‘As pessoas ficam esperando a voz e Milton chega tocando sua sanfoninha, remetendo ao início, já que ele tocava quando era criança”
Wilson Lopes, diretor musical da turnê
A ficha não caiu. Desde a última quarta-feira (9/11) em Belo Horizonte, Milton Nascimento sobe neste domingo (13/11) em palco montado no Mineirão para o último show de sua vida. “Mas ele ainda não assimilou que é o último, não me parece que está indo para um dia de despedida. Nunca o vi tão bem, feliz e animado”, comenta seu filho e empresário, Augusto Kesrouani Nascimento.
A apresentação para 55 mil pessoas no estádio da Pampulha, com ingressos esgotados, é a 37ª de uma turnê iniciada em junho que, ao longo dos meses, foi crescendo a cada data. E a cada nova cidade. Quando anunciada, “A última sessão de música” passaria somente pelo Sudeste, Europa e Estados Unidos. Termina com shows extras no Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, Porto Alegre, Salvador e Recife. Tudo esgotado.
“Quando abri a agenda, com tudo esgotando e a gente marcando data extra, achei que tinha passado da conta. Me senti culpado”, admite Augusto. “Mas quando vi, na Europa, ele reclamando de que tinha acabado, vi que tinha dado tudo certo.”
A temporada é de despedidas e reencontros. Nos shows, muitos amigos subiram aos palcos. Antigos, como a cantora Simone, que participou de vários no Brasil; o argentino Fito Paez e o americano Herbie Hancock (o primeiro em Nova York; o segundo em Los Angeles). E novos, como Liniker e Seu Jorge, que estiveram com ele em apresentações em São Paulo.
“Quando abri a agenda, com tudo esgotando e a gente marcando data extra, achei que tinha passado da conta. Me senti culpado. Mas quando vi, na Europa, ele reclamando de que tinha acabado, vi que tinha dado tudo certo”
Augusto Nascimento, filho de Milton Nascimento
Aqui não será diferente. Os convidados são mantidos em segredo, mas algumas canções incluídas somente no repertório daqui sugerem quem poderá acompanhá-lo: “O trem azul” (Lô Borges e Ronaldo Bastos) e “Um girassol da cor do seu cabelo” (Lô e Márcio Borges) serão levadas ao palco na noite deste domingo.
Haverá também homenagem a Gal Costa. “Ele chorou bastante, a morte dela bateu bastante nele, pois, das grandes estrelas da música, era uma das mais próximas”, comenta Augusto.
A última turnê de Gal, “As várias pontas de uma estrela”, foi criada a partir da obra de Milton – a canção-título, de quatro décadas atrás, é uma parceria dele com Caetano Veloso.
VEJA Milton e Gal cantando “Paula e Bebeto”:
A cantora baiana, ao longo de sua carreira, gravou uma dezena de canções dele, clássicos como “Paula e Bebeto” (Milton e Caetano), “Canção da América” (Milton e Fernando Brant) e “Fé cega, faca amolada” (Milton e Ronaldo Bastos), todas no repertório oficial da turnê, vale dizer.
Ao vivo no Globoplay
Milton vai deixar os palcos, mas não a música, é o que afirmou desde o anúncio da aposentadoria de shows. E “A última sessão de música” terá alguns desdobramentos. Além da transmissão ao vivo pelo Globoplay (acessível também a não assinantes da plataforma), a temporada será tema de um documentário.
A diretora Flávia Moraes está acompanhando toda a turnê, captando imagens para um documentário que será lançado, possivelmente, em 2023. O show de Londres também foi gravado, assim como será o do Mineirão, que poderão gerar futuros DVDs.
À exceção das participações e das canções extras, o show daqui será basicamente o mesmo de toda a temporada, incluindo cenário, d’Os Gêmeos, que virão a BH para a apresentação, e o figurino de Ronaldo Fraga.
A seu lado, Milton terá a banda comandada pelo violonista e guitarrista Wilson Lopes, que o acompanha há quase três décadas: Lincoln Cheib (bateria), Ademir Fox (piano), Widor Santiago (metais), Zé Ibarra (vocal e violão), Ronaldo Silva (percussão), Alexandre Primo Ito (baixo acústico) e Fred Heliodoro (vocal e baixo elétrico). Fred é a novidade nesta temporada, que tem abertura de Ibarra.
Diretor musical e arranjador do show, Lopes montou o repertório da turnê com Augusto. A ideia era repassar, em pouco mais de duas horas, toda a trajetória de Milton, que chegou aos 80 anos em 26 de outubro passado. A cada nova apresentação, ele canta mais, comenta Lopes, que uniu várias canções em medley e encurtou algumas para que a seleção fosse o mais abrangente possível.
Paul Simon foi ver Milton Nascimento cantar em Nova York(foto: Instagram/reprodução)
Percussão e sanfoninha
O show é aberto com um momento incidental de “Tambores de Minas” (Milton e Márcio Borges). “A ideia é de que a percussão abra o show”, conta Lopes. “As pessoas ficam esperando a voz e Milton chega tocando sua sanfoninha, remetendo ao início, já que ele tocava quando era criança”, acrescenta. O início instrumental é emendado com “Ponta de areia” (Milton e Brant), a primeira que ele canta no show.
Na sequência, aparece outro medley, com duas músicas do álbum de estreia, “Travessia” (1967): um trecho da instrumental “Catavento” anuncia “Canção do sal” (as duas de Milton). “Esta foi a primeira música dele gravada por uma artista de peso”, comenta Lopes, referindo-se a Elis Regina. Outra canção gravada por ela, “Morro velho” (também só de Milton), é executada na íntegra, dando continuidade a um texto em que ele fala da sua comadre.
Outro clássico dos primeiros anos, “Outubro” (Milton e Brant), é apresentada na íntegra. Em seguida vem “Vera Cruz” (Milton e Márcio Borges) emendada com “Pai grande” (Milton). Há uma fala sobre o Clube da Esquina que apresenta uma série de hits: “Para Lennon e McCartney” (Lô, Márcio Borges e Brant), “Cais” (Milton e Bastos), “Tudo o que você podia ser” (Lô e Márcio), “San Vicente” (Milton e Brant) e “Clube da Esquina 2” (Milton, Lô e Márcio).
Compasso fora do comum
“Lília”, homenagem que Milton fez à mãe, é outra instrumental. “Foi importante colocá-la para mostrar a diversidade da música dele, que não se enquadra em nada. É música do mundo, feita em compasso 5X4, que é totalmente fora do comum”, comenta Lopes.
Mais um hit depois, “Nada será como antes” (Milton e Bastos), e outra instrumental, “A última sessão de música” (Milton). “É também um ponto importante, pois dá nome à turnê e aqui ela é interpretada só com o piano (por Ademir Fox), com uma força muito grande.”
As já citadas “Fé cega, faca amolada” e “Paula e Bebeto” são apresentadas juntas. Depois, mais uma homenagem, desta vez a Mercedes Sosa, que é lembrada por meio de “Volver a los 17” (os dois gravaram a canção, musicada do poema de Violeta Parra, no álbum “Geraes”, de 1976).
Da América Latina o show parte para uma viagem pelo interior de Minas, com a execução de “Cálix Bento/Peixinhos do mar/Cuitelinho” (as duas primeiras adaptações de Tavinho Moura para canções do repertório popular; e a terceira de Paulo Vanzolini e Antônio Carlos Xandó).
Já caminhando para sua parte final, o show reúne outros hits: “Canção da América” (Milton e Brant), “Caçador de mim” (Sérgio Magrão e Luiz Carlos Sá) e “Nos bailes da vida” (Milton e Brant). “Tema de Tostão”, com um trecho incidental, é executada com “Fazenda” (Nelson Ângelo). “Cio da terra” (Milton e Chico Buarque) e “Maria, Maria” (Milton e Brant) encerram o show.
O bis terá outros clássicos: “Coração de estudante” (Milton e Wagner Tiso), “Encontros e despedidas” e “Travessia” (ambas dele e Brant). Canções que sintetizam não só a trajetória de Milton, mas que também calam fundo em cada um de nós.
“A ÚLTIMA SESSÃO DE MÚSICA”
Show de Milton Nascimento. Neste domingo (13/11), a partir das 19h, no Mineirão, Avenida Antônio Abrahão Caram, 1.001, Pampulha. Abertura dos portões: 15h. Ingressos esgotados. Transmissão ao vivo pelo Globoplay.