Mensagens obtidas com exclusividade pela Rede Amazônica, nesta semana, mostram como funcionava um esquema de tráfico de drogas e lavagem de dinheiro em Guajará-Mirim (RO), na região de fronteira do Brasil com a Bolívia.
O grupo criminoso foi exposto na última semana pela Polícia Federal (PF) durante a operação Canto da Serpente, quando foram cumpridos 25 mandados de prisão preventiva e 44 de busca e apreensão nas cidades de Guajará-Mirim, Porto Velho e São Paulo.
Segundo as investigações da Polícia Federal, os traficantes se uniram e criaram um consórcio da droga para dividir lucros e prejuízos. Esse consórcio, de acordo com a PF, era gerenciado por três traficantes. O chefe foi identificado pela PF como Cláudio Pereira Magalhães, conhecido como Don Papito.
Ele seria o responsável pela logística e venda da droga. As mensagens abaixo, enviadas por ele, mostram uma das negociações (ouça os áudios no vídeo acima):
Don Papito: “Se eu chegar aí com 200 kg, ou 300 kg, não sei, não importa. Se tu pagar todinho no outro dia ele te vende mais… Isso é um novo negócio, sem problema”.
A droga era armazenada em Guajará-Mirim e antes de ser enviada ao destino recebia uma espécie de marca, um selo amarelo, para ser identificada como um produto do consórcio da droga.
Don Papito: “Se a gente chegar aí com 200 kg dessa mercadoria, dessa que eu tenho aqui amarelinha […] Quando essa mercadoria chegar aqui na minha cidade eu vou fazer do mesmo jeito que esse boliviano teu aí fez”.
Em outra troca de mensagens é possível perceber que antes das prisões, os traficantes já desconfiavam da aproximação da polícia. Na conversa abaixo, Don Papito fala para outro integrante que está sendo seguido.
Don Papito: “Deixa eu te falar, rapaz. Bicho, a Polícia Federal colou na minha vida de um jeito, cara que eu não tô conseguindo nem suspirar. Os caras estão me seguindo 24h. Quando não é eu é a mulher. Esse carrinho meu também já é conhecido, né? Eu tô tendo que mudar toda situação”.
Don Papito: “E vou te falar: quase eles me pegam com a boca na botija ó cara, se eu não tivesse me ligado que era o carro deles eu tinha ido lá para onde está as coisas do pessoal guardado, os caras tinham me flagranteado. Agora tá feio, meu irmão, tá feio”.
Don Papito: “Uns quatro carros, carros que eu vi diferentes, todo tempo, meu irmão, todo tempo, mas eles não conseguem me pegar no zap, não tenho mandado de prisão pro meu lado, né? Mas é o seguinte, isso aí infelizmente faz parte, né? Eles fazem o trabalho deles e nós temos a nossa vida”.
Cantora e dentista identificados
Outra pessoa identificada no esquema é Cinthya Melo, conhecida, segundo a PF, por cantar em festas na região de Guajará-Mirim. Ela é suspeita de abrir empresas de fachada, usar amigos e familiares como laranjas para lavar o dinheiro do tráfico.
Segundo as investigações, durante a lavagem de dinheiro, Cinthya contava com o auxílio do dentista Kelvin Moreira, responsável pela contabilidade do consórcio da droga. Os dois também foram presos.
Durante a operação, a Justiça Estadual de Rondônia determinou ainda a suspensão de 14 empresas que eram usadas pelos criminosos para movimentar o dinheiro oriundo do tráfico de drogas. Também foram bloqueados R$ 330 milhões das contas dos investigados, sequestrados 25 veículos, avaliados em cerca de R$ 1,2 milhão, além do sequestro de quatro imóveis.
O que diz a defesa dos citados?
A defesa dos suspeitos afirmou que aguarda o relatório conclusivo do caso. A defesa disse que os valores levantados pela Polícia Federal não condizem com a realidade dos suspeitos e que ao final do processo será provado que os suspeitos não praticaram crimes relacionados ao tráfico de drogas.