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Mulheres de baixa escolaridade são mais acometidas pelo câncer de colo do útero

Foto: divulgação

Mulheres pardas, mulheres com baixa escolaridade e mulheres da região Norte são as mais acometidas pelo câncer do colo do útero. As informações estão na info.oncollect, publicação inédita da Fundação do Câncer, divulgada na última sexta-feira. O boletim traz dados e busca chamar atenção para a incidência da doença que, segundo especialistas, pode ser evitada e até mesmo erradicada do Brasil com vacina e exames preventivos.


Os dois tipos mais frequentes de tumor maligno de colo de útero estão associados à infecção pelo HPV. São eles: os carcinomas epidermoides (80% dos casos) e os adenocarcinomas (20% dos casos). Especialistas explicam que o câncer do colo do útero é uma doença que pode ser enfrentada por meio da prevenção e completamente curada no estágio inicial. A doença costuma ocorrer na faixa de 30 a 39 anos e se torna mais comum entre 50 e 60 anos.


De acordo com o levantamento da Fundação do Câncer, a doença do colo do útero, em sua forma mais agressiva, acomete 49 a cada 100 mil mulheres no Brasil. Considerada apenas a Região Norte, a incidência é maior, 79 a cada 100 mil mulheres, a maior taxa do país. A Região Sudeste registra a menor incidência: 36 a cada 100 mil mulheres. Na região norte muitas pessoas vivem em áreas rurais e ribeirinhas, em um grande território, e isso dificulta o acesso das mulheres aos serviços de saúde.


Na Região Norte, a taxa é mais do que o dobro da encontrada no Sudeste (35,40). De forma geral, a região Norte apresenta as maiores taxas de incidência em todas as faixas etárias, exceto entre as mulheres de 25 a 34 anos, onde as maiores taxas foram observadas nas regiões Sul e Centro-Oeste, com 14 casos novos diagnosticados a cada 100 mil mulheres.


Na avaliação da médica oncologista do Hospital Sírio Libanês, Tatiana Strava, o Brasil tem melhorado na prevenção contra o câncer do colo do útero. Ela explica que as alterações das células que dão origem ao câncer do colo do útero são facilmente descobertas no exame preventivo. Embora a incidência do câncer do colo do útero esteja diminuindo, Strava ressalta que o câncer do colo do útero ainda é o quarto mais comum em mulheres.


“Não é novidade que o câncer do colo do útero tem maior incidência em países em desenvolvimento. No Brasil, há alguns anos, o câncer do colo do útero era o de maior incidência, antes mesmo do câncer de mama. Desde a análise de 2019 para agora — e dos dados do triênio de 2023 para 2025 —, a gente vê que a estimativa do câncer do colo do útero, segundo o Inca, está em 3° lugar”, observa a especialista. “O que mostra que estamos melhorando na prevenção”, conclui.


“No levantamento, vemos que, na Região Norte, o câncer do colo do útero continua em primeiro lugar, ou seja, ainda é bem frequente nessa região, se compararmos com o Sudeste. Essa diferença pode ser atribuída principalmente à falta de acesso médico, e isso impacta muito nesta enfermidade, que pode ser prevenida mediante exame.”


O levantamento mostrou que, independentemente da faixa etária, a Região Norte apresenta as maiores taxas de mortalidade para o câncer do colo do útero; e a Região Sudeste, as menores.


As informações do boletim apontam que tanto a neoplasia in situ (lesão precursora ao câncer invasivo) quanto a maligna acometem mais mulheres negras (pretas e pardas) nas regiões do Brasil, chegando a 62,7% para neoplasia in situ e 64,3% para neoplasia maligna no país. Entretanto, a exceção é encontrada na região Sul, onde há o maior percentual de mulheres brancas com a doença, tanto para neoplasia in situ (89,3%) quanto para neoplasia maligna (87,6%).


Papanicolau

O preventivo (exame do papanicolau) é fundamental para se evitar o câncer do colo do útero. Strava explica que o exame analisa as células do colo do útero para ver se há alterações causadas pelo HPV que podem se transformar em câncer.


“A partir do início da atividade sexual, as mulheres devem fazer o exame pelo menos uma vez ao ano. É recomendado que, à medida que a pessoa comece a ter uma vida sexual, faça a prevenção uma vez ao ano. O exame consegue capturar células atípicas antes mesmo de ser um câncer. Muitas pacientes acabam não fazendo o papanicolau e acabam fazendo só quando a doença já está avançada. Então, elas só sabem quando estão com sangramento, dor para urinar e dor na região pélvica”, descreve a especialista do Sírio Libanês.


Além do exame de prevenção, existe a vacina contra o HPV. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a imunização contra o vírus. No Brasil meninas e meninos podem ser vacinados gratuitamente no Sistema único de Saúde (Sus). A população-alvo para a vacinação são as meninas de 9 a 14 anos antes de se tornarem sexualmente ativas. Atualmente, a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas/OMS) recomenda que esse grupo-alvo receba duas doses do medicamento contra o HPV com pelo menos seis meses entre as doses.


Três vacinas seguras e eficazes são pré-qualificadas pela OMS. Duas delas são usadas pela maioria dos países da região para proteger contra as cepas mais prejudiciais do HPV, fornecendo imunidade forte e de longo prazo. Em nível populacional, alta cobertura vacinal em meninas (acima de 80%) reduz significativamente o risco de infecção pelo HPV em meninos.


Limitação

Na avaliação do médico Marco Murilo Buso, do Centro de Câncer de Brasília, o Brasil enfrenta dois grandes problemas para avançar no controle da doença: o acesso limitado aos serviços de saúde em regiões carentes e a falta de informações de fácil compreensão sobre a doença.


“A gente tem um problema misto de falta de acesso ao exame e a falta de informações. A maior parte dessa população carente, muita das vezes, não consegue ter acesso ao auxílio médico para fazer a prevenção. O câncer do colo do útero é um problema de saúde pública. Sem dúvida, as regiões menos assistidas são as mais atingidas porque as pessoas têm menos ou nenhum acesso aos serviços de saúde”, ressalta.


“A educação da população é essencial. Eu atendo pacientes que não fizeram o exame de prevenção por falta de informação. A gente tem o exame no SUS. O que falta são as informações. Precisamos melhorar a educação da nossa sociedade. Informar mais é o primeiro passo. O segundo é disponibilizar, em unidades básicas de saúde, médicos e enfermeiras que possam coletar o papanicolau e informar os pais sobre a disponibilidade da vacina contra o HPV”, explicou Tatiana Strava.


Correio Braziliense


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