No dia 10 de agosto de 2021, foi submetida ao plenário da Câmara dos Deputados a emenda constitucional que previa a instituição do voto impresso nas eleições que ocorreram neste ano. Uma obsessão dos bolsonaristas, esse modelo de votação até venceu no placar (229 a 218), mas não levou.
Para ser aprovada, uma alteração na Constituição, como era o caso, precisaria de 308 votos, três quintos dos 513 deputados.
Levantamento feito pelo Blog do Noblat mostra que, desses 229 pró-voto impresso, 129 deputados foram eleitos em outubro deste ano. Dos bem-sucedidos, 126 se reelegeram para a Câmara, e outros três, para outros cargos (dois senadores e uma deputada distrital).
Ou seja, essas dezenas de bolsonaristas não acreditaram na urna, mas se beneficiaram do sistema que colocaram em dúvida. Alguns desses parlamentares ouvidos pelo blog argumentaram que não há qualquer incoerência e que se posicionaram pelo voto impresso como “mais uma segurança” no sistema.
A emenda constitucional apreciada naquele dia, de autoria da deputada Bia Kicis (PL-DF), uma das reeleitas e como a mais votada do Distrito Federal, previa a instalação de uma máquina que imprimiria o voto do eleitor, ao lado da urna.
A bancada do PL, de Jair Bolsonaro, foi disparada a que mais reelegeu deputados favoráveis ao voto impresso, com 42 eleitos. Doze parlamentares do partido que votaram “sim” naquela sessão não se reelegeram.
Outros partidos que sustentaram o governo Bolsonaro nesses quatro anos votaram a favor: PSD (16 votos), Republicanos (15 votos), União Brasil (12 votos) e PP (11 votos). No MDB, 13 parlamentares apoiaram a proposta do voto impresso.
Ao todo, parlamentares de 16 partidos votaram a favor dessa PEC, incluídos dois da oposição, como PSB (2 deputados) e PDT (1 deputado).
“Não sou contra a urna”
Procurados pelo blog, alguns deputados reeleitos que votaram a favor do voto impresso deram suas explicações. Aluisio Mendes (PL-MA) afirmou que sempre acreditou na urna eletrônica e entende que o voto impresso seria apenas uma garantia a mais.
“Nunca falei mal da urna eletrônica. Não sou contra nem acho que houve fraude nas eleições. Mas entendo que, se você pode ter um dispositivo que dê uma segurança a mais, por que não tê-lo?”, disse Mendes.
Também reeleito, Coronel Chrisóstomo (PL-RO) disse que votou a favor do voto impresso por se tratar de um “clamor da sociedade”.
“Veja bem: não votei por mim e por interesse próprio. É um tema que gera discussão até hoje. Votei de acordo com o interesse da sociedade. Há um clamor nesse sentido”, afirmou o parlamentar.
Incomodado em falar sobre o assunto, o Capitão Derrite (PL-SP), também reeleito, afirmou se tratar de “uma segurança a mais no sistema”.
O presidente daquela sessão, Marcelo Ramos (PSD-AM), classificou o voto impresso como absurdo, comemorou o resultado e afirmou ser uma vitória da democracia.
“Parabéns a todos parlamentares que votaram ‘não’ a esse projeto absurdo, que tentava diminuir a capacidade do povo brasileiro de escolher democraticamente os seus candidatos. Foi uma resposta à altura da Câmara, uma defesa da democracia, da transparência e das urnas eletrônicas, que são exemplo para o mundo”, disse Ramos, logo após proclamar o resultado.
O deputado Evair de Melo (PP-ES), vice-líder do governo e que orientou o voto “sim” em nome de Bolsonaro, disse, no dia, que a impressão do voto iria “dirimir toda e qualquer dúvida sobre o processo eleitoral”. Melo foi reeleito na urna eletrônica, com a terceira maior votação do estado, com cerca de 75 mil votos.
Reeleita neste ano com a maior votação para a Câmara em Santa Catarina, Carol de Toni, do PL, disse, durante a sessão em 2021, que voto que não é auditável é fraude. Na urna eletrônica, ela recebeu 227.632 votos.
“Voto que não é auditável e apuração que não é pública não vão ser fraude. Já são uma fraude na República”, afirmou.