A Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), órgão vinculado ao Ministério das Relações Exteriores, está trabalhando na realização de um seminário para reunir representantes do setor público, privado e da sociedade civil organizada a fim de criar uma narrativa nacional única sobre o agronegócio brasileiro perante a comunidade internacional.
De acordo com o presidente da entidade, Jorge Viana, a ação é parte da estratégia para reverter a imagem negativa que o país – e o setor – ganhou no mercado internacional ao longo dos últimos anos.
“Ou o Brasil faz isso, ou vai prevalecer a distorção do que é o Brasil, de como está o Brasil, porque o que houve nos últimos quatro anos acabou com a imagem do Brasil no exterior, está destruída – às vezes com razão, às vezes sem razão – e isso afeta os negócios”, defendeu Viana durante evento promovido pela Marfrig, em São Paulo.
Ao avaliar que “o Brasil estava ausente do mundo”, Viana apresentou números de um levantamento feito pela Agência no ano passado e que apontou que 64% dos europeus tinham uma imagem negativa sobre o agronegócio brasileiro, índice que chegou a 81% entre os membros do parlamento europeu.
A imagem do setor no continente é considerado estratégica para o Brasil diante das expectativas com a efetivação do acordo entre Mercosul e União Europeia – dois dos maiores produtores de alimentos do planeta.
Assinado em 2019, o tratado de livre comércio depende da ratificação pelo Conselho da União Europeia (UE) e pelo Parlamento Europeu para entrar em vigor – mesmos órgãos que aprovaram no ano passado uma lei para restringir a importação de matérias-primas e derivados oriundos de áreas com desmatamento.
De acordo com a Apex, cerca de 30% dos 50,8 bilhões de dólares exportados pelo agronegócio brasileiro ao bloco europeu hoje poderiam ser afetados caso o Brasil seja considerado um país com alto risco de desmatamento.
“Esse tipo de imagem não é verdadeira, o agronegócio brasileiro tem extraordinários exemplos de sustentabilidade, isso vem sendo construído por produtores há muito tempo”, destacou Viana.
Segundo números apresentados pelo secretário executivo do Ministério do Meio Ambiente (MMA), João Paulo Capobianco, 85% dos Cadastros Ambientais Rurais da Amazônia não possuem nenhum registro de desmatamento, sendo que dos 15% com desmatamento, dois terços estavam concentrados em 2% desses imóveis rurais.
“Isso mostra que nós temos, na realidade, uma situação extremamente positiva. Nós não estamos falando de um desmatamento generalizado, não estamos falando que todos produtores rurais estão com desmatamento acelerado ou em elevação, estamos falando o contrário. Demonstrando que ele está concentrado e que, portanto, é muito factível uma ação bem planejada tanto no sentido da coibição como também de convencimento e da oferta de alternativas”, ressaltou o secretário executivo do MMA.
Rastreabilidade é o caminho
Nesse sentido, Capobianco destacou que a implantação de um sistema nacional de rastreabilidade das cadeias agropecuárias, em especial da carne bovina, como meio de “separar aqueles que estão caminhando, investindo e atuando no sentido de ter sua atividade produtiva incorporando a sustentabilidade daqueles poucos que não têm esse interesse”.
“Estamos convencidos que a rastreabilidade não é apenas uma ferramenta fundamental para controlar e reduzir desmatamento, a rastreabilidade é uma ferramenta fundamental para preservar a atividade agropecuária”.
De acordo com o ministro do Agricultura, Carlos Fávaro, o Brasil já possui condições de rastrear cerca de 12 milhões de hectares de sua área plantada com grãos graças aos protocolos implementados pelo setor cotonicultor e precisa dar o primeiro passo para levar a pecuária nesse mesmo sentido.
“Não tem outra alternativa senão implementar um modelo de rastreabilidade que tem que ser gradativo, não tem que ser a fórceps, mas tem que dar o primeiro passo. Não podemos criar um greenwash, que é um discurso de que somos verde, mas não conseguimos comprovar”, completou Fávaro.
Para o diretor de sustentabilidade e comunicação coorporativa para América do Sul da Marfrig Global Foods, Paulo Pianez, o Brasil tem todas as condições para “muito rapidamente” implementar um sistema de todo o rebanho brasileiro.
Segundo ele, o setor tem estudado como reunir as diferentes experiências já existentes no país para formular uma proposta equilibrada considerando as diferentes realidades da pecuária nacional.
“O resultado disso vai ser uma primeira carta de intenções, mas que representa muito de tudo isso que já está sendo feito e a gente pretende agora juntar esses coletivos todos num grupo menor, fazer um desenho do que poderia ser essa proposta fazendo uso dos elementos e das informações e instrumentos que o Brasil já tem e trazer isso de maneira organizada para o governo como uma proposta única discutida por todos esses entes”, explicou o executivo.
Dentre os principais instrumentos existentes no país e já usados por essas iniciativas estão as informações de Guia de Trânsito Animal e do Cadastro Ambiental Rural, base dos sistemas de monitoramento de grande escala usados hoje e destacados pelo governo federal como um dos caminhos para o desenvolvimento de um sistema oficial de rastreabilidade no menor prazo possível.
“Se usarmos os dados disponíveis e os integrarmos de forma adequada, com transparência, oferecendo segurança para os grandes importadores, vamos dar uma resposta firme, objetiva, segura e consistente mostrando que o Brasil é capaz de produzir com sustentabilidade e abastecer o mercado internacional e nacional com produtos de qualidade produzidos com responsabilidade socioambiental”, avalia Capobianco.