Acreana que mora no Japão desde 2019 conta como é a vida na Terra do Sol Nascente

O mundo globalizado, a distância encurtada através das Redes Sociais, e principalmente a facilidade de adquirir informações através da internet, foram entre outras coisas fatores que muito contribuíram para a jovem Bruna Alícia, de 24 anos, decidir ir morar no Japão, a Terra do Sol Nascente, país asiático que tem como prioridades, a educação, segurança, trabalho e a dignidade.


Alícia conheceu seu marido em Rio Branco, no ano de 2017, um japonês que estava residindo na capital acreana. Como a família dele resolveu voltar para o Japão, ela também foi convidada, se preparou muito em questões de comunicação e rumou para uma nova vida na Ásia. Atualmente, ela trabalha como Youtuber, produz conteúdos que retratam o cotidiano do lugar, mas sempre arruma tempo para fazer um bico, tendo em vista que segundo ela, não falta trabalho para quem tem disposição.


Nós realizamos uma entrevista com a brasileira, para descobrir um pouco mais de como é a sua rotina na terra dos Imperadores. Veja na íntegra:


Bio da Alícia


Me chamo Bruna Alicia, mas quase ninguém me conhece assim, geralmente me chamam de Balicia que é como me identifico nas Redes Sociais. Tenho 24 anos, meu trabalho principal é Youtuber (produzindo conteúdo para internet) mas procuro sempre ter uma segunda renda, um segundo emprego aqui no Japão, que chamamos de Arubatō (traduzindo seria tipo um BICO) pois moro em um dos lugares mais caros do mundo, e é bom ter uma graninha extra. Já trabalhei em vários lugares aqui como: fábrica de peças de carro, fábrica de alimentos, bar, fábrica de fios para trem, entre outros. Hoje trabalho três vezes por semana em uma padaria. Sou casada. Sou filha da Edinelsa Barreiros, pedagoga, e de Alexandre Barreiros, professor e músico, conhecido como “Para”.


AcreNews: Por que decidiu ir embora para o Japão?


Em 2016 comecei a namorar meu marido (Ygor Junji), ele nasceu no Japão e estava morando no Acre há cinco anos, mas em 2017 a família dele resolveu voltar, e nós decidimos namorar a distância até poder voltar pro Brasil. Em 2018, ele me convidou para vir ao Japão para conhecer e saber se eu gostaria de morar aqui. Vim, passei 3 meses e gostei, decidimos então que moraria, pois seria uma oportunidade de conhecer um novo país, aprender uma nova língua e ter mais qualidade de vida. Então, eu voltei para o Japão em 2019 onde nos casamos, e agora vão fazer 4 anos que moro em Tóquio, a capital.


AcreNews: Quais as principais dificuldades encontradas no início e, quais as dificuldades na atualidade?


A principal dificuldade com certeza foi o idioma, eu já estudava japonês, pois sabia que viria. Estudei a língua por ano, aprendi o básico, mas quando cheguei aqui descobri que não sabia praticamente nada. A minha sorte é que a família do meu marido sempre estava ali pra me ajudar, principalmente ele que me ajuda até hoje.


Atualmente já sei me virar bastante com a língua japonesa, estudo ainda, e ter contato com o idioma todos os dias ajuda bastante, ainda não sou fluente, mas consigo viver tranquila. Hoje em dia minha maior dificuldade é viver longe da minha família, no Brasil. Eu morava com a minha mãe, apenas nós duas, nossas vizinhas eram minha tia e minha avó, então, sempre fomos unidas, meus amigos sempre estavam na minha casa, isso faz uma falta danada. Sem contar que a vida fora do Brasil é bem solitária de certa forma, principalmente no Japão, as pessoas trabalham muito e se comunicam menos, fazer amizade é bem difícil, você se sente bem sozinha na maioria dos dias, sente falta da família, do calor brasileiro, da empatia brasileira e dos costumes, principalmente quem veio de cidades pequenas. Mas, nem sempre é assim, cada pessoa tem sua experiência né, mas conheço várias pessoas que têm o mesmo sentimento que o meu.


AcreNews: Como é a cultura japonesa, principalmente no que se diz sobre a educação?


Sinto que os brasileiros têm uma imagem meio “errada” em relação ao Japão. Sempre vejo as pessoas retratando os japoneses como os mais educados do mundo, os mais silenciosos, os mais inteligentes, meio que robôs, sabe? Na verdade, os japoneses só são muito regrados, tem regra pra tudo aqui, mas sinto que as regras servem mais para os estrangeiros do que para eles mesmos. Sim, eles são educados! Faz parte da cultura serem educados, porém, pode ter certeza que uma grande parte não segue isso, as pessoas são normais aqui, gritam, brigam na rua, roubam, existem crimes, e tudo mais, no entanto, a diferença é que isso não passa nos jornais fora do Japão. Se compararmos com o Brasil, realmente aqui é um país mais seguro, e esse é um dos motivos pelo qual escolhi morar aqui. A segurança de poder andar na rua de madrugada sem medo, deixar meu celular na mesa de restaurante ou bar e ter a certeza que ninguém vai pegar, essas coisas simples que não tem preço. Como falei, a cultura japonesa tem várias regras, desde comer até andar de bicicleta, digamos que é uma país mais metódico.


O Japão é focado muito na educação escolar e no trabalho. As crianças estudam integralmente desde o Ensino Fundamental, eles estimulam muito a criatividade e o esporte em atividades extracurriculares, ensinam a cozinhar, costurar, tocar instrumentos, e uma coisa muito legal é que ensinam responsabilidade com a limpeza, o famoso “sujou, limpou”.


Todos os dias depois do almoço os próprios alunos que limpam a escola, isso funciona em alguns trabalhos, principalmente em fábricas, no final do trabalho limpamos o espaço onde trabalhamos, é uma questão de respeito com o espaço onde você vive.


Os japoneses também são muito pontuais e responsáveis com suas obrigações, não importa o tipo de obrigação, mais lembrando que nem todos são assim, estou falando muito da cultura, não de todos os japoneses, o mundo precisa entender que o Japão não é uma país perfeito, na verdade tá bem longe de ser, principalmente para mulheres.


AcreNews: Com o que você mais se identifica com o Brasil?


Bom, sou brasileira né? Me identifico com praticamente tudo que me lembra meu país e como vejo ele: pessoas acolhedoras, com a melhor culinária do mundo, as paisagens mais lindas que já vi, abraços calorosos, pessoas que sabem se comunicar em qualquer lugar do mundo, pois o brasileiro é cativante e conquista qualquer um.


AcreNews: Para você, qual a maior vantagem de morar no país asiático?


Com certeza a segurança e a independência financeira. O Japão realmente é um país muito seguro, praticamente não existem assaltos, assalto a mão armada não existe até porque o acesso a armas aqui é algo impensável e inaceitável, realmente não existe. Existem crimes, só que em quantidade menor que em outros lugares do mundo. A independência financeira é muito boa, o salário é justo. Você recebe por horas trabalhadas, e aqui nunca falta emprego, sempre existem vagas, ninguém se importa em trabalhar em empregos como diarista, garçonete ou outros empregos que são vistos como ‘pouca coisa’ no Brasil. Aqui ganhamos muito bem nesses serviços, dá pra viver bem.


AcreNews: Você é casada, mas como é ficar longe dos parentes e amigos?


É bem difícil pra mim, é a pior parte de morar fora, não tem um dia que eu não sinta falta da minha família e amigos, por mais que eles se façam muito presentes na minha vida, mesmo que distante. Sinto falta de juntar meus amigos em casa, juntos com a minha mãe que também é amiga deles, tem dias que o que mais quero é voltar no tempo e curtir mais esses momentos que tive com eles. Mas saber que tenho um lugar para voltar, uma família e amigos para contar já me conforta bastante, também posso visitá-los e dar a chances de eles virem me visitar e conhecerem o outro lado do mundo.


AcreNews: Quais seus projetos futuros, pretende voltar?


Pretendo terminar minha faculdade de Designer aqui no Japão e nos mudarmos para Holanda, onde eu e meu marido sempre sonhamos em morar, fica mais perto do Brasil e podemos visitar nossas famílias com mais frequência. Também pretendo continuar produzindo conteúdo para Internet, mostrando várias curiosidades sobre o Japão no meu canal, mostrando muito sobre minha vida como estrangeira aqui e para qualquer outro país que eu for. Pretendo voltar para o Brasil para visitar e passar algumas temporadas, hoje não penso em voltar para morar, e isso pode mudar até porque sinto muita falta do meu país e da nossa cultura.


AcreNews: Qual foi uma situação vivenciada por você que jamais se imaginaria que aconteceria no Brasil?


Aconteceram várias, uma delas foi que eu estava jantando em um restaurante com meu marido, e aqui temos o costume de deixar objetos nas mesas ou cadeiras, para marcar que tem alguém sentado ali, quando cheguei aqui eu não estava acostumada com isso, as pessoas literalmente deixam carteiras, celulares, chave de carro, tudo de valor que você possa imaginar em cima das mesas e saem. Então, me deparei com aquilo e fiquei chocada, que ninguém tem medo de ser roubado! Agora, estou mais acostumada e até faço o mesmo, é realmente uma coisa que não imagino ninguém fazendo no Brasil.


AcreNews: Deixe uma mensagem para os nossos leitores!


Se você tem o sonho de sair do Brasil e conhecer outros países, aprenda a língua do país antes de ir, é fundamental para o seu crescimento, para conseguir empregos melhores, fazer amizades, construir uma vida naquele país. Aprenda inglês, pois ajuda em todos os lugares possíveis, é o que mais me salvou em várias situações diárias. Tenham em mente que a vida fora do Brasil geralmente é bem mais difícil, até porque você longe de toda sua rede de apoio e zona de conforto, você vai dar muito mais valor a coisas simples que vivia no Brasil. Mas, também tem uma parte incrível que você vai descobrir e ter sua própria experiência, não desista porque não é impossível.


Outra coisa, se inscrevam no meu canal BALICIA e me sigam no Instagram @baliciaaa. Lá dou várias outras dicas pra quem quer morar fora no Brasil. Obrigada!


Abud Mamed para o AcreNews


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