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Remédios para tratar hipertensão podem controlar comportamentos violentos

Foto: reprodução

Medicamentos comuns usados para tratar hipertensão, angina e outros problemas cardiovasculares, os betabloqueadores têm potencial de controlar o comportamento agressivo e hostil em pacientes psiquiátricos. Um estudo publicado na revista Plos Medicine com dados de 1,4 milhão de residentes da Suécia mostrou redução na violência em pessoas que tomam essa classe de droga, comparado aos momentos em que elas não usavam o remédio.


As observações referem-se a um período de oito anos, de 2006 a 2013. Embora reconheçam a necessidade de mais pesquisas para corroborar as descobertas, os cientistas estão otimistas. “Se mais estudos confirmarem nossos resultados, os betabloqueadores poderiam ser usados mais amplamente para controlar a violência em certas pessoas, particularmente naquelas com fatores de risco de fundo, como problemas psiquiátricos graves. Como os tratamentos baseados em evidências para a violência são limitados, essa é uma descoberta potencialmente importante”, diz o professor de psiquiatria forense Seena Fazel, da Universidade de Oxford, no Reino Unido, e coautor do artigo.


O interesse dos pesquisadores da área de saúde mental em uma classe de remédios prescrita para eventos cardiovasculares justifica-se pelo mecanismo de ação dos betabloqueadores. Esses remédios agem bloqueando os hormônios do estresse e os neurotransmissores adrenalina e noradrenalina, que desempenham um importante papel na resposta de luta ou fuga.


“Em uma situação estressante, a adrenalina e a noradrenalina mobilizam o cérebro e o corpo para a ação, aumentando a quantidade de sangue bombeada pelo coração”, explica Yasmina Molero, pesquisadora do Departamento de Neurociência Clínica do Instituto Karolinska, na Suécia, que também participou do estudo. “Os betabloqueadores impedem o efeito desses hormônios. Isso diminui a frequência cardíaca, reduz a pressão sanguínea e também diminui a tensão. Por esse motivo, os betabloqueadores às vezes são usados como tratamento para problemas comportamentais e de saúde mental comuns, como ansiedade, depressão e agressividade”, diz.


Segundo os pesquisadores, com base nesse mecanismo de ação, nos últimos anos houve um aumento nas prescrições de betabloqueadores para a ansiedade. Eles também são usados ocasionalmente em clínicas e hospitais psiquiátricos para controlar a agressão em pacientes, diz Fazel, que publicou, anteriormente, um artigo sobre o manejo farmacológico da violência.


Ao mesmo tempo, porém, tem havido preocupação de que usuários da classe de remédios apresentem um risco maior de depressão e suicídio. “A evidência conflitante deixa os médicos com decisões de tratamento difíceis. Os betabloqueadores são eficazes no tratamento de saúde mental e problemas comportamentais ou eles poderiam aumentar o risco de sérios problemas de saúde mental?”, questiona Fazel.


Precisão

Para avaliar o efeito desses fármacos na saúde mental, os pesquisadores da Universidade de Oxford e do Insituto Karolinska analisaram os desfechos psiquiátricos e comportamentais — hospitalização, tentativa de suicídio, morte por suicídio e acusações de violência — de 1,4 milhão de usuários de beta-bloqueadores na Suécia. A comparação foi feita considerando o período em que essas pessoas estavam tomando os remédios e aqueles em que elas mesmas não estavam sob o efeito da classe de medicamentos.


O estudo é observacional, ou seja, observa-se o que acontece com os participantes ao longo do tempo. Nessa metodologia, os usuários de betabloqueadores seriam comparados a não usuários, mas os pesquisadores fizeram uma adaptação para aumentar a precisão dos resultados. “Os dois grupos podem diferir em características importantes, como história psiquiátrica. Isso dificulta a interpretação dos resultados”, explica Yasmina Molero. “Em vez disso, comparamos cada pessoa a si mesma, analisando os períodos em que tomavam os betabloqueadores com aqueles em que não tomavam.”


Os pesquisadores descobriram que, quando os usuários tomavam betabloqueadores, tinham um risco 13% menor de serem acusados de um crime violento. Eles também apresentaram 8% menos possibilidade de serem hospitalizados por problemas de saúde mental. Porém, a probabilidade de receberem tratamento por tentativas de suicídio — ou morrer em decorrência — foi 8% maior. Molero e Fazel ressaltam que essas associações variaram dependendo do diagnóstico psiquiátrico, do histórico de doenças mentais, além da gravidade e do tipo de condição cardíaca para a qual os medicamentos estavam sendo usados.


O risco maior de tentativas e mortes por suicídio, por exemplo, foi observado apenas em pessoas com problemas cardíacos graves ou histórico de doenças psiquiátricas. “Sabemos, por pesquisas anteriores, que há um risco maior de suicídio após problemas cardíacos graves. As pessoas podem ter pensamentos pessimistas, não ter certeza sobre o futuro ou se preocupar com sua saúde”, diz Fazel. “Portanto, o sofrimento psicológico associado a problemas cardíacos, em vez do tratamento com betabloqueador, pode ser a principal explicação por trás do aumento de tentativas de suicídio e mortes por suicídio observadas em nosso estudo.”


Grande interesse clínico

“Os betabloqueadores são medicamentos usados para tratar condições como hipertensão, arritmias, angina ou mesmo ansiedade. Eles agem limitando o efeito dos neurotransmissores adrenérgicos (adrenalina, noradrenalina), ligando-se e bloqueando seus receptores neuronais. Dada a suspeita bem fundamentada de que o tratamento com betabloqueadores poderia levar a efeitos colaterais psiquiátricos adversos, um grande grupo de profissionais de centros clínicos e de pesquisa conduziram um acompanhamento exaustivo de oito anos de 1,4 milhão de indivíduos tratados com betabloqueadores observando quantos deles desenvolveram distúrbios que exigiram internação psiquiátrica, comportamento suicida ou comportamento criminoso violento. O estudo foi rigoroso em seus controles metodológicos. Os resultados, de grande interesse clínico, mostraram pouca relação entre o tratamento com betabloqueadores e sintomas psiquiátricos, mas revelaram uma relação significativa com a redução da violência, abrindo as portas para o possível uso dessas drogas para o tratamento terapêutico de agressores e comportamento violento.”


Correio Braziliense


 


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