Em 1999, Rute Santos descobriu que estava grávida pela primeira vez e pensou: “Vou fazer tudo que tiver condição”. Já em 2023, Rute descobriu uma nova gravidez, sua terceira. E novamente pensou: “Vou fazer tudo que tiver condição”.
Ela e o marido, Miguel Arcanjo, estão casados há 23 anos, e estão à espera do quarto filho. O casal já tem Abigail, Arcanjo Miguel e Oséias, que foi adotado em 2019. Ela tem 42 anos, ele, 65. Depois de mais de 20 anos da primeira vez que foram pais, dão as boas vindas a um novo integrante da família, em um mundo muito diferente.
“A primeira vez engravidei mais ou menos um mês depois de casar. A sensação de ser mãe naquela época, não tinha muita coisa. Não sabia, apesar de ter sido criada cuidando de muitos irmãos, tinha experiência com criança, e tinha entendimento de como iria criar o meu. Tinha expectativa de ser a melhor mãe do mundo”, Rute relembra e Miguel concorda: “É tanta felicidade, que é inexplicável.”
Rute conta que 1 ano e meio após o nascimento da primeira filha engravidou pela segunda vez, pois queria ter filhos com idades próximas. Na época, ela e o marido decidiram que não teriam mais filhos, a família estava completa.
“Então, quando ele nasceu disse: pronto, tô completa. Tenho uma menina e um menino. Segurei isso por muitos anos, fiquei com esse entendimento de que não precisava mais. Meu coração estava de boa”, relata.
Família seguiu crescendo
Mas tudo mudaria em 2019. A família se encontrou diante de uma missão, que seria cuidar de Oséias, que chegou à casa com 10 anos. Rute conseguiu a guarda do menino, que, segundo ela, sofria maus-tratos na casa onde morava antes. Quando adotou o garoto, a família também descobriu um diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA).
“A gente recebeu ele em casa, ele chegou bem debilitado, e aí conseguimos diagnóstico de autismo, TDAH, déficit de atenção. Eu já quis desistir, mas eu sei que só minha porta tá aberta pra ele, então entendi que era de Deus eu continuar com ele. Não é fácil, a gente não tem o acesso necessário para uma criança nessa situação e passei a ser a psicóloga dele, a neuropsicóloga, a mãe, tudo dele, junto com meu esposo e meus filhos”, diz.
Para Miguel, a adoção representa o amor, principalmente para ele que ainda queria mais um filho. “Nós temos que arcar com as responsabilidades de pai e mãe dele. E é isso que estamos fazendo”, ressalta.
Casal vai ter outro filho após 23 anos — Foto: Arquivo pessoal
Gravidez após os 40 anos
“Eu ainda estou processando, me adaptando à nova rotina”, confidencia Abigail Sunamita, a filha mais velha de Rute e Miguel. Aos 23 anos, ela e os irmãos foram surpreendidos com um jantar no qual foi revelada a chegada do novo integrante da família. (Veja o vídeo mais acima)
“Pensávamos que era minha tia, que fez laqueadura, e achamos que a laqueadura tinha dado errado. E aí, quando chegou o momento, pediram pra que eu abrisse uma caixa. Quando abri a caixa, eu vi o teste positivo da minha mãe e uma foto deles dois juntos. E aí entendi que era um novo irmão que estava chegando”, relembra.
Para ela, que não lembra da mãe grávida, vai ser um processo novo. Ela ressalta que a família já havia precisado se adaptar ao processo de adoção, e agora, recebe mais um morador na casa.
“E ainda tem a possibilidade de serem gêmeos, na família tem muitos gêmeos. Minha mãe está muito sensível, e já é uma gravidez considerada geriátrica, arriscada para ela. É uma adaptação”, destaca.
Durante um jantar, o casal contou aos filhos que eles teriam um novo irmão — Foto: Arquivo pessoal
Durante um jantar, o casal contou aos filhos que eles teriam um novo irmão — Foto: Arquivo pessoal
Durante um jantar, o casal contou aos filhos que eles teriam um novo irmão — Foto: Arquivo pessoal
Novos tempos
“A alegria foi grande, porque já tinha pensado em ter um filho na velhice. Minha esposa achou que não deveria, mas depois aconteceu. A gente fica na expectativa muito grande, acredito que é um propósito do Senhor”, conta Miguel.
Para Rute, a notícia de uma nova criança é ainda mais impactante. Ela passou recentemente por uma cirurgia por conta de um aneurisma, e ainda segue em recuperação. Por isso, ela temeu que familiares e amigos iriam considerá-la irresponsável por engravidar com a saúde debilitada.
“A preocupação que tenho hoje é a minha idade, a idade do meu esposo, que já é idoso. A paciência é outra, a atitude é outra, tem a questão da saúde da criança. Se eu vou resistir ou não. Tem um ano que eu fiz uma cirurgia de aneurisma, não sei se estou em condições”, avalia.
Mas, a notícia só trouxe alegria aos mais próximos do casal. E para Miguel e Rute, a chegada de mais um filho representa um novo desafio para eles, que tiveram filhos pela primeira vez em uma época diferente.
“Ser mãe após 20 anos é uma missão como se você tivesse começando tudo de novo. E é tudo incerto”, ela diz. “Tem grande diferença, naquele tempo era mais fácil, mas a gente confiando, acreditando, lutando, dá certo. Colocando Deus à frente, tudo dá certo. Antigamente a gente ganhava menos, mas as coisas rendiam mais”, ressalta Miguel.
Rute também considera que criar filhos atualmente é diferente. Para ela, as crianças são criadas com informações diferentes e agora que atua como empreendedora, terá menos tempo do que quando se dedicava exclusivamente à família, sem trabalhar fora. Mesmo assim, confia que tudo dará certo para a família.
“Nós estamos nesse mundo para ser útil. Ninguém tá nesse mundo para servir só a si. Eu voltei dessa cirurgia porque preciso ser útil nesse mundo. Essa criança que eu tenho dentro de mim é bem-vinda. Não tem o conforto que eu gostaria de dar, mas é como eu pensei no início: vou dar o meu melhor por todos da minha casa”, conclui.
Com informações g1.
