Ex-aluno da FGV que chamou colega de ‘escravo’ é condenado a pagar R$ 34 mil

O ex-aluno da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Gustavo Metropolo foi condenado, mais uma vez, por ter chamado um colega negro de “escravo” em um grupo de Whatsapp. O caso foi revelado pelo g1 em 2018.


Desta vez, ele foi condenado administrativamente nesta segunda-feira (8), no processo que tramita na comissão especial contra discriminação racial da Secretaria de Justiça do Estado de São Paulo, que gerou multa atualizada de valor de R$ 34 mil (1000 Unidades Fiscais de São Paulo UFESPs). Cabe recurso.


Segunda a decisão, “ao indicar como ‘escravo’ uma pessoa negra, o denunciado o assemelhou a uma coisa que deve ter dono e que não poderia estar no ambiente por ele frequentado, aviltando a vitima com base em uma representação cultural negativa decorrente da assimetria social existente entre ambos.”


Esta é a terceira vez que Metropolo é condenado. Ele já foi condenado na esfera criminal e cível, esta com indenização de R$ 65 mil. Com a decisão desta segunda, o valor somada de multa e indenização chega a R$ 100 mil.


O diretor-executivo do Programa de Justiça Racial do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT), Daniel Bento Teixeira, que abriu o processo na Secretaria, reforçou a importância de mais de uma condenação.


“O racismo impacta diferentes dimensões de nossas vidas e gera repercussões em esferas de responsabilização jurídica distintas. É necessário que a atuação em Justiça Racial considere essas responsabilizações para que a população negra possa exercer plenamente o acesso à Justiça”, diz Daniel.


Durante o julgamento na esfera criminal, Gustavo negou a autoria do crime e disse que teve o celular roubado na época. O g1 tenta contato com os advogados nesta segunda.


Metropolo já recorreu ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) e ao Supremo Tribunal Federal (STF).


“Já tivemos decisão em segunda instância que confirmou o crime e majorou a pena. A terceira instância é excepcional, o que reduz bastante qualquer mudança no teor da decisão. Mas vamos enfrentar os recursos que já foram interpostos e qualquer novo recurso que ele deve interpor, agora, também perante a Secretaria de Justiça”, afirma o diretor.


O caso

 


Metropolo tirou uma foto de outro estudante da mesma instituição e compartilhou em um grupo de Whatsapp com a frase: “Achei esse escravo no fumódromo! Quem for o dono avisa!”. A vítima registrou boletim de ocorrência por injúria racial e ele chegou a ser suspenso da faculdade por 3 meses.


Em um grupo da GV no Facebook, a vítima contou que foi chamado pela Coordenação de Administração Pública e informou que um aluno do 4º semestre do curso de Administração de Empresas compartilhou a foto com a frase.


No post, a vítima diz que o colega teve atitude “covarde”. “Tão perto de mim…porque não foi falar na minha cara? Mas você optou pela atitude covarde de tirar uma foto minha e jogar no grupo dos amiguinhos. Se seu intuito foi fazer uma piada, definitivamente você não tem esse dom. Acha que aqui não é lugar de preto? Saiba que muito antes de você pensar em prestar FGV eu já caminhava por esses corredores. Se você me conhecesse, não teria se atrevido. O que você fez além de imoral é crime! As providências legais já foram tomadas e você pagará pelos seus atos”, diz post publicado em grupo da faculdade no Facebook.


Em nota na ocasião, a FGV afirmou que ante “possível conotação racista da ofensa” “aplicou severa punição ao ofensor, que foi suspenso por três meses”.


“O comentário ofensivo foi feito em grupo privado do qual o ofensor fazia parte, sem qualquer participação, ainda que indireta, da FGV. Ante a possível conotação racista da ofensa, firme em sua postura de repúdio a toda forma de discriminação e preconceito, a FGV, tão logo tomou conhecimento dos fatos, tal qual prevê seu Código de Ética e Disciplina, de imediato aplicou severa punição ao ofensor, que foi suspenso de suas atividades curriculares por três meses, estando impedido de frequentar a escola, sem ressalva da adoção de medidas complementares, a partir da apuração dos fatos pelas autoridades competentes”, diz o texto.


Metropolo não chegou a ficar 3 meses suspenso, e ao voltar, transferiu o curso para outra faculdade.


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