Ibovespa fecha em forte queda e volta aos 101 mil pontos com incertezas

O Ibovespa, principal índice da bolsa de valores de São Paulo, a B3, fechou a sessão desta sexta-feira (31) em forte queda. Apesar de o recuo refletir, em parte, um movimento de realização de lucros após os cinco dias consecutivos de alta marcados pelo índice, analistas afirmam que também há novos questionamentos do mercado a respeito do arcabouço fiscal anunciado pelo governo federal na véspera.


Ao final da sessão, o índice recuou 1,77%, aos 101.882 pontos.


Na véspera, o índice teve alta de 1,89%, aos 103.713 pontos.


O que está mexendo com os mercados?

 


O Ibovespa passou o dia focado em movimentos internos, com realização de lucros após cinco altas consecutivas. Além disso, os agentes de mercado ainda repercutem os detalhes do novo arcabouço fiscal brasileiro.


Segundo analistas, apesar de as novas regras terem sido bem recebidas pelo mercado em um primeiro momento, dúvidas a respeito de como o governo conseguirá atingir as metas de resultado primário e sobre o piso para investimentos foram levantadas pelos investidores – e também acabaram influenciando no movimento de queda do Ibovespa nesta sexta.


“A recepção do arcabouço ontem foi inicialmente boa, mas claro que não é uma regra perfeita. Alguns questionamentos foram levantados, como por exemplo, como o governo deve conseguir – se é que vai conseguir – zerar o déficit no ano que vem para, eventualmente, levar para um superávit no ano subsequente”, afirmou o economista da Guide Investimentos Rafael Pacheco.


“Alguns pontos ainda estão um pouco nebulosos nesse arcabouço, o próprio piso para investimento, por exemplo, a gente não sabe exatamente como vai funcionar. Então ainda tem uma incerteza no radar, mas também é bastante um movimento de ajuste”, completou.


A proposta para substituir o teto de gastos foi apresentada pelo governo federal nesta quinta-feira (30) e tem como principal objetivo controlar o gasto público e sair do vermelho, sem tirar dinheiro das áreas que considera essenciais, como saúde, educação e segurança. Além disso, as novas regras também devem garantir recursos para investir em obras e projetos que ajudem a economia a crescer.


A reportagem do g1 consultou economistas para que avaliassem o potencial da regra fiscal em atingir seus objetivos. Os especialistas veem com bons olhos o novo marco fiscal, mas apontam alguns desafios.


“Sem entrar no tecnicismo da regra, ela tem dividido os analistas, mas nossa visão é que um limite das despesas por meio da receita passada pode ajudar a conter gastos excessivos”, disse a equipe da Guide Investimentos em nota a clientes.


Ainda na agenda doméstica, o foco também recai sobre os novos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, divulgada nesta sexta-feira (31) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que apontaram uma alta na taxa de desemprego, a 8,6%, no trimestre móvel terminado em fevereiro.


Já nos Estados Unidos, todos seguem de olho no rumo das taxas de juros definidas pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano).


Entre os indicadores que influenciam a decisão, o Departamento de Comércio dos EUA informou nesta sexta-feira que o índice PCE de inflação subiu 0,3% no mês passado, depois de acelerar 0,6% em janeiro. Nos 12 meses até fevereiro, o PCE acumula alta de 5,0%, após 5,3% em janeiro.


Excluindo os componentes voláteis de alimentos e energia, o índice de preços do PCE subiu 0,3%, de 0,5% em janeiro. O chamado núcleo do índice de preços avançou 4,6% na comparação anual em fevereiro, de alta de 4,7% em janeiro. O Fed acompanha o índice PCE para sua meta de inflação de 2%.


Já os gastos do consumidor, que respondem por mais de dois terços da atividade econômica dos EUA, aumentaram 0,2% no mês passado. Economistas consultados pela Reuters previam que os gastos do consumidor subiriam 0,3%.


O estresse do mercado financeiro após o recente colapso de dois bancos regionais ampliou o risco de uma recessão ainda este ano. Os bancos apertaram os padrões de empréstimo, o que pode dificultar o acesso das famílias ao crédito, pesando na demanda.


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