Vettel dá adeus à F1 idolatrado por postura dentro e fora das pistas

Darren Heath/Getty Images

Poucos pilotos na história da Fórmula 1 conquistaram tantos admiradores dentro e fora das pistas quanto Sebastian Vettel. Ao longo de 16 temporadas, ele faturou quatro títulos, dois vice-campeonatos e, principalmente nos últimos anos, angariou o respeito dos colegas e fãs de automobilismo pelas posições favoráveis à diversidade, respeito aos direitos LGBT+ e sustentabilidade.


O piloto alemão vai se despedir da F1 no domingo, no GP de Abu Dabi, a última etapa da temporada, nos Emirados Árabes Unidos. Mas já parece fazer falta para alguns colegas do grid. “Eu vou sentir falta dele, com certeza. Nós corremos juntos na F-1 ao longo de 12 anos. Ele é parte da minha jornada aqui na F-1, minha carreira estará sempre ligada a ele, de alguma forma. É um pouco triste a saída dele”, lamenta o espanhol Fernando Alonso.


Aos 35 anos, Vettel não será daqueles pilotos que deixam o grid no auge. Seu último título, o tetra, foi conquistado em 2013. De lá para cá, ele bateu na trave duas vezes. Foi vice em 2017 e 2018, já pilotando pela Ferrari, seu grande sonho. Desde então, deixou a lista de favoritos ao título, principalmente após trocar a equipe italiana pela Aston Martin, sua equipe atual, em 2021. No campeonato deste ano, é apenas o 11º, com chances de, no máximo, terminar o ano em 10º.


Mas, se está longe de brilhar nas pistas, Vettel se tornou unanimidade nos paddocks do circuito pelos gestos importantes e pela amizade que construiu com os rivais. Um dos que mais o elogia é o australiano Daniel Ricciardo, ex-companheiro de time na Red Bull em 2014.


“Ele me ligou algumas vezes neste ano apenas como amigo. E mostrou cuidado e preocupação, como um verdadeiro amigo faz”, diz Ricciardo, que passou momentos difíceis na temporada – a McLaren decidiu antecipar o fim do contrato. “Ter amigos assim é muito importante. Ao mesmo tempo, não é tão comum no grid da F-1 Nós nos relacionamos como pilotos e construímos amizades, mas ter este nível de amizade, e alguns gestos positivos que fez para me ajudar neste ano, foi um pouco inesperado. Mas super legal!”


Ao mesmo tempo em que construía amizades em meio à rotina de treinos e corridas, Vettel passou a conquistar a simpatia de fãs por se posicionar publicamente diante de temas que, inicialmente, não eram compartilhados por todos os pilotos e dirigentes da F-1. Muitas vezes até bateu de frente com governos e seus preconceitos.


No GP da Hungria do ano passado, eles vestiu uma camiseta com as cores do arco-íris e a expressão em inglês “same love” (algo como “o mesmo amor”) durante a execução do hino do país, governado atualmente pelo primeiro-ministro Viktor Orbán, conhecido pelas declarações xenofóbicas e contra a comunidade LGBT+. Vettel ainda usou uma máscara da mesma cor antes da largada.


No mesmo ano, o alemão mandou um recado direto ao regime machista da Arábia Saudita às vésperas do GP a ser disputado em Jeddah. Ele organizou uma corrida de kart apenas com pilotos mulheres na cidade saudita, onde elas enfrentam diversas restrições. Lá elas ganharam a permissão de dirigir somente nos últimos anos, após certa pressão internacional. Algumas que pilotaram com Vettel ainda não tinham a carteira de motorista.


“Obviamente, houve muita conversa e pensamentos sobre vir correr aqui, pela primeira vez na Arábia Saudita. Há muitas questões que precisam ser feitas e eu me fiz algumas delas, pensando no que eu poderia fazer”, comentou na época o alemão, que até subiu uma hashtag especial nas redes sociais: #raceforwomen.


Ao lado de Lewis Hamilton, Vettel se tornou o porta-voz de diversas causas sociais, raciais e ambientais nos últimos anos. O alemão foi um dos primeiros a adotar o protesto de se ajoelhar na pista antes da largada, seguindo o movimento do “black lives matter.”


“Entre todos os pilotos, Sebastian foi o primeiro a se ajoelhar ao meu lado. Foi o primeiro que vi lutar pelas coisas que acredita. Não vi nenhum outro piloto fazendo o que fizemos”, diz o heptacampeão mundial, que também valoriza a amizade com o alemão. “Vamos continuar competitivos um com o outro quando estivermos mais velhos. Fico feliz de ter conhecido sua família e certamente sempre manteremos contato.”


E, assim como Ricciardo, o inglês reflete sobre chances remotas de se fazer amigos verdadeiros no ambiente da F-1. “Tem sido uma relação inesperada de amizade. É muito difícil (ter amizades) quando você é muito competitivo, batalha pelos pequenos espaços e é apaixonado por se dedicar a sua vida pelas corridas e campeonatos. Nós fizemos corridas incríveis juntos. Campeonatos disputados ao longo dos anos. É muito bonito ver alguém se despedir com tamanho crescimento ao longo de sua jornada.”


Brasil e meio ambiente

Também no ano passado Vettel aproveitou um GP para defender causas em que acredita. E foi no Brasil, na corrida de 2021. Dias antes da prova, ele foi até o interior de São Paulo para bater um papo com Pedro Paulo Diniz, piloto brasileiro que competiu na F-1 na década de 90.


Mas, surpreendentemente, a conversa não teve qualquer relação com pneus ou asfalto. Vettel queria conhecer melhor o estilo de agricultura que Diniz implementava na Fazenda da Toca Orgânicos, localizada na cidade de Itirapina, a 200 km da capital. O local é conhecido pelo modelo de sustentabilidade na produção de orgânicos em larga escala.


“Acho que é uma maneira muito empolgante de fazer agricultura. Fiquei feliz em dar uma olhada na fazenda e aprender sobre isso: conhecer seu caminho, o que ele passou, e saber mais sobre a ideia e objetivo”, disse Vettel em entrevista ao site Motorsport, na época. “Acho que é algo que tem uma visão de futuro, algo que o mundo precisa. É um trabalho muito honroso fornecer ao mundo e fornecer alimentos às pessoas, fazendo isso de uma forma responsável e regenerativa. Eu acho que é uma ótima abordagem.”


Carregando bandeiras sociais e ambientais, Vettel vai deixar a F-1 no domingo, dia 20, com um dos maiores currículos da história da categoria. Ele é o terceiro com o maior número de vitórias do campeonato, com 53, atrás apenas de Hamilton (91) e Schumacher (91). São ainda 57 poles position (quarto maior no quesito) e 122 pódios (terceiro no geral). O GP de Abu Dabi será o seu 299º na F-1.


O alemão ainda não sabe como será o seu futuro. No Autódromo de Interlagos, durante o GP de São Paulo, no fim de semana passado, o piloto disse que trabalhava com diversas ideias, mas não tem nada acertado com campeonatos ou equipes de outras categorias de automobilismo.


Metrópoles


Compartilhar

Facebook
Twitter
WhatsApp
LinkedIn
cedimp otimizado ezgif.com gif to avif converter

Últimas Notícias