O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, disse estar “sempre pronto” para entrar num ringue com seu homólogo russo, Vladimir Putin. A declaração se deu em um momento descontraído de uma entrevista sua ao canal público francês LCI veiculada neste sábado (17). “Amanhã mesmo. Estou à disposição dele”, prosseguiu o líder ucraniano, rindo.
Zelenski respondia a uma pergunta sobre se ele achava que Putin nutria uma espécie de ódio pessoal contra ele. “Quando um homem de verdade quer mandar uma mensagem a alguém, ele faz isso sozinho, sem recorrer a um intermediário. Se eu tivesse uma mensagem do tipo para dar a Putin, eu o faria diretamente”, disse, já mais sério, o ucraniano, que antes de ascender ao poder ganhou fama interpretando justamente um presidente na série de comédia “Servo do Povo”.
A afirmação de Zelenski é veiculada um dia depois de as tropas russas derrubarem mais de 50% da energia na Ucrânia, em uma das maiores ações do gênero desde que Moscou passou a alvejar a infraestrutura do país, em outubro. Na manhã deste sábado, serviços básicos de Kiev tinham sido retomados, como o fornecimento de água e o sistema de metrô -mas um quarto dos residentes da capital continuava sem aquecimento, enquanto um terço seguia sem eletricidade.
Os ataques contínuos de Moscou contra a infraestrutura ucraniana foram, aliás, um dos assuntos discutidos na entrevista –o entrevistador, Darius Rochebin, perguntou se a estratégia representava uma “nova forma de guerra” contra o país invadido.
Zelenski retrucou que, pelo contrário, a tática tinha sido usada em muitos outros momentos da história, inclusive pelo Exército alemão durante a Segunda Guerra Mundial. “A estratégia de Putin é tão suja quanto a de Hitler em sua época, mas o mundo já sobreviveu a esse tipo de agressão e sobreviverá de novo”, disse.
Esta não foi a primeira vez que o ucraniano equiparou os dois, aliás. Em um vídeo recheado de referências históricas divulgado em maio, quando a Guerra da Ucrânia ainda não tinha adentrado em seu segundo mês, Zelenski disse que Moscou faz uma “encenação sangrenta, uma repetição fanática do nazismo”.
Putin, por sua vez, tinha como uma de suas justificativas ao invadir o país vizinho a ideia de que era preciso “desnazificá-la”, uma alegação bastante contestada por especialistas.
Voltando à entrevista, a comparação foi um dos muitos momentos em que Zelenski aproveitou para criticar Putin pessoalmente. A certa altura, ele afirmou que o russo e seu entorno fazem uso de políticas que “espelham o pior da era soviética”, dividindo a população entre “patrícios e plebeus”. Depois, disse que as suas ameaças nucleares provam sua “fragilidade e desarranjo mental”.
Zelenski ainda voltou a declarar que não pretende negociar um tratado de paz com o Kremlin. “É muito difícil aceitar um diálogo com alguém quando essa pessoa está armada com uma metralhadora ou uma arma nuclear”, afirmou. “Esse homem não quer paz a não ser do jeito dele.”
A posição oficial o ucraniano é de apenas sentar à mesa com a Rússia se todas as áreas ocupadas do seu país forem liberadas. O nó dessa assertiva é que ele inclui aí a Crimeia, anexada em 2014, e as áreas do Donbass sob controle russo desde aquele ano, na esteira da guerra civil que se seguiu à derrubada de um governo pró-Moscou em Kiev.
No último dia 5, em meio ao esforço americano para tentar abrir canais de negociação, o secretário de Estado, Antony Blinken, afirmou que as conversas deveriam começar assim que a Rússia tirasse seus soldados das áreas que ocupou a partir de 24 de fevereiro –ou seja, excluindo as áreas russófonas sob controle de Moscou desde 2014 da precondição.
Enquanto isso, as autoridades militares ucranianas continuam alertando o Ocidente acerca de um renovado ímpeto russo para uma ofensiva no começo do ano que vem. Em entrevistas recentes, elas disseram que a ideia de Moscou é ganhar tempo com a disrupção da infraestrutura enquanto prepara seus 320 mil reservistas mobilizados.
Também neste sábado (17), o Kremlin anunciou que Putin se reuniu com seus comandantes das Forças Armadas em Moscou para ouvir suas opiniões sobre como a campanha militar deve prosseguir na Ucrânia.
(FOLHAPRESS)