Cerca de um terço dos pequenos negócios têm dívidas em atraso, segundo a última pesquisa do Sebrae sobre o tema, em parceria com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Entre outros fatores, o atual patamar dos juros no país dificultam ainda mais o cenário dessas empresas. Especialistas consultados pela CNN explicam que, na vida prática das empresas, os juros altos indicam a necessidade de se ter mais dinheiro para pagar dívidas, muitas vezes, contraídas num cenário em que a taxa estava perto da mínima, como era em 2021.
Dados do Panorama da Pequena Indústria (PPI), por exemplo, organizados pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), mostram que, entre os principais problemas do segmento nos últimos meses de 2022, empresários relataram a insatisfação com acesso ao crédito e com a taxa de juros.
Para a CNI, conseguir o dinheiro é fundamental para o desempenho das MPEs, seja para reestruturação ou para a expansão dos negócios.
O gerente de Política Econômica da CNI, Fábio Guerra, diz que o cenário do mercado de crédito é desafiador por conta, principalmente, das taxas de juros. “Conhecer bem as informações envolvidas nesse processo pode ser decisivo no sucesso da contratação do crédito e nas condições dessa contratação, em termos de taxa de juros, prazos, carências, garantias, entre outros pontos”.
Leonardo Tegg, consultor de Negócios do Sebrae-SP, aponta que este cenário de endividamento das MPEs é consequência especialmente da elevada taxa de juros atual, combinada à alta da inflação e, da queda da renda média da população brasileira.
“Com a alta da Selic, muitas empresas têm de arcar com parcelas bem altas [de empréstimos anteriores]. E a conjuntura atual, diminuição da renda média, processo inflacionário, faz com que essas empresas não consigam faturamento suficiente para pagar esses empréstimos”, explica.
Considerando Microempreendedor individual (MEI) e Micro e pequena empresa (MPE), 61% dos negócios têm dívidas no país. Dentro do percentual, 27% apresentam dívidas com pagamento em atraso; 34% têm dívidas, mas estão em dia.
Ainda segundo o levantamento do Sebrae, Pulso dos Pequenos Negócios, 63% dos empresários de MEI têm 30% ou mais dos seus custos mensais comprometidos pelo pagamento de dívidas; para aqueles de MPE, o índice ficou em 46%.
Quando somados os dois grupos, a média fica em 55% — quatro pontos percentuais acima daquele registrado na última edição da pesquisa, realizada em agosto de 2022.
Leonardo Tegg pontua ainda que as micro e pequenas empresas tendem a sentir mais as conjuntura econômicas atuais, como a alta taxa de juros e inflação, do que aquelas de maior porte.
Segundo o consultor, essas empresas sofrem por sua menor capacidade de geração de caixa, mas também por um “efeito cascata” que tem origem nas grandes empresas.
“E a alta da Selic também inibe novos investimentos para as grandes empresas. Consequentemente, as grandes empresas compram menos das micro e pequenas empresas. Além disso, geram menos empregos, e as famílias têm menos renda para consumir de micro e pequenas”, completa sobre os efeitos causados a MEI e MPE.
Um levantamento do Banco Central referente ao mês de janeiro mostrou que mesmo após o fim do ciclo de alta da Selic, a taxa média de juros no crédito livre subiu de 41,7% ao ano em dezembro para 43,5% em janeiro. No primeiro mês de 2022, era de 35,3%.
Queda no faturamento também preocupa
A pesquisa também traz dados sobre o faturamento dessas empresas. 41% dos entrevistados afirmaram que seu faturamento diminuiu entre dezembro de 2022 e janeiro de 2023. Na última edição da pesquisa, o índice foi de 28%.
O consultor explica que o aumento das dívidas e a queda no faturamento se conectam intimamente. “Verificamos que desde o segundo semestre de 2022 uma queda muito grande no faturamento das empresas. O processo inflacionário gera uma alta nos preços e há essa queda. As empresas então buscaram esses créditos e fizeram dívidas”, aponta.
Os únicos setores que tiveram aumento no seu faturamento foram os de academias e relacionados a atividades físicas (8,1%), além do agronegócio (5%). As piores perdas ficaram para artesanato (17,8%), logística e transporte (16%), serviços pessoais (15,5%), beleza (13,8%) e moda (13%).
O levantamento mostra ainda que um terço dos empreendedores buscou empréstimo bancário para suas empresas nos últimos 3 meses. Todavia, somente 40% deles conseguiram o aporte.
Apesar do cenário, a maioria dos pequenos negócios está otimista para 2023. Entre MEI, 71% acreditam que o ano será melhor do que 2022; entre MPE, 65%. Quando o questionamento foi “o que melhoraria seus negócios, “mais clientes” apareceu como a resposta mais mencionada, seguida por “melhor acesso ao crédito”.
A pesquisa foi realizada entre 23 e 31 de janeiro, por meio de formulário online. Houve 6.802 respondentes em todos os 26 estados e Distrito Federal — composto por 61% MEI, 34% ME e 6% EPP.