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‘Guardiões da Galáxia Vol. 3’ traz um pouco de alma de volta à Marvel a seus filmes

“Guardiões da Galáxia Vol. 3” traz um pouco da alma da Marvel, negligenciada nos últimos anos, de volta a seus filmes. O encerramento da trilogia da equipe de heróis improváveis é um bom reflexo de seus protagonistas. Tem alguns problemas e está longe de ser perfeito, mas emociona e diverte – o suficiente para ser o melhor do estúdio desde 2021.


Em clima de despedida, a grande estreia de 4 de maio nos cinemas brasileiros mostra que talvez a empresa ainda saiba como ir além de grandes espetáculos presos a fórmulas já gastas, e enquanto provoca sentimentos mais sinceros em seu público.


E essa é uma ótima notícia para o gênero de super-heróis, que atravessa um período de apatia nas bilheterias provocado pela saturação e por histórias pouco inspiradas.


Pode parecer excelente também para a Marvel, mas há um grande porém. Isso porque James Gunn, diretor de toda a trilogia (e do especial de Natal), agora é um dos mandachuvas dos estúdios da DC, a grande rival – ou distinta concorrência, se preferir – da editora.


Mais uma de amor

Para quem não se lembra, ou não viu os dois “Vingadores” desde “Guardiões da Galáxia Vol. 2” (2017), o “Vol. 3” começa com o líder da equipe, Star Lord (Chris Pratt), ainda deprimido desde que seu grande amor, Gamora (Zoe Saldana), morreu e voltou à vida.


Ou algo parecido. Quem chegou ao presente na verdade foi uma versão da moça do passado – uma que nunca o conheceu direito nem viveu o relacionamento dos dois.


Com o coração em pedaços em uma mesa de bar enquanto os companheiros tentam organizar uma sociedade de párias intergalácticos, ele comanda o time mais uma vez para salvar a vida de um dos amigos, ferido gravemente em um ataque feroz.



Emocional, mas sem perder a ternura

Falando assim, parece até que o humano é mais uma vez o grande centro das atenções, mas o roteiro de Gunn foca mesmo na origem de Rocky (voz de Bradley Cooper), e dá ao guaxinim sarcástico e genial a oportunidade de encarar seu criador maligno (Chukwudi Iwuji).


A história do personagem evoca alguns dos momentos mais emocionantes da trama, por mais que em grande parte do tempo ela se aproxime perigosamente do piegas – ou, pior, do sentimentalismo.


Por sorte, o cineasta mostra que aprendeu com os erros do segundo filme, o mais fraco dos três, e equilibra o lado mais sombrio com o humor sincero das relações disfuncionais da equipe – seu verdadeiro e maior superpoder.
Com isso, Mantis (Pom Klementieff) e Drax (Dave Bautista) ganham espaço para irem um pouco além de meros alívios cômicos e aprofundam suas personalidades e Nebulosa (Karen Gillan) se firma como aquela com o melhor arco da trilogia.



É notável a evolução da irmã adotiva de Gamora, de ciborgue psicopata unidimensional a uma heroína relutante complexa, de longe a mais humana de todos os Guardiões.


Entre tantos colegas com grande facilidade para fazer rir, ela mantém as emoções mais próximas ao peito – e certamente vai arrancar lágrimas com naturalidade daqueles que já não estiverem aos prantos com a triste história de Rocky.


No meio disso tudo, é difícil não estranhar como Groot (dublado por Vin Diesel) é deixado no pano de fundo. Em um filme tão focado em seu melhor-amigo-que-virou-uma-figura-quase-paterna, faria sentido que a árvore antropomorfizada se juntasse ao centro da trama.


Salvação


Com duas horas e meia de duração, “Guardiões da Galáxia Vol. 3” consegue manter um ritmo surpreendentemente estável na maior parte do tempo.
Seu maior problema está mesmo na velha necessidade do estúdio por finais grandiosos e cheios de explosões. Mesmo assim, sem o destino do universo ou de toda a existência em risco, o filme consegue amarrar bem suas pontas soltas.


A escala reduzida também permite que o enredo deixe os heróis fazerem algo cada vez mais raro no gênero: heroísmos. Dá gosto ver, pelo menos de vez em quando, protagonistas mais preocupados em salvar seres indefesos do que em vingança ou em descer a porrada no vilão.


E não é só nisso que o encerramento da trilogia supera o antecessor. A trilha sonora, marca registrada desde a seleção impecável do primeiro filme, volta com uma força incrível ao explorar com habilidades clichês de músicas marcantes que vão dos anos 1970 aos 2000.


“Creep” no começo, símbolo do sentimento de inadequação de Rocky podia ser um mau sinal, mas a cada nova escolha Gunn mostra que brinca com consciência com a obviedade de suas escolhas.


No final, o agora copresidente da DC consegue quase redimir “Dog days are over” de seu uso semi melancólico em casamentos.


Em seu adeus da Marvel, e de alguns de seus personagens favoritos, o diretor dá um presente à rival. Tomara que consiga fazer o mesmo em seu novo trabalho.


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