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Expulsa de casa pelo pai, mulher trans no Acre dedica a vida ao cuidado de crianças abandonadas

Aos 16 anos de idade, Isadora Fernandes precisou sair de casa, em Feijó, interior do Acre, por não ter sua identidade de gênero aceita pelo pai.


Quando saiu de casa, foi morar com uma tia, em uma Aldeia Indígena. Isadora morou 8 meses na comunidade e virou professora no Projeto Alfa 100, que leva Educação para comunidades isoladas em Feijó.


Muitas travestis e transexuais expulsas de casa acabam nas ruas. Segundo uma estimativa da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), 90% desse público se prostituem, devido à dificuldade de inserção no mercado de trabalho, por deficiência na qualificação profissional causada pela exclusão social.


Mesmo não chegando a esse ponto, Isadora disse ao ContilNet, como doloroso foi o processo de enfrentar um mudo repleto de preconceito.


“Quando cheguei em Rio Branco eu fui passando de casa em casa, morando com meu tio, depois com uma outra tia, onde eu trabalhava como doméstica, eu não tinha trabalho então precisava ajudar com alguma coisa”, disse.


Com a vida difícil na capital, ela teve que voltar para a casa dos pais em Feijó. Isadora lembra que nunca teve o apoio do pai.


“Meu pai nunca me ajudou, sempre fui praticamente sozinha. Hoje entendo que me amam do jeito deles, mas não foi fácil ser tão incompreendida”, disse.


Ao voltar para Rio Branco, Isadora passou por um momento forte de vulnerabilidade. Ela precisou fazer acompanhamento psiquiátrico após uma depressão.


O amor cura tudo


Dona de uma história de luta, Isadora achou no Educandário Santa Margarida e nas crianças, um jeito de superar os obstáculos e a depressão.


“A minha psiquiatra me ajudou muito. Foi ela quem me avisou sobre uma oportunidade de emprego no Educandário, no início eu fui contratada apenas para tirar férias de outras funcionárias da cozinha”.


Após uns meses, ela passou a trabalhar de diarista como cuidadora de crianças. A dedicação e amor com o trabalho encantou a todos e Isadora foi contratada de forma efetiva.



“As únicas pessoas que sabiam que eu era uma mulher trans era a Sheila (colega de trabalho) e o RH. Comecei a trabalhar com medo do que poderiam achar. Mas fui e deu tudo certo. Fui muito bem recebida, sempre tive ótimas recomendações”.


Com 5 meses após a contratação, Isadora se emociona ao falar do trabalho como cuidadora de crianças. “Sempre procuro dar o amor e o carinho que elas precisam. Retribuir uma coisa que eu não tive na minha infância. Aqui tenho a oportunidade de dar o que não recebi”, disse.


No Educandário, Isadora disse que encontrou uma forma de mostrar como ela é de verdade.


“Queria demonstrar o amor de uma outra forma. Mudar aquela imagem que as pessoas têm sobre trans e travestis. Mostrei o meu caráter, que não importava a minha sexualidade, e sim o meu trabalho”.


A paixão pelas crianças faz com que Isadora passe dias seguidos sem ir pra casa, só para ficar mais perto delas. Inclusive, ela passou, por opção, o Natal no Educandário, junto com as crianças.


“Eu me sinto bem perto delas. Tô aqui pra conversar com elas, tirar traumas delas, dar atenção que elas precisam. Porque eu sei o que elas passam, pela experiência de vida que eu tenho”, disse.


Perguntada sobre qual sonho ela quer realizar, Isadora diz que pretende fazer a faculdade de gastronomia, por se identificar com a área e ajudar ainda mais as crianças. “Creio que vou conseguir, basta ser positiva e colocar Deus à frente de tudo”.


Isadora tem 28 anos de idade. Ela é a prova de que o amor quebra todos os tabus e que basta uma oportunidade para mudar o mundo.


POR MATHEUS MELLO, PARA O CONTILNET


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