A Polícia Civil divulgou, na manhã desta quarta-feira (14), mais informações sobre o caso de quatro crianças que foram assassinadas em Alvorada, na Região Metropolitana. O crime foi descoberto na noite passada, quando foram localizados os corpos das vítimas dentro de uma casa no bairro Piratini. O pai delas, David da Silva Lemos, 28 anos, foi preso em flagrante em Porto Alegre por suspeita de ter sido o autor dos assassinatos.
Segundo o delegado Augusto Zenon, plantonista do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), ao ser levado até a delegacia, Lemos narrou informalmente aos policiais como se deu o crime.
A motivação decorreu em razão de desavenças com a ex-companheira. Como forma de causar mal, vingança — afirma o delegado.
Ainda conforme o policial, o crime teria acontecido no fim da tarde de segunda-feira (12). As crianças tinham sido deixadas com o pai para passar o fim de semana na casa dele em Alvorada. A avó paterna havia saído para trabalhar, na segunda-feira, e foi quem localizou os corpos dos netos no final da tarde de terça.
O homem ainda contou aos policiais, segundo o delegado, que teria usado um chá para dopar os filhos antes do crime. No entanto, somente a perícia poderá confirmar se as crianças foram mesmo dopadas.
Zenon afirma que a possibilidade de as vítimas estarem sedadas durante o crime realmente condiz com o que foi apurado no local. A faca usada nos homicídios foi aprendida na casa.
— Os vizinhos nos arredores realmente não ouviram gritos, nem nada. Ele (o suspeito) contou que levava cada criança em separado para dentro da casa, que a criança entrava em estado de relaxamento, dormia, era asfixiada e então ele desferia os golpes de faca — diz o delegado.
Foram mortas três meninas, de três, seis e 11 anos, e um menino, de oito anos. Todos eles eram filhos da mesma mulher, de quem Lemos estava separado há algum tempo.
O delegado confirmou que havia episódio de registro de violência doméstica e que a mulher chegou a ter medida protetiva de urgência contra o ex-companheiro. A polícia, contudo, ainda não conseguiu apurar se a ordem judicial estava em vigor. Ainda conforme o delegado, as vítimas teriam sido atingidas por pelo menos 10 golpes de faca. A criança de três anos foi asfixiada.
Depois do crime, o pai teria seguido para Porto Alegre e e ainda trocou mensagens por telefone com a mãe das crianças. O preso deixou o Palácio da Polícia às 8h50min, de onde foi conduzido ao sistema prisional.
A GZH, a Defensoria Pública do Estado afirmou que se manifestou no auto de prisão em flagrante, no Palácio da Polícia. Agora, seguirá o processo do inquérito policial, e o homem poderá constituir um advogado particular ou então seguir sendo atendido pela Defensoria Pública — neste caso, a instituição diz que irá atuar conforme seu dever constitucional.
“Acabou para nós”
Familiar das crianças pelo lado paterno, Ana Terezinha Guimarães Rosa, 53 anos, esteve no Palácio da Polícia durante a manhã desta quarta. Arrasada, disse que só foi ao local para saber se Lemos continuava preso.
— Acabou pra nós. As crianças foram embora e a gente foi junto com eles — desabafou.
A dona de casa, que é cunhada da avó paterna, relatou que as crianças chegaram a residir em Alvorada, mas após a separação dos pais passaram a morar na Capital com a mãe.
— A esposa dele não queria mais voltar para ele. Ele não queria trabalhar. Não queria cuidar dos filhos — disse.
Sobre as vítimas, disse que a rotina deles se dividia entre a casa e a escola.
— Eram crianças maravilhosas. É uma tristeza. Não tem como acreditar nisso. Estamos destruídos — afirmou.