Figueiredo Filho (ex-Jovem Pan).
— Eu tendo mais ao conservadorismo, minhas opiniões batem bastante com a desse campo político. Conheci primeiro o pessoal do Brasil Paralelo, e aí uma coisa puxa a outra. Nunca fui pago por um político. Esse não é meu público-alvo — diz.
Apesar de sua simpatia pelo bolsonarismo, Menna diz que não se negaria a fazer um retrato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Perguntado se aceitaria ser para Bolsonaro o que o fotógrafo Ricardo Stuckert é para o petista, respondeu que não. Afirma que tem outros planos para a carreira:
— Não tenho tempo para isso. Tenho minha empresa, dou cursos. Quero mais personalidades públicas retratadas pelas minhas lentes, independentemente da minha posição política. Pretendo internacionalizar meu trabalho, quem sabe um dia retratar o Trump.
Menna conta que ganhou quase 15 mil novos seguidores desde sexta-feira e que suas publicações passaram de 100 mil visualizações. Apesar disso, afirma que só sete ou oito possíveis novos clientes sinalizaram o desejo de contratá-lo.
— Não fiz o retrato do Bolsonaro para monetizar. Aquilo terá um significado maior daqui a uns 40 anos, espero que entre para os livros de história. Não penso nisso agora.