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Rússia faz acordo com EUA e liberta Brittney Griner em troca de traficante ‘senhor das armas’

Brittney Griner, jogadora de basquete americana, ao chegar a audiência por posse ilegal de cânabis - Kirill Kudriavtsev - 07.ago.22/AFP

A jogadora de basquete americana Brittney Griner foi libertada pela Rússia nesta quinta-feira (8), depois de Moscou e Washington concordarem em realizar uma troca de prisioneiros. Griner estava detida na Rússia desde fevereiro devido à acusação de posse de haxixe.


A contrapartida americana foi a libertação do russo Viktor Bout, condenado por tráfico de armas. O avião que o transportava pousou em Moscou na madrugada desta sexta, pelo horário local.


Conhecido como “Mercador da Morte”, ele foi detido em Bancoc, na Tailândia, em uma operação da Agência de Repressão às Drogas dos EUA em 2008 e extraditado para Nova York em 2010. Famoso por inspirar o filme “O Senhor das Armas”, estrelado por Nicolas Cage, Bout cumpria pena de 25 anos de prisão.


A troca de prisioneiros aconteceu no aeroporto de Abu Dhabi, e o presidente Joe Biden agradeceu aos Emirados Árabes Unidos por facilitar o acordo. Mais tarde, o país árabe emitiu nota afirmando que as tratativas foram feitas em parceria também com a Arábia Saudita —o que a Casa Branca depois negou.


Griner foi detida em 17 de fevereiro no aeroporto internacional Sheremetievo, próximo a Moscou, acusada de carregar cartuchos de óleo de haxixe —substância derivada da cânabis, ilegal na Rússia— para serem usados em um cigarro eletrônico. Ela tem prescrição para usar maconha de forma medicinal nos EUA, para tratar dores crônicas.


O caso, que já era difícil, ganhou outra dimensão uma semana depois, quando Vladimir Putin decidiu invadir a Ucrânia. Nas semanas que se seguiram, Biden chamou o russo de criminoso de guerra, Moscou afirmou que os EUA promovem banditismo, e as relações entre os dois países colapsaram.


Griner estava na Rússia para jogar na liga de basquete feminino do país no período de intertemporada do esporte nos EUA —algo que jogadoras costumam fazer para complementar a renda, dados os salários mais baixos em comparação à modalidade masculina. Ela atuava pelo UMMC de Iekaterimburgo, na região dos montes Urais, mais perto do Cazaquistão do que do leste da Europa.


Nos EUA, ela é contratada do Phoenix Mercury. Com 32 anos e 2,06 metros de altura, é considerada uma das estrelas do basquete no país desde a época de liga universitária, quando defendeu a Universidade de Baylor. Bicampeã olímpica (Rio-2016 e Tóquio-2020), ela se juntou aos atletas que se manifestaram contra o fato de o hino americano tocar antes dos jogos em protesto contra a morte de George Floyd em 2020.


Logo após ser presa, ela assumiu diante de um tribunal russo a culpa por levar o óleo de haxixe para o país, mas sempre sustentou que não o fez por querer. Disse que não sabia como a substância foi parar em sua bagagem e que isso podia ter acontecido por ter arrumado as malas de forma apressada —já que ela pode usar a substância nos EUA. Em agosto, havia sido condenada a nove anos de prisão.


A prisão gerou comoção nacional e pressão sobre a Casa Branca, já que a atleta tem visibilidade, o que colocou a família de Griner em contato direto com o presidente americano. No começo da manhã desta quinta, ao anunciar a liberação da americana, Biden afirmou que conversou por telefone com a jogadora de basquete, que já estaria em um avião a caminho de casa. “Brittney é uma atleta incomparável, duas vezes medalhista de ouro nas Olimpíadas. Ela aguentou maus-tratos e encarou o julgamento na Rússia com coragem e dignidade incríveis. Ela representa o melhor da América”, afirmou.


Em nota, a chancelaria da Rússia afirmou que “Washington se recusava categoricamente a dialogar sobre a inclusão do cidadão russo nas negociações de troca”, segundo a agência russa de notícias Tass. “No entanto, a Federação Russa continuou a trabalhar ativamente para a libertação de nosso compatriota.”


A oferta de trocar Griner pelo criminoso russo, porém, provocou debate interno. Acusado de contrabandear armas para guerras civis sangrentas em diferentes partes do mundo, como Serra Leoa, Libéria, Angola, República Democrática do Congo e Bósnia, ele foi descrito como “um dos homens mais perigosos na face da Terra” por um chefe da DEA, a agência antidrogas dos EUA.


Em meados deste ano, o ex-presidente Donald Trump, acusado por opositores de fazer o jogo político de Putin nos EUA, condenou os esforços para libertar a jogadora, a quem chamou de mimada.


Havia a expectativa de que a negociação que liberou Griner envolvesse também o caso de outro americano preso na Rússia, Paul Whelan, ex-militar detido em 2018 sob acusação de espionagem e condenado em 2020 a 16 anos de prisão, o que acabou não acontecendo.


Whelan foi citado pela mulher de Griner, Cherelle, diante de Biden nesta quinta. “Hoje minha família está em casa, mas, como vocês sabem, muitas não estão”, disse. “Em nome de Brittney, continuaremos comprometidos a trabalhar para que cada americano volte para casa, inclusive Paul, que está nos nossos corações hoje.”


Biden afirmou que Moscou “está tratando o caso de Paul de uma forma diferente do de Brittney” e que não vai desistir de trazê-lo para casa. O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, responsável pela diplomacia americana, disse que “gostaria de ter trazido Paul para casa no mesmo avião” que a atleta e que o país não conterá esforços para repatriá-lo “e a todos os outros cidadãos dos EUA mantidos como reféns ou detidos injustamente no exterior”.


À emissora CNN, em um telefonema da prisão, Whelan afirmou estar desapontado pelo fato de o governo americano, segundo ele, não ter feito mais para garantir sua libertação. “Especialmente porque o aniversário de quatro anos de minha prisão está chegando”, disse ele, acrescentando que sua situação precisa ser resolvida rapidamente.


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