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Criança atravessa ponte sozinha de bicicleta no AC, é deixada em abrigo e mãe não consegue retirá-la: ‘não foi abandonado’

A autônoma Nataniel Lima da Silva, de 24 anos, vive momentos de angústia desde que o filho Artur Miguel Lima da Silva, de 4 anos, saiu de casa nessa sexta-feira (18) para brincar de bicicleta, desapareceu e foi levado para o Educandário Santa Margarida, em Rio Branco. É que para retirar a criança do abrigo, ela precisa de uma ordem judicial.


A família mora no bairro Cidade Nova, no Segundo Distrito da capital acreana. Ao acordar pela manhã, a mãe conta que a porta e o portão da casa estavam abertos e o menino não estava. Inicialmente, uma vizinha disse que ele estava na casa dela brincando, mas depois o menino sumiu e foi achado horas depois já do outro lado do rio, próximo ao Fórum Barão do Rio Branco, no Centro.


Para chegar ao local onde foi achado, ele precisou percorrer cerca de dois quilômetros e atravessar a ponte. Nataniele foi informada que um homem encontrou Artur perdido, ligou para a polícia, que levou a criança para o Conselho Tutelar. De lá, ele foi para o Educandário.


Enquanto a criança era levada do Conselho Tutelar para o abrigo, a mãe diz que estava a procura pelas ruas do bairro. Entre lágrimas, ela diz que não sabia mais onde procurar e que nunca imaginou que ele teria atravessado a ponte. Nataniele acredita que Artur se perdeu e não conseguiu mais voltar para casa.


“Nunca na vida eu ia imaginar isso. Acho que ele foi e não soube voltar. Eu costumo levar ele até a Gameleira, a pracinha da Cidade Nova, mas passando dali acho que ele não soube voltar. Quando vi que ele não ia voltar, postei nas redes sociais e liguei para a polícia. Ele não é acostumado a fazer isso, fica brincando em frente de casa, mas não sai dali. Ele estava no conselho tutelar perto de casa, eu nunca imaginei que ele estivesse lá. Passei várias vezes lá pela frente, se tivesse pelo menos visto a bicicleta dele lá eu tinha parado e entrado, mas não vi. Não procuraram a família, tinham que ter procurado para depois mandar para o Educandário”, disse a mãe.


O desespero da mãe é que ela não conseguiu ver o filho desde que ele saiu de casa e foi informada que somente na segunda-feira (21) é que deve ter uma resposta por parte da Justiça.


“Ontem [sexta, 18] mesmo fui pra lá para tentar pegar ele, mas dizem que não podem fazer nada. Fui hoje [sábado, 19] de novo e só dizem que não tem como me ajudar, que depois que vai para lá é um processo grande, que só sai com ofício do juiz. Contei que isso nunca tinha acontecido, que ele fugiu, que a gente não está abandonado ele. Tenho outro filho de 1 ano. Não tenho o que fazer, não me deram esperança de quando ele pode sair, falaram que é um processo grande. Meu filho não está abandonado não. Não pude nem ver ele”, disse a mãe.


Visita domiciliar


O coordenador do Educandário, Eduardo Vieira informou que o caso foi comunicado ao judiciário, mas que falta anexar um relatório de visita domiciliar que só pode ser feita na próxima segunda-feira (21) por um técnico do Educandário. É que esse profissional não trabalha aos finais de semana.


“Nós fizemos todo o comunicado, todo procedimento, mas segunda-feira o técnico do Educandário vai ter que visitar a casa da mãe, fazer o relatório, encaminhar ao juizado, e é com base nisso que eles fazem a liberação. Nós fizemos o comunicado ontem [sexta, 18] ao judiciário no momento do acolhimento. Mas, agora eles ficam aguardando que seja feita a visita domiciliar, que vai ser feita na segunda-feira. Precisa desse relatório para poder tomar a decisão”, informou Vieira.


O Tribunal de Justiça do Acre (TJ-AC) afirmou que tem uma juíza de plantão neste sábado (19), mas que o caso não chegou até ela. A orientação é que seja acionada a Defensoria Pública para entrar com pedido no judiciário.


Conselho tutelar diz que tomou todas as medidas


O conselheiro tutelar que atendeu o caso da criança, Cleib Lubiana de Araújo, afirmou que todas as medidas cabíveis foram tomadas e que Artur foi levado ao Educandário por não ter sido encontrado nenhum parente. Ele disse que o menino só soube falar o primeiro nome e ainda disse que tinha dois anos.


“Não tivemos nenhum outro dado, ou informação sobre os pais devido à criança ser muito pequena. Fui informado pelas pessoas que estavam com a criança que alguém teria tentado encontrar algum parente, mas ninguém sabia. Então, por volta de 14h, nós elaboramos o encaminhamento, que de fato é uma das medidas mais extremadas do acolhimento, isso acontece quando não existe nenhum contato com os pais ou responsáveis, ou família extensa. Levamos a criança para o Educandário por volta das 14h30. E há relatos que 11h essa criança estaria andando de bicicleta nessa parte da cidade. Disseram que mora na Cidade Nova, o que é um outro grande absurdo, não sei como essa criança chegou nesse local, ou atravessou a ponte ou atravessou de catraia”, disse o conselheiro.


Araújo afirmou ainda que se tivesse localizado os pais antes de levar a criança ao abrigo, teria sido feita avaliação das condições dos pais e, certamente, aplicado advertência. Segundo ele, há informação de que não é a primeira vez que o menino é visto naquelas redondezas sozinho e que o caso deve continuar sendo acompanhado de perto pelo Conselho Tutelar.


“A criança estava em outra parte da cidade, isso é inadmissível, teve um erro grave aí quanto aos cuidados por parte dos pais, dos responsáveis envolvidos e isso, certamente, vai ser observado pelo juiz, uma vez que ela retome aí a convivência com a criança. A gente também vai ter que acompanhar isso de perto, acionar os outros órgãos que acharmos necessário também”, concluiu.


Por Iryá Rodrigues, g1 AC — Rio Branco


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