Carly McTavish quase desmaiou de nervoso ao ouvir seu filho de 5 anos imitando gemidos sexuais, típicos de filmes pornográficos. O menino e o irmão de 8 anos estavam na área externa da casa da família, na Austrália, brincando com um amigo, e ela estava por perto. Então, a mãe mal pode acreditar no que ouviu. O caçula começou a fazer sons, imitando gemidos femininos.
“Então eu ouvi. O som de um orgasmo em tom agudo e dramatizado crescendo que perturbadoramente soava como se estivesse vindo do meu filho mais novo”, contou ela, ao site MammaMia. O irmão mais velho e o amigo que estava junto com eles começaram a rir.
Ela confessou que sentiu vontade de rastejar para dentro de um buraco, mas precisou enfrentar a situação. O pai dos meninos também ouviu. Então, foi até eles e perguntou o que era aquele “som engraçado” que ele estava fazendo. Os garotos tentaram segurar o riso e o amigo do filho admitiu que o barulho significava “sexo”.
Carly, então, tentando manter a calma, perguntou o que os meninos entendiam pela palavra “sexo”. O filho mais velho respondeu: ” é quando você tem uma namorada”. Então, a mãe percebeu que teria de antecipar em alguns anos a conversa sobre o tema com seus pequenos.
Segundo Carly, nenhum dos dois filhos têm tablets e a família tem regras e configurações firmes de segurança em casa, com dispositivos eletrônicos. Ela ficou se perguntando como eles teriam sido expostos a conteúdos adultos. Então, mais tarde, perguntou ao caçula onde ele tinha escutado aqueles barulhos que estava imitando. O menino disse que tinha ouvido os “garotos grandes” fazendo esse som na fila do ônibus da escola. Depois de se certificar de que aquele tinha sido o único contato do filho com aqueles sons – e que os meninos mais velhos não chegaram a mostrar nada no celular para ele – a mãe ficou aliviada.
No entanto, achou melhor aproveitar a deixa para conversar com os dois meninos sobre sexo. “Como pais, compartilhamos de maneira aberta e vulnerável nossos próprios valores sobre sexo, prazer, sexualidade e consentimento com nossos filhos. Depois, recebemos uma série de perguntas hilárias e conversas sinceras”, disse ela. “Talvez a parte mais valiosa dessa experiência como pais tenha sido o fato de esses diálogos que estávamos tão hesitantes em ter agora podem ser regularmente revisitados e construídos ao longo da jornada dos meninos, enquanto se tornam adolescentes e, depois, jovens adultos”, afirmou.
Quando falar sobre sexo com as crianças?
Nos primeiros anos de vida, principalmente, as crianças aprendem por meio da observação. Ou seja, ensinamos mesmo quando permanecemos em silêncio. Como explica o psicólogo e professor da Universidade Harvard John T. Chirban no livro recém-lançado How to Talk with Your Kids about Sex (“Como falar sobre sexo com seus filhos”, em tradução livre, Editora Thomas Nelson), ainda que não percebam, os adultos enviam mensagens sobre seus medos e crenças a respeito da sexualidade o tempo todo. Por exemplo, pela maneira como lidam com a própria nudez ou evitam a palavra vagina. “Os pais precisam entender o processo de desenvolvimento sexual de seus filhos para guiá-los”, afirmou o professor em entrevista à CRESCER.
Na prática, significa estar atento às necessidades e dificuldades deles, criar um vínculo capaz de oferecer suporte honesto e respostas sólidas. “Isso empodera as crianças, faz com que elas saibam o que querem ou não querem e comuniquem de forma eficiente. Incerteza gera vulnerabilidade.”
Quando os pais se furtam dessa responsabilidade, permitem que outras fontes (talvez menos idôneas) se tornem instrutores de seus filhos. Despreparados, eles correm muito mais riscos – violência sexual, gravidez não planejada e infecções sexualmente transmissíveis são apenas alguns. Melhor garantir em casa que tenham informação e autoconfiança suficientes para tomar decisões que irão mantê-los saudáveis, seguros e felizes, não? “Precisamos superar o mito de que a educação sexual pode erotizar ou incentivar a iniciação sexual precoce”, afirma a pedagoga Caroline Arcari, autora do premiado livro Pipo e Fifi: Prevenção de Violência Sexual na Infância, Editora Caqui. Relatórios da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Organização das Nações Unidas (ONU) apontam que programas de qualidade ajudam os jovens a perder a virgindade mais tarde, reduzir o número de parceiros e usar mais camisinha. A ONU, por exemplo, disponibiliza à Unesco e outras instituições uma espécie de cartilha com orientações para a implementação de educação sexual entre 5 e 18 anos.
Revista Crescer