O motorista de 28 anos que foi preso após atropelar um grupo em um bloqueio bolsonarista na Rodovia Washington Luís, em Mirassol (SP), no dia 2 de novembro, foi indiciado por 18 tentativas de homicídio.
Em entrevista ao g1, o delegado Marcelo Rogério Barozzi disse que colheu depoimentos de testemunhas e analisou vídeos para finalizar o inquérito. O condutor do veículo alegou em depoimento que acelerou após ser agredido pelos participantes do ato.
“Minha tese da época do flagrante ficou mais robustecida. Os vídeos anexados ao processo comprovaram que o motorista não parou. Ele diminuiu a velocidade e saiu cantando pneu. O vidro do carro do motorista estava fechado”, afirmou.
O delegado não divulgou ao g1 os vídeos que alegou ter usado durante a investigação. A advogada Priscila Furlaneto afirmou que impetrou habeas corpus para revogar a prisão preventiva do motorista.
Várias pessoas gravavam vídeos do ato quando um carro de cor prata acelerou e atropelou o grupo que estava no meio da pista. Vídeos que circulam pelas redes sociais mostram as vítimas caídas no asfalto.
Ao todo, 18 pessoas foram atingidas pelo veículo. Duas meninas, de 10 e 11 anos, e três policiais militares estão entre as vítimas.
Segundo o capitão da Polícia Militar Rodoviária de Rio Preto, Maurício Noé Cavalari, uma negociação para desinterditar a rodovia era realizada quando o atropelamento aconteceu.
“Alguns manifestantes chegaram a deitar na rodovia. Não houve uso de força, mas um condutor arrancou bruscamente sobre as pessoas. Ele só parou quando os policiais fizeram a abordagem”, disse.
Na ocasião, várias ambulâncias foram acionadas e levaram os feridos para hospitais e unidades de saúde da região.
“Fizemos isso para não sobrecarregar os hospitais. Retiramos o condutor e a passageira do carro para levá-los à delegacia em segurança. Também conseguimos conversar com os manifestantes e liberar a rodovia por completo”, afirmou.
Das pessoas atingidas, sete foram encaminhadas à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Mirassol, onde foram medicadas e liberadas. Outras quatro foram levadas a hospitais de Rio Preto. Não há informação sobre as demais. Ninguém morreu.
Reação
De acordo com o coronel do Comando de Policiamento do Interior 5 (CPI-5), Carlos Enrique Forner, bolsonaristas tentaram agredir o motorista que atropelou o grupo, mas foram impedidos por equipes da corporação. Muitas pessoas cercaram o carro depois do atropelamento e danificaram o veículo.
“Os manifestantes estavam na pista, fazendo uma manifestação pacífica, quando um dos motoristas investiu. A própria polícia fez a abordagem. Tínhamos a preocupação porque os manifestantes queriam linchar o motorista”, afirmou.
O motorista do carro que atropelou o grupo foi preso em flagrante por tentativa de homicídio, levado à delegacia de Mirassol e encaminhado à Divisão Especializada de Investigações Criminais (DEIC) de Rio Preto. Ele teve a prisão convertida em preventiva no dia 3 de novembro.
Durante audiência de custódia, o juiz Lincoln Augusto Casconi argumentou que a decisão era necessária para apuração da real motivação da conduta do jovem.
“Tratou-se de fato de repercussão nacional, pois o ilícito ocorreu em âmbito de manifestação política, o qual por essa razão deverá ainda ser objeto de melhor apuração dos fatos, inclusive para a apuração da real motivação da conduta do autuado, assim como das vítimas que se encontravam no local, pois em tese, estas últimas também participavam de um movimento por ora reconhecido como ilegal, por haver determinação do Supremo Tribunal Federal, para o desbloqueio de vias públicas”, escreveu.
O magistrado também determinou a expedição de ofício à Corregedoria da Polícia Militar, pois o motorista relatou na audiência de custódia que foi agredido por um integrante da corporação.
“Ante a alegação do autuado em ter sido agredido por um policial militar, já sob a custódia da Polícia Militar, nas dependências da Delegacia de Polícia de Mirassol, determino a expedição de ofício à Corregedoria da Polícia Militar, determinando que seja instaurado procedimento para apuração de eventual abuso ou maus-tratos pelo referido policial, devendo ser informado ao Juiz Criminal Natural, no prazo de 30 dias, o resultado da apuração”, escreveu.
O g1 questionou a Corregedoria da Polícia Militar sobre a apuração, mas não tinha recebido resposta até a publicação desta reportagem.
Por g1 Rio Preto e Araçatuba