O resgate de quatro crianças que estiveram perdidas por 40 dias na selva amazônica na Colômbia após queda de aeronave em março despertou o interesse de produtores de Hollywood, que pretendem extrair produções audiovisuais baseadas no acidente aéreo.
O jornal espanhol El País afirmou que produtores e agentes de vários estúdios internacionais se encontram em Bogotá para tentar um acordo com a família das vítimas resgatadas para que os responsáveis concedam permissão para transformar a história de Lesly, Solemni, Tien e Cristian em filme ou em uma série televisiva.
De acordo com o jornal, o principal interesse das produtoras é o testemunho de Lesly, de 13 anos, a responsável por manter com vida os irmãos ao longo de 40 dias na selva densa e perigosa. No total, 13 empresas estão na Colômbia para tentar comprar os direitos, entre elas Warner Bros, Netflix e NatGeo.
“Tornou-se uma guerra de licitações para ver quem paga mais. Todos estão com pressa para obter os direitos e poder vender a história exclusivamente às plataformas“, revela uma fonte próxima das negociações.
O jornal diz que os avós das crianças chegaram a ter em mãos um contrato com uma empresa americana, mas o rejeitaram porque incluía uma cláusula que dava à empresa os direitos perpétuos.
Diante disto, os advogados dos avós pediram às produtoras que façam ofertas que sejam compatíveis com a jurisdição indígena, assim como incluam benefícios para a comunidade de Araracuara, o povoado da Amazônia de onde vêm as crianças. Outro dos pedidos é que na equipe de direção do filme esteja presente um elemento de nacionalidade colombiano.
Segundo o jornal colombiano El Tiempo, a Netflix não confirma “nada sobre o assunto”. Também o canal colombiano Caracol está interessado em produzir uma série sobre o tema.
Séries começam a ser produzidas
Enquanto em Bogotá, agentes e produtores disputam a compra dos direitos, nos EUA uma equipe de investigação do TMZ já começou a emitir na Hulu e na Fox News a primeira temporada da série “O milagre das crianças da Amazônia”, um documentário baseado em testemunhos da família, dos militares e dos indígenas que participaram nas operações.
O presidente Gustavo Petro anunciou no Twitter que o documentarista Simon Chinn, vencedor de dois Oscars, vai ser o responsável pela produção do documentário “Operação Esperança”, e que irá incluir não só a história das crianças, mas também a dos militares e dos indígenas que participaram no resgate.
Reunido con el dos veces ganador del Oscar en documental @Simonlchinn y RTVC, se asocian para producir el documental "Operación Esperanza" @HOLLMANMORRIS@guillermogaldos pic.twitter.com/SnmoS1AEFE
— Gustavo Petro (@petrogustavo) June 22, 2023
No entanto, a Organização Nacional dos Povos Indígenas da Amazônia Colombiana não gostou da pressa do presidente colombiano, considerando que a “decisão sobre a produção foi tomada unilateralmente pelo governo nacional”, considerando que o Estado não pode tomar decisões sobre a realização de um documentário baseado nos familiares, na guarda indígena e nas organizações e comunidades.
“Manifestamos o nosso repúdio pelo anúncio desta produção documental, uma vez que a decisão sobre a sua produção é tomada unilateralmente pelo governo nacional, ignorando o fato de o trabalho de busca ter sido inicialmente realizado pelas equipes dos povos indígenas da zona e das suas famílias e, posteriormente, pelas forças militares”, escreveu a organização em comunicado, pedindo que não se avance com a produção enquanto não houver um espaço em que todas as organizações e pessoas envolvidas possam participar na decisão.
A custódia das crianças ainda está sendo decidida em tribunal, depois do avô materno das crianças ter acusado o pai e padrasto das crianças de violência doméstica e de tentativa de abuso da enteada de 13 anos, estando os quatro irmãos à guarda do Estado.