Um grupo cada vez maior de brasileiros que estão em Portugal tem procurado o Consulado do Brasil em Lisboa pedindo ajuda para retornar ao país. Alegam que estão desempregados e sem dinheiro para bancar as passagens de volta. Vários não têm recursos sequer para comer.
Os pedidos de socorro crescem num momento em que o governo de Portugal dá incentivos para que brasileiros migrem para o território luso a fim de procurar emprego. Para isso, foi criado um visto especial, que permite a estrangeiros ficarem até 180 dias em Portugal tentando se encaixar no mercado de trabalho.
Muitos dos brasileiros que estão pedindo ajuda ao consulado viajaram para o país europeu iludidos de que arrumariam emprego logo e teriam condições de se manterem em euro. A realidade, porém, é dura. Portugal sofre com inflação acima de 9% ao ano, os preços dos aluguéis não param de subir e os salários são baixos.
Por isso, é importante que aqueles que se animaram a migrar para Portugal se aproveitando da flexibilização das leis de imigração se organizem muito bem, para não caírem em armadilhas e ficarem em situação difícil como a vivida atualmente por centenas de brasileiros que não se prepararam adequadamente para a mudança de país.
Corrida perigosa
“Estamos muito preocupados com o que pode ocorrer com a nova leva de brasileiros que decidirem se mudar para Portugal achando que vão resolver suas vidas”, diz um funcionário do consulado. “Muitos acreditam que Portugal é o paraíso, mas não é bem assim. O custo de vida está cada vez maior, e os salários estão achatados”, acrescenta.
O governo de Portugal informa que, desde que foram abertas as inscrições para os novos vistos de trabalho, no início de novembro, quase 10 mil brasileiros se inscreveram no site do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP), o primeiro passo da licença para entrar no país europeus dentro das novas condições.
“É muita gente”, ressalta um integrante da embaixada do Brasil em Portugal. Ele lembra que, pelas novas regras, os interessados em procurar empregos em território luso devem provar ter renda para se manter ao longo dos 180 dias — o mínimo é de R$ 11 mil, o correspondente hoje a três salários mínimos portugueses (2.115 euros).
O problema é que esses recursos não são suficientes para todas as despesas. Basta ver o que acontece com os brasileiros que já estão em Portugal. Vários são obrigados a viver em condições sub-humanas, pois não conseguem pagar nem uma vaga em um quarto, têm de dividir camas — um dorme de dia, outro, de noite.
“Não é isso que queremos para os imigrantes brasileiros que vivem em Portugal. O ideal é que, ao se mudarem para o país europeu, tenham o mínimo de condição de vida”, reforça o integrante da embaixada. “Infelizmente, muitos são iludidos e acabam caindo na situação que estamos vendo hoje junto ao consulado”, emenda.
Oficialmente, a comunidade brasileira com autorização para morar em Portugal passa de 250 mil pessoas. Esse número, porém, pode passar dos 300 mil, pois há aqueles que ainda não conseguiram regularizar a situação. Entraram em terras lusitanas como turistas e foram ficando, mesmo em condições precárias.
Blog do Vicente