O Ministério dos Negócios Estrangeiros russo acusou as autoridades francesas de intensificar uma campanha “anti-russa” em África e de tentar “desacreditar a assistência amigável” que Moscovo presta aos seus parceiros no continente.
“Acreditamos que as autoridades francesas (…) precisam de pensar mais frequentemente nas consequências das suas actividades, palavras e acções, por vezes irresponsáveis”, disse Maria Zakharova, porta-voz da pasta diplomática russa, numa conferência de imprensa.
As relações diplomáticas entre Paris e Moscovo não estão no seu melhor devido à guerra na Ucrânia, embora a resposta das autoridades galegas a um ataque recente com um pacote explosivo perto da embaixada russa na República Centro-Africana (RCA) também não tenha ajudado.
Este incidente deixou Dmitri Siti, director do centro cultural Casa Rusa, gravemente ferido, e levou o fundador do Grupo Wagner, Yevgeni Prigozhin, a apontar directamente para França como responsável pela explosão, uma vez que a bomba parcelar foi alegadamente acompanhada por uma carta que falava “em nome de todo o povo francês”.
De Paris, a Ministra dos Negócios Estrangeiros francesa, Catherine Colonna, descreveu as declarações de Prigozhin como “falsas” e aproveitou a oportunidade para denunciar a “propaganda” difundida pelo Kremlin e as operações realizadas no continente africano através do Grupo Wagner.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros russo já tinha convocado na quarta-feira o embaixador francês em Moscovo, Pierre Lévy, para protestar contra as declarações do Ministro Colonna sobre o ataque na República Centro-Africana.
INVESTIGAÇÃO DO ATENTADO NA CAR Zakharova também reconheceu que Moscovo está à espera que as autoridades da CAR iniciem uma investigação sobre as circunstâncias do “crime” e espera que os perpetradores do ataque sejam punidos.
“Acreditamos que as autoridades da África Central têm o direito de pedir ajuda na investigação deste ataque terrorista aos serviços competentes de outros Estados que possam ajudar a esclarecer a situação”, acrescentou ela.
“Na República Centro-Africana, muitas vezes graças aos esforços dos países ocidentais, principalmente da França, cria-se uma atmosfera de informação negativa, por vezes histérica e tóxica, em torno de representantes e especialistas russos que realizam as suas actividades no país apenas a convite das autoridades oficiais da República Centro-Africana”, disse ele.
O país africano foi mergulhado numa grave crise na sequência da retirada da corrida presidencial de 2020 do ex-presidente François Bozizé, que regressou ao país no final de 2019 para se candidatar novamente à presidência, cargo que renunciou em 2014 face à revolta dos rebeldes Séléka, predominantemente muçulmanos.
A eliminação da candidatura de Bozizé levou à criação da aliança armada Coalizão de Patriotas pela Mudança (CPC) – actualmente liderada pelo antigo presidente – que desencadeou um conflito armado no qual o exército da RCA foi também apoiado por mercenários russos do Grupo Wagner.
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