Uma vez que a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPMI) do 8 de janeiro se tornou um cenário inevitável, o governo Lula (PT) quer usar a comissão para investigar os financiadores dos atos antidemocráticos.
A avaliação é de que com quebras de sigilo fiscal e bancário – umas das prerrogativas de Comissões Parlamentares de Inquérito –, será mais fácil chegar aos empresários que financiaram a invasão dos poderes.
“A CPI vai para cima dos financiadores do 8 de janeiro. Expõe o primeiro e a CPI acaba para o bolsonarismo”, afirmou um auxiliar do presidente.
O governo acredita que há um cruzamento entre financiadores do 8 de janeiro e apoiadores de campanhas dos parlamentares da oposição, e aposta num efeito secundário da abertura da comissão: gente que poderia ainda estar fornecendo recursos para bolsonaristas – ou pretendia fazê-lo – ficaria coagido a não fazer.
Além de quebras de sigilo, a base governista vai tentar dar à CPI, logo de início, acesso às investigações sobre os atos antidemocráticos que estão sob a relatoria do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
Governo quer núcleos técnico e midiático
O governo quer escalar quadros com experiência em investigação para compor a sua tropa de choque. Nesse sentido, o senador Renan Calheiros (MDB-AL) é considerado o “padrão ouro” para fazer parte so grupo.
“É o jogador dos sonhos”, disse um integrante do governo. Isso porque ele conhece investigação, foi relator da CPI da Covid e agora é presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, órgão que atua como controle externo também da ação dos militares.
Um porém, no entanto, seria o veto do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), ao nome de Renan. Os dois são adversários políticos em Alagoas.
As indicações para a composição da CPMI são feitas pelos líderes das respectivas casas, mas em negociação interna e com o governo, no caso dos partidos da base.
Outro nome cotado para compor a comissão, e que é palatável para o Planalto, é o do senador Omar Aziz (PSD-AM), que foi justamente o presidente da CPI da Covid.
Juntos, Aziz e Renan fariam parte de um núcleo mais técnico para tocar, de fato, as investigações, fazer os requerimentos e tomar os depoimentos.
Mas o governo quer também um outro núcleo, mais midiático, bom para o enfrentamento político com a oposição. Nessa frente, a aposta é no deputado André Janones (Avante-MG), estridente nas redes sociais.