Nem metade dos médicos formados no exterior passou da primeira fase do Revalida, o exame necessário para validar o diploma no Brasil e poder exercer a profissão no país.
📋 Prova escrita: Desde 2011, quando passou ser aplicado pelo governo federal, dos 36.322 candidatos que fizeram a prova escrita pelo menos uma vez, 16.536 conseguiram passar para a segunda fase. Eles representam 45,5% do total.
🩺 Prova prática: Já na segunda etapa, que consiste em uma avaliação prática, a taxa de aprovação é maior: 80,5%. Dos 14.892 candidatos que fizeram essa fase, 11.988 foram aprovados.
Os dados do Inep sobre o Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos Expedidos por Instituição de Educação Superior Estrangeira foram obtidos pela produção da TV Globo via Lei de Acesso à Informação (LAI).
👉 Você sabia? Sem o Revalida, brasileiros ou estrangeiros graduados em medicina em outros países não podem solicitar o registro nos conselhos regionais de medicina. É o chamado “CRM” que autoriza o médico a trabalhar no país.
🎯 Primeira fase faz ‘peneira’ de candidatos
Segundo Milton de Arruda Martins, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e especialista em formação médica, a diferença entre as duas taxas reflete o objetivo proposto pelo Revalida.
O Revalida tem duas etapas: a primeira é uma prova escrita (com questões objetivas e discursivas); e a segunda, prática, para testar as habilidades clínicas do médico.
A fase prática é dividida por estações que simulam atendimentos no Sistema Único de Saúde (SUS) com a participação de atores. No total, são 10 estações, que abrangem cinco grandes áreas da medicina: clínica médica, medicina da família, pediatria, cirurgia e ginecologia e obstetrícia.
Em cada local, o médico tem 10 minutos para seguir uma lista de tarefas determinada e dar as respostas corretas sobre a saúde do “paciente”, indicando diagnóstico, tratamento e encaminhamento, por exemplo. A cada acerto, o médico ganha pontos, que são somados ao final.
Nessa etapa, o candidato não é avaliado no momento da prova: tudo é gravado em vídeo para posterior correção.
O Revalida foi criado há 12 anos para centralizar a validação de diplomas estrangeiros de medicina. Antes, isso era feito diretamente em universidades públicas brasileiras, mas cada uma adotava métodos próprios.
🎓 Brasileiros são dois terços dos participantes
De acordo com o Inep, médicos de 88 nacionalidades diferentes já participaram desde 2011, mas os brasileiros representam quase dois terços tanto dos que fizeram as provas quanto dos aprovados na primeira e na segunda fase.
Dos quase 12 mil que fizeram as duas fases e foram aprovados em ambas, 7.471 são brasileiros.
Outros 15.341 brasileiros fizeram pelo menos uma vez alguma das provas do Revalida (independentemente de terem passado ou não para a segunda fase), mas não conseguiram chegar até o final.
Considerando o total de participantes de alguma etapa do exame e o total de aprovados no fim das provas, a taxa de aprovação entre os brasileiros é de 33%.
A segunda nacionalidade com mais aprovados em quantidade absoluta é a cubana: 2.054 conseguiram passar no Revalida, e outros 3.118 fizeram alguma vez pelo menos uma das fases do exame e foram reprovados.
Compare, abaixo, a quantidade de candidatos do Revalida, segundo o país de nacionalidade e o resultado no exame:
📉 Preparação para o Revalida
Milton de Arruda Martins, professor da USP, ressalta que parte das instituições que têm recebido muitos brasileiros acabam oferecendo uma formação de baixa qualidade, o que explica a alta taxa de reprovação do Revalida.
Os candidatos, por sua vez, reclamam de injustiça nos exames, e acabam lançando mão de cursinhos preparatórios, alguns com preços de até R$ 5 mil por dois dias de aulas, para tentar a aprovação.
O site ainda permite que um candidato encontre outro, em tempo real, para se unirem e praticarem juntos, revezando os papéis e avaliando o desempenho de cada um.
“Se a pessoa não tem um parceiro a gente adiciona num grupo, e eles se organizam para treinar. A gente tem 1,4 mil treinamentos diários”, contou o médico, que diz que o serviço já faturou R$ 180 mil desde o lançamento, no fim de fevereiro.