Dois ministros palacianos deram o tom de como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretende interagir com os outros Poderes, com as lideranças partidárias e com diversos segmentos da sociedade. Em uma palavra, a ordem, segundo eles, é dialogar. Basta de agressão, é hora de conciliar.
Ao assumir a Casa Civil em cerimônia no Palácio do Planalto, Rui Costa (PT-BA), destacou que buscará “muito diálogo com o STF e com o Judiciário” a fim de destravar ações judicializadas para a geração de renda no país, além de intensificar o diálogo com o setor produtivo e sociedade e unificar o setor agrícola. Prometeu ainda imprimir um ritmo de “correria” à pasta.
“Buscaremos construir a agricultura brasileira e, definitivamente, superar esse conceito de que as agriculturas são antagônicas. Trabalharemos para unir o setor agrícola brasileiro. A economia brasileira precisa do agronegócio e haveremos de deixar no passado triste da história esse momento de tensão”, disse.
Costa afirmou que o governo identificou um diagnóstico de paralisia em obras pelo Brasil, decorrente do que chamou de “caos” deixado pelo governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). “As prioridades iniciais, evidentemente, serão de retomada do Brasil, sair deste momento de paralisia completa. Nem mesmo sabemos quantas obras no Brasil estão paralisadas. Cada um vem com um número, nem os ministérios [conseguem] contabilizar quantas obras temos paralisadas hoje. Isso é demonstração do caos que estamos recebendo”, comentou.
Costa disse que o programa de moradia Minha Casa Minha Vida é uma das prioridades do governo. “Lula já anunciou que vai retomar. Temos centenas de casas prontas, com 95%, 98% [de conclusão]. Casas prontas desde o governo Dilma e não foram habitadas ainda. Isso é inadmissível, e elas serão todas habitadas ainda no primeiro semestre deste ano. Todas”, prometeu.
Segundo o chefe da Casa Civil, o povo brasileiro votou em Lula porque “quer paz”. E citou o slogan do governo PT. “O slogan que Lula escolheu, ‘União e reconstrução’. Essas serão as duas palavras que simbolizarão esse governo. Unir o Brasil, os diferentes. Unir não significa anular as ideias diferentes, significa buscar sínteses. Intensificar o debate, consenso”.
Também ex-governador da Bahia e presente à posse de Costa, o senador Jaques Wagner, que será o líder do governo PT no Senado, caracterizou a posse de Costa como um “momento de muita alegria”.
Sem metralhadora
Na posse no Palácio do Planalto, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, também adotou um tom moderado. Disse que “o Brasil voltou a respirar”, defendeu o diálogo e, em indireta ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), afirmou que a “metralhadora contra a oposição acabou”.
“Não existe alguém aqui que vai falar de metralhada contra a oposição. Essa época acabou. Nós queremos diálogo com partidos que compõem a base de governo e teremos diálogo e respeito com partidos que estão na oposição”, disse.
Padilha afirmou que sua pasta terá quatro missões, as quais caracterizou como “terapias” para o Brasil: a defesa da democracia, diálogo, o respeito institucional e o cuidado para com a população.
“Nesse ministério está proibido agredir ou insultar qualquer agente político. Está proibido desrespeitar ou discriminar qualquer pessoa pela situação socioeconômica”, completou, mencionando ainda que “racismo, homofobia e misoginia também estão proibidos”, declarou. Além disso, em mais uma alfinetada a Bolsonaro, disse que no terceiro andar do Planalto, onde funciona o gabinete presidencial, estava instalada uma “máquina de fabricar guerras e conflitos todos os dias”.
O ministro apontou, ainda, que recriará o “conselhão” político de Lula, que passará a se chamar Conselho do Desenvolvimento Econômico e Social Sustentável.
Vaias e aplausos
Ao ter o nome anunciado no começo da posse de Padilha, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), foi vaiado. Já a presidente Dilma Rousseff (PT) foi ovacionada e teve o nome entoado diversas vezes, além de frases como “Dilma, guerreira do povo brasileiro”.
Apesar de ter sido anunciado, Lira não estava presente na cerimônia. Outro nome que também foi citado mas não compareceu foi o do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que telefonou para o ministro para justificar a ausência.