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Após terremoto, Turquia encara frustração crescente para achar sobreviventes

Foto:  AFP

Passadas mais de 72 horas do potente terremoto que atingiu a Turquia e a vizinha Síria, tornam-se cada vez mais reduzidas as chances de socorristas encontrarem sobreviventes da tragédia, que pode ter matado mais de 20 mil pessoas. Em meio às temperaturas gélidas e dificuldades de estruturas, equipes de resgate e moradores das cidades atingidas corriam contra o tempo. Com a demora da ajuda e a falta de assistência, a população aumentou o tom das cobranças e queixas contra Ancara, reconhecidas, em certa medida, pelo presidente Recep Tayyip Erdogan. “Claro, há deficiências, é impossível estar preparado para uma catástrofe dessas”, admitiu o presidente durante visita à província de Hatay, uma das mais afetadas, na fronteira com a Síria. O chefe de Estado também procurou defender seu governo de parte dos ataques.


A menos de quatro meses da eleição presidencial, as críticas se dirigem, principalmente, ao chefe de Estado. No poder desde 2003, Erdogan sabe que a resposta à catástrofe será determinante para seu desempenho nas urnas. Em meio à multiplicação das críticas on-line sobre a atuação do governo, o Twitter ficou inacessível nas principais redes de telefonia móvel do país.


“Algumas pessoas desonestas e sem honra publicaram declarações falsas como a de que ‘não vimos soldados, nem policiais em Hatay'”, reclamou, assinalando que 21 mil resgatistas foram mobilizados apenas na província. “Nossos soldados e nossos policiais são gente honrada. Não permitiremos que pessoas pouco recomendáveis falem deles dessa maneira”, asseverou.


Abandono

Entre os escombros de prédios de uma dezena de cidades do sul e do sudeste da Turquia, devastadas pelo terremoto de magnitude 7.8, sobreviventes à espera de auxílio se diziam “abandonados” em meio ao frio. “É muito tarde. Agora esperamos nossos mortos”, lamentou uma mulher que buscava notícias sobre parentes.


“Onde está o Estado? Onde está?”, perguntava, desesperado, Ali, na cidade turca de Kahramanmaras, no epicentro do terremoto. Ele acompanhava atento as buscas na esperança de encontrar com vida o irmão e o sobrinho presos entre os escombros.


“Não vimos nenhuma distribuição de comida aqui, ao contrário do que houve em desastres locais anteriores. Sobrevivemos ao terremoto, mas vamos morrer de fome ou de frio”, ressaltou Melek, 64 anos, em Antakya. “Onde estão as tendas, os food trucks?”, questionou.


A angústia também dominava a localidade síria de Jindires, em uma área controlada pelos rebeldes. “Há cerca de 400, 500 pessoas presas sob cada edifício, com apenas 10 tentando retirá-las. E não há máquinas”, disse Hassan, morador da região. “São muito mais pessoas sob os escombros do que acima deles”, desabafou.


Isoladas pelo regime de Damasco, as zonas sob controle dos rebeldes dependem dos esforços dos Capacetes Brancos, voluntários da Defesa Civil, que imploram por ajuda à comunidade internacional.


A assistência à Síria é uma questão delicada para vários países ocidentais em razão de sanções internacionais decorrentes da guerra. Até o momento, o país conta principalmente com a ajuda da Rússia, sua aliada.


Nos balanços divulgados no fim da noite de ontem, autoridades turcas e sírias contabilizavam mais de 12 mil mortos. Na Turquia, onde o governo decretou sete dias de luto e estado de emergência de três meses nas províncias mais afetadas, os óbitos haviam ultrapassado 9 mil. Na Síria, país abalado por mais de uma década de guerra civil, o balanço se aproximava de 3 mil.


Esses números devem dobrar, se os piores cenários previstos pelos especialistas se confirmarem. O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, alertou que o tempo estava acabando para os milhares de feridos e desaparecidos entre os escombros.


Num trabalho insano, as equipes de emergência resgataram mais sobreviventes sob as ruínas de edifícios que desabaram dos dois lados da fronteira. Apesar das dificuldades, socorristas e moradores conseguiram salvar, ontem, várias crianças que estavam nos escombros de um imóvel na província turca de Hatay, onde vários municípios desapareceram por completo. “De repente ouvimos vozes. Três pessoas ao mesmo tempo”, disse o socorrista Alperen Cetinkaya.


Em Idlib, na Síria, centenas de pessoas assistiram, emocionadas, ao resgate de um homem e seus três filhos pequenos que estavam nas ruínas de um edifício. Aplausos e gritos se sucediam à medida que cada um era salvo. De cima dos escombros, a multidão gravou toda a cena com celulares.


Brasil envia ajuda

O governo brasileiro enviou, ontem, ajuda humanitária à Turquia para prestar assistência nas buscas por sobreviventes nas regiões atingidas pelo terremoto. Integram a equipe 42 especialistas nesse tipo de operação — incluindo 34 bombeiros de São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo —, além de médicos e profissionais de defesa civil. Quatro cães farejadores também vão ajudar na localização de vítimas da tragédia.


Em nota, o Itamaraty informou ainda que enviará seis toneladas de equipamentos para auxiliar nos trabalhos. O Ministério da Saúde doou três “kits calamidade” que contêm, cada um, 250kg de medicamentos e itens emergenciais. Cada um deles tem capacidade para atender até 1,5 mil pessoas durante um mês.


A intenção de colaborar foi anunciada horas após a catástrofe, ainda na segunda-feira. Segundo o Itamaraty, não há notícias de brasileiros mortos ou feridos. “As embaixadas do Brasil em Ancara e Damasco, bem como o consulado-geral do Brasil em Istambul, estão acompanhando os desenvolvimentos na região, em regime de plantão”, assinalou o comunicado.


A missão humanitária é coordenada pelo Ministério das Relações Exteriores em articulação com os ministérios da Defesa, Saúde, Desenvolvimento Regional e Justiça e Segurança Pública e com os demais órgãos federais que trabalham no Grupo de Trabalho Interministerial sobre Cooperação Humanitária Internacional.


Mais de 70 países se mobilizaram para ajudar a Turquia. A assistência à Síria, porém, tem sido mais difícil, principalmente por questões decorrentes da guerra no país. Ontem, a União Europeia (UE) anunciou que vai realizar em março uma conferência internacional de doadores para mobilizar fundos da comunidade internacional em apoio aos dois países.


Correio Braziliense


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