Faltando menos de uma semana para a posse do governo eleito de Luiz Inácio Lula da Silva, a possível indicação de Simone Tebet (MDB) para assumir o Ministério do Planejamento e Orçamento criou desconforto para uma ala do PT e deflagrou uma negociação pela reestruturação da pasta.
Neste terça-feira (27) está previsto um encontro entre Tebet e Lula para tratar do ministério.
O nome da senadora como titular do Planejamento é defendido pela presidente do PT, Gleisi Hoffmann, que quer mulheres em postos mais importantes no governo. No entanto, a proposta não foi bem aceita pelo futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sob o argumento de que ele e Tebet têm visões diferentes sobre a condução da área econômica.
Nesta segunda-feira (26), Haddad conversou com integrantes do MDB e fez um apelo para que o senador eleito Renan Filho (MDB-AL) assuma a pasta.
A pasta, no entanto, foi reivindicada pelo PT por ser responsável pela gestão do Bolsa Família, programa que é a vitrine do partido e vai iniciar o governo com um dos maiores orçamentos entre os ministérios.
Desde então, o governo eleito tem buscado alternativas para a senadora, que foi importante para ampliar os votos de Lula no segundo turno.
Como desejo inicial já foi frustrado, interlocutores do PT dizem que será politicamente complicado não atender novos pleitos da senadora. Na sexta, quando conversou com Tebet, Lula também colocou sobre a mesa os ministérios do Turismo e Cidades como opções.
A senadora rejeita ocupar o Turismo. Já em relação a Cidades, o entrave ocorre porque a pasta é reivindicada pela bancada do MDB na Câmara. A avaliação no partido é que se Lula der a Tebet a pasta, isso criaria um problema político com os deputados, o que poderia gerar desgastes ao petista em votações na Casa.
Tebet chegou a ser convidada para o Ministério da Agricultura, mas rejeitou assumir a pasta. Depois, o PT passou a trabalhar com o cenário em que ela assumiria o Ministério do Meio Ambiente. Como mostrou a Folha de S.Paulo, Gleisi Hoffmann inclusive sondou a senadora para a pasta na segunda-feira da semana passada (19).
A emedebista, porém, não queria passar por cima de Marina Silva (Rede-AP) e condicionou aceitar o Meio Ambiente somente se a colega declinasse.
O plano do PT era que Marina fosse a autoridade climática do governo e assumisse o órgão, que teria status de ministério, ligado à Presidência da República. A deputada eleita pela Rede, porém, deixou claro que preferia ser ministra. Por isso, Lula indicou ainda na semana passada que nomearia Marina como titular da pasta ambiental.
Lula reafirmou a Tebet que gostaria de tê-la no primeiro escalão do governo e a sondou para o Planejamento. A senadora tem dito a aliados que não condicionou o apoio a Lula a um espaço no governo, e que, por isso, só aceitaria uma pasta em que ela julgasse que poderia colaborar com o governo.
A senadora relatou ainda que não teria tanta afinidade com a política econômica do PT e que isso poderia ser uma dificuldade. A parlamentar, porém, recebeu apelos, inclusive de representantes do mercado financeiro, para aceitar o ministério.
A escolha do titular do planejamento se arrasta há semanas.
Gleisi Hoffmann almejava o posto e chegou a ser cotada, mas Lula preferiu que ela permanecesse como presidente do PT. O senador eleito Wellington Dias (PI-PT) chegou a ser cogitado para o posto, mas acabou escolhido para Desenvolvimento Social.
Ventilou-se um convite para o economista Persio Arida, mas ele declarou em entrevista à Folha de S.Paulo que não tinha intenção de retornar ao governo, sinalizando que sua contribuição ficaria restrita a sugestões para o grupo de trabalho dedicado à transição na economia. O economista André Lara Resende foi convidado para assumir a pasta há uma semana, mas declinou.
(FOLHAPRESS)